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Crítica | O Tarô da Morte

Tarô, astrologia e terror ruim.

por Luiz Santiago
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É muito conhecido o uso do tarô no cinema através de seu aspecto divinatório, majoritariamente em contextos ruins… especialmente nos longas de terror. Nesses casos, as lâminas, os arquétipos e as tiragens do oráculo ganham uma caraterística exageradamente sombria e fatalista, o que até pode ser algo bom para um roteiro, se o drama em torno desse uso amedrontador fizer sentido na unidade da obra — o que não é o caso do presente filme de Spenser Cohen e Anna Halberg, lançado em 2024. De forma inesperada, a história começa num tom divertido, abraçando desde cedo os bons clichês do gênero do qual faz parte. Evidente que isso não incomoda, porque tal configuração guia o espectador para a parte que realmente interessa na fita, que é quando a primeira leitura tarológica é realizada e a premissa da obra ganha, de fato, espaço para crescer.

Eu não tinha muita certeza sobre qual seria o caminho do texto aqui (escrito pelos próprios diretores, em parceria com Nicholas Adams), e confesso que, embora tenha acertado o tom de tratamento, não esperava a forma criativa como organizaram a aventura. Este modelo utilizado pelos cineastas e pela direção de arte é um dos mais interessantes para se filmar uma história envolvendo tarô, mesmo que possamos questionar ou cortar os desvios inúteis do texto sobre “antiguidade” e até mesmo a superficial relação feita entre tarô e astrologia como um combo místico cheio de poderes especiais. O fato é que essas duas formas de abrir janelas para o futuro a partir de leituras de energias no presente estão mesmo envoltas em grande simbolismo, e acabam tendo um peso que impressiona. O problema é que essa aparente complexidade das duas áreas não é explorada na obra. Ou seja, os roteiristas plantaram uma semente, fizeram citações e leves demonstrações sobre astrologia, mas, para o filme, tornou-se uma seara completamente desnecessária.

A estrela do jogo é o tarô, e é em torno dele que tudo se relaciona. Por isso mesmo, o roteiro bem que poderia se ater unicamente a este oráculo. Se ignorarmos a irritante mania da direção de fotografia em deixar metade do filme tão escuro a ponto de não conseguirmos divisar nada na tela (uma recorrência em obras de terror que me irrita sobremaneira), muito da abordagem visual dos primeiros arquétipos-assassinos (A Alta Sacerdotisa, O Eremita, O Pendurado, O Louco e O Mago) são sensacionais. Tudo bem que os sustos nas mortes estão ultrapassados, mas a manifestação dessas figuras encarnando a maldição dos que tiveram sua mandala astrológica lida no início do filme são visualmente aplaudíveis e, ao menos esteticamente, muito bem exploradas pela direção. Já a manifestação dos dois arquétipos que todo mundo mais esperava (O Diabo e A Morte) acabam sendo os piores, juntamente com o 6 de Espadas, único arcano menor manifesto durante a leitura.

O maior problema de O Tarô da Morte é que o roteiro se autodestrói ao salvar um determinado personagem de seu destino fixado. A impressão que o espectador tem é que perdeu tempo assistindo à obra, já que o encaminhamento dramático burlou as próprias regras numa ação fora da tela e que tem uma péssima e vergonhosa tentativa de explicação ao final. O pouco que ganha no aspecto visual, o filme perde na maneira como conduz o entrelaçamento das mortes, a entrada de uma ocultista misteriosa que acaba sendo bucha de canhão (a morte mais patética da fita) e o seu desfecho, que consegue fazer descer ainda mais a já baixa qualidade do projeto. Para matar o tempo (se você tiver bastante, de sobra) e para ver mais um tratamento de terror para o tarô no cinema, talvez o filme valha a pena; mas saiba que a principal coisa que você vai levar da sessão é a prova de como uma dupla de diretores conseguiu piorar um filme que já estava ruim.

O Tarô da Morte (Tarot) — EUA, Sérvia, 2024
Direção: Spenser Cohen, Anna Halberg
Roteiro: Spenser Cohen, Anna Halberg, Nicholas Adams
Elenco: Harriet Slater, Adain Bradley, Jacob Batalon, Avantika, Humberly González, Wolfgang Novogratz, Larsen Thompson, Olwen Fouéré, Suncica Milanovic, Alan Wells, Anna Halberg, Cavin Cornwall, Joss Carter, Lucy Ridley, Felix Leech, James Swanton, Vahidin Prelic, Stanislava Nikolic, Dunja Pavlovic, Visnja Obradovic
Duração: 92 min.

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