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Crítica | The Forty-Niners: Um Prelúdio Para Top 10

Os pilares de uma grande cidade.

por Luiz Santiago
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Após o encerramento de TOP 10, em 2000, Alan Moore esteve constantemente se desviando de pedidos de leitores para que, de alguma forma, desse prosseguimento àquela saga, mesmo que de maneira distanciada ou em outro tempo histórico, Terra e linha do tempo. Em 2003, ele acabou retornando à casa, com a criação da minissérie Smax, em cinco edições; e em 2005, lançou algo mais sério e bojudo, uma graphic novel que abordava os eventos imediatamente após o fim da 2ª Guerra Mundial e que mostrava como a realidade que conhecemos em TOP 10, de fato, começou. Trata-se de um exercício de formação narrativa onde o autor pesca as dicas dadas em uma construção diegeticamente futura e dá contexto a elas, mostrando o que levou os personagens ao status que conhecemos na série original e como ajustes sociais, ideológicos e políticos, num mundo bem diferente, moldaram a Neópolis ultra tecnológica e fartamente povoada de super-heróis e super-vilões.

Esta é, de fato, uma aventura de explicações primárias. Na trama, acompanhamos a ex-nazista Leni e o jovem Jat Lad, que estão procurando emprego e se conhecem num trem que chega a Neópolis. Esta busca, logo descobriremos, é a mesma de todo mundo na cidade, a selva de pedra que está abraçando os recém-saídos do conflito mundial e utilizando-os na construção de uma utopia urbana. O projeto de Neópolis que encontramos já amadurecido em Contra o Crime, mostra-se em seus primeiros meses aqui: prédios sendo erguidos, nomes de edifícios públicos sendo modificados, novas leis heroicas sendo criadas e a população local tendo que lidar com toda uma nova carga de seres, criaturas e personas fantásticas, em vários espectros morais, livrando ou subjugando a cidade diariamente. Vampiros, deuses, robôs, extremistas com ganas de golpe de Estado, ex-militares do front contra os nazistas e até mesmo nazistas com ânsia de retomarem o Reich são empregados pelo governo. O que importa é fazer a cidade funcionar.

A estética de tons pastéis, finalização mais bojuda na arte e coloração com muito degradê dão uma forte impressão vintage a esta one-shot, reforçando a autenticidade dos anos 1940. Gosto particularmente das referências visuais que Gene Ha continuou fazendo em seus desenhos, mostrando personagens como Yellow Kid, Pogo e Little Nemo andando no meio da multidão, e mais um grande número de figuras que podemos aproximar dos heróis conhecidos na primeira grande fase dos quadrinhos e tiras de jornais. A construção dos prédios, a exposição de uma “típica metrópole dos anos quarenta” e as marcas tecnológicas que já fazem Neópolis ser diferente dos cenários da Era de Ouro são um espetáculo à parte.

Temáticas de relações pessoais, demonstrações da nascente camaradagem entre a equipe policial que, futuramente, seria o Distrito 10, e a união de forças muito diferentes para o combate aos crimes cometidos por seres poderosos fazem toda a diferença na narrativa, uma vez que a força policial estabelecida ainda está aprendendo a enfrentar esses inimigos. O autor não demora muito tempo explorando características psicológicas dos protagonistas, mas isso não significa que sejam rasos, muito pelo contrário. É possível entendê-los bem o bastante para sabermos os caminhos que irão tomar e a quem irão se aliar no decorrer do tempo. Aqui em The Forty-Niners, apesar de o texto ser corrido no último capítulo, vemos o princípio de um projeto grandioso, e Alan Moore conseguiu capturar muito bem o espírito de uma época e utilizá-lo para formalizar o prelúdio de uma de suas séries mais divertidas.

The Forty-Niners: Um Prelúdio Para Top 10 (Top 10: The Forty-Niners) — EUA, outubro de 2005
Publicação original:
America’s Best Comics
Tradução: Rogerio Saladino, Leandro Luigi
Roteiro: Alan Moore
Arte: Gene Ha
Arte-final: Gene Ha
Cores: Art Lyon
Letras: Todd Klein
Capa: Gene Ha, Art Lyon
Tradução: Leandro Luigi, Rogério Saladino
Editoria: Scott Dunbier, Kristy Quinn
115 páginas

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