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Crítica | Monster of Frankenstein (1981)

Uma versão clean animada do clássico literário de Mary Shelley.

por Leonardo Campos
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Versões animadas de clássicos góticos da literatura tendem a simplificar o seu conteúdo para o acesso do público que geralmente assiste a este tipo de narrativa: as crianças. Digo isso porque Frankenstein: Especial de TV (1981), exibido no Brasil na televisão aberta no começo de 1981 passou na TVEVELÂNDIA, um programa transmitido no horário voltado ao público infantil. Devo dizer, caro leitor, que foi uma surpresa com misto de espanto, talvez por ser um crítico mergulhado na atual e, nalgumas vezes, contraditória, cultura do cancelamento e da censura, a contemplação do material enquanto embarcava nesta minha jornada em torno do legado e do impacto cultural de Frankenstein, de Mary Shelley. Crianças que portam armas para se defender, animais pisoteados pela criatura vingativa e outras situações “politicamente corretas” fariam os pais e pedagogos arrepiarem os cabelos na contemporaneidade, no entanto, precisamos compreender que a narrativa é produto de uma época em que não se discutia necessariamente estas questões. Interessante, focado numa reversão de muitos acontecimentos do romance, a animação não é uma daquelas produções infantilizadas demais, funcionando como um entretenimento curioso em alguns momentos de sua estrutura irregular.

Em linhas gerais, o especial nos apresenta uma abertura em tom gótico. Decidido a brincar de Deus, um cientista tratado como um “gênio” diabólico pela narração desenvolve um estudo científico que resulta no surgimento do monstro feito por partes de diversos humanos e criaturas do mundo animal. Inicialmente fascinado por ter bancado o Prometeu Moderno, o cientista se regozija da relação com a ciência de maneira a avançar qualquer coisa realizada anteriormente por outro homem, nesta magnitude. Os problemas começam quando o ser criado é abandonado e sai em busca de seu “pai”, um homem que o renega e, ciente de ter criado algo grotesco e fora dos padrões de normalidade da sociedade, precisa destruir aquilo que concebeu. O monstro, também chamado de Frankenstein na história, não emite nada além de grunhidos, diferentes de outras traduções que o colocam com falas, mesmo que canhestras. E, assim, a história da animação se desenvolve, com a morte de muitos em torno de Victor Frankenstein e a batalha para destruição do monstro que representa a falta de limites da ciência em nossa sociedade.

Crianças que portam armam para driblar a criatura, mortes em sequência como num slasher leve e uma iluminação soturna que deixa os ambientes conforme a cartilha visual gótica são aspectos que demarcam o desenvolvimento narrativo de Frankenstein: Especial de 1981. Para manter o tom didático, há uma passagem interessante do homem cego, que recebe a criatura monstruosa, mas não exibe preconceito, pois só consegue sentir a sua “essência”. Numa mensagem de altruísmo e empatia, o personagem repreende a neta que grita desesperadamente diante do monstro e lhe diz que prefere confiar nele que em pessoas “padronizadas” na superfície, mas corrompidas e más de coração e alma. Esta é uma passagem que pode atravessar batida pelo espectador que não conhece muito do romance ponto de partida, mas aos mais atentos, deflagra pontos cruciais das reflexões filosóficas de Mary Shelley ao longo do livro.

Ao longo de 98 minutos, acompanhamos algumas correspondências com o clássico de Mary Shelley, mas com uma série de adaptações para a tradução dialogar devidamente com a proposta em animação do especial. A música de Kentaro Haneda começa sombria, deixando o preâmbulo da animação assustadora, mas depois flerta com passagens melodramáticas, ao passo que a trama vai saindo do horror e se tornando mais suave. Interessante é o trabalho de som de Michihiro Ito, um dos melhores elementos técnicos da estética desta produção, violentamente potente nos momentos em que a criatura ataca e aniquila tudo aquilo que possui valor para Victor Frankenstein, desde ao esmagamento dos animais de estimação de sua filha aos demais personagens que gravitam em torno da história para crianças com altas dosagens de violência, todos trucidados pelo monstro em busca de vingança. Mantendo uma estrutura narrativa com algumas correspondências com o clássico, a animação pode ser pensada como uma introdução didática ao universo do romance de Mary Shelley, pois pontos cruciais da história estão espalhados por todo o enredo. Há a simplificação habitual por conta do público-alvo, mas ainda assim, funciona como porta de entrada para um clássico completo e com extenso legado e impacto cultural ainda no contemporâneo, haja vista as suas discussões “universais”.

Monster of Frankenstein (Kyoufu Densetsu Kaiki! Frankenstein | Japão -1981)
Direção: Yugo Serikawa, Toyoo Ashida
Roteiro: Akiyoshi Sakai (baseado no quadrinho de Gary Friedrich e Michael G. Ploog e no livro de Mary Shelley)
Elenco: Masao Komatsu, Banjô Gingai, Hôsei Komatsu, Mami Koyama, Minori Matsushima, Mugihito Mugihito, Ichirô Nagai, Nachi Nozawa, Yoku Shioya, Kaneto Shiozawa, Kei Tomiyama, Keiko Yamamoto, Jôji Yanami
Duração: 98 min.

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