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Crítica | “Oracular Spectacular” – MGMT

Tradicional e moderno.

por Fernando JG
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Ideia de Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser, MGMT nasce de um impulso colegial, pós-universitário, em que o modismo de “banda de garagem” parece enfim ser a saída para que jovens criativos e de pensamentos inquietos criem, explorem e experimentem o próprio fazer artístico. Um pouco antes do álbum de estreia, é concebido o originalíssimo e marginal EP intitulado Time to Pretend (2005), cuja influência sonora caminha tendo como centro a psicodelia, aspecto ainda inicial de uma obra que se tornaria, de maneira complexa, um algo sombrio e introspectivo. 

Um disco-EP bem acabado do ponto de vista formal, suas poucas músicas aprofundam despretensiosamente noções de paranoia e devaneio, como observa-se nas excelentes Time To Pretend, Love Always Remains, Boogie Down e Destrokk. Ora, Time to Pretend, o single, torna-se carro chefe e primeira canção a alcançar um sucesso inicial entre o público de gosto alternativo, dado seu experimentalismo sonoro que mistura elementos do pop-rock numa perspectiva pouco explorada no início dos anos 2000. Retomava-se, então, o legado de Pink Floyd misturado às guitarras elétricas de Jimi Hendrix. O gênero do absurdo, dessa divagação instrumental, é experimentado nesse EP de maneira livre, como uma livre associação freudiana ou mesmo como a escrita automática de André Breton, pai do surrealismo europeu. 

Guitarra elétrica, sintetizadores, distorção sonora, autotune. Tudo está lá buscando construir algo estranho e original, isto é, vanguardista. Como o EP é de uma época em que a banda usufruia de um núcleo muito pequeno de ouvintes, ligados estritamente ao grupo de amigos da faculdade, a sonoridade mostra-se, certamente, hermética e fechada numa estética muito característica e autoral, afinal, eis a dor e a delícia de ser artista independente. Time to Pretend é o embrião e uma estreia perfeita do ponto de vista da assinatura da banda e será para sempre um de seus melhores trabalhos, ainda que tenha sido o primeiro deles. Se Loss of Life (2024) o é como é, deve-se ao supracitado EP do qual escrevo aqui. Uma amostra inicial e certeira do elemento fundador do grupo. 

2007 seu álbum debut vem à luz sob o título de Oracular Spectacular. Juvenil e excêntrico, trata-se de um projeto cujo experimentalismo é a forma e o insólito é o fim. É a continuação profissional do que vinha se desenvolvendo há alguns anos. Sua faixa principal, Kids, a música mais popular da banda, promove-se como o que tem de mais pop no álbum. Não espanta seu sucesso, embora seja uma das menos interessantes, afinal, mais palatável, junto com Electric Feel. Alguns tesouros escondidos são: Of Moons, Birds and Monsters, Future Reflections e Pieces of What. 

Era um susto que, em 2005-2007, um gênero que estava tão ligado às tendências melancólicas pudesse se desenvolver com tanta plenitude da perspectiva surrealista, que parecia não ter espaço à época. Tradição e modernidade se encontram na formação do Oracular Spectacular. Talvez uma das mais complexas e promissoras bandas de sua geração, embora pouco escutada. 

O Oracular Spectacular é um álbum de estreia muito interessante porque retrabalha elementos da tradição com uma perspectiva nova, sem abusar dos efeitos experimentais que havia feito no EP, mesclando ritmos dançantes e arejados advindos do eletropop ao mesmo tempo em que mergulha num aspecto onírico imponente, que vai dos efeitos instrumentais computadorizados que transmitem uma ideia de vertigem até as composições nonsense que são a marca da banda. Neste sentido, o hermetismo parece ser altamente influenciado pelo labirinto opressivo proposto pela segunda fase do Radiohead, em que não se entende o que é cantado devido à complexidade da temática e da verbosidade das composições. 

A primeira metade do álbum conta com aberturas mais comerciais e menos estranhas, com solos de guitarra que acompanham de maneira linear a narrativa musical. Desta, Weekend Wars e The Youth merecem menção honrosa devido à produção engenhosa, à melodia cativante e aos vocais insólitos porém geniais, dando vida à proposta de pop-rock espacial. Aliás, a segunda parte do disco começa já num universo tal: 4th Dimensional Transition é uma viagem estranha através do tempo e do absurdo, tema continuado em Of Moons, Birds and Monsters. Um quadro de Dalí é a representação ideal do que se pretende. Future Reflections coroa a estética: um  som obsessivo e apocalíptico que ecoa como num sonho, numa espécie de zoom que aumenta e diminui um determinado objeto, emulando uma espécie de premonição cinematográfica. Uma bola de cristão sonora que prevê um futuro caótico. Ora, um encerramento digno no qual se dialoga com toda a obra precedente. 

Explorando sentimentos de indeterminação, indecisão e transição, atrelados ao medo do desconhecido e do anseio pelo novo no processo de amadurecimento de um coming-of-age, a jovem e destemida dupla ensina magistralmente como renovar os gêneros e subgêneros do pop-rock com uma base eletrofuturista para que ninguém coloque defeito. Um experimento musical que testa os limites do senso comum, Oracular Spectacular é uma estreia memorável, um disco que marca uma geração que, flertando com a cultura underground, encontrava-se socialmente deslocada no tempo-espaço e por isso tão referencial. Com tantos atributos e promessas, MGMT nos deixa ansiosos para saber o que mais pode sair dessa caixa de pandora.

Aumenta!: Weekend Wars
Diminui!: Kids
Minha canção favorita do álbum: Weekend Wars

Oracular Spectacular
Artista: MGMT
País: Estados Unidos
Lançamento: 2 de outubro de 2007
Gravadora: Columbia, RED Ink
Estilo: Neo-psicodélico, Eletro indie, Pop-rock.

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