Ao pegar um clássico infantil como Ursinho Puff – pensando que faz parte do imaginário nostálgico de muitas crianças – Rhys Frake-Waterfield tinha como intenção contar uma versão sombria desse personagem através do subgênero do terror ao qual é tão apaixonado: o slasher. De certa forma, isso é louvável por partir também do ponto de vista da homenagem, enquanto também quer estabelecer uma franquia pra chamar de sua, um passo ousado, eu diria – ainda mais continuar levando essa história a sério. Se no primeiro filme Waterfield queria remeter aos canibais de Pânico na Floresta mesmo trazendo homens com máscara de borracha como Puff e Leitão, ao expandir o leque de sua produção, o diretor e roteirista deixou os animais serial killers como vilões de Power Rangers em busca de vingança contra Christopher Robin.
É um misto de comédia e terror mesmo quando Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 quer ser apenas terror, mas fica impossível levar a sério uma história sem sentido que quer homenagear figuras do slasher. E indo um pouco mais longe, mostrando que saber fazer o dever de casa, o resultado do filme segue uma estrutura mais elaborada que passeia por clichês de filmes teens do subgênero, bem como a Wrong Turn, mas Waterfield provoca a mesma cartilha que os últimos roteiristas e diretores da franquia Pânico fizeram, nesse caso, tratar o próprio universo como a autorreferência enquanto também faz acenos a outros clássicos.
Além de A Hora do Pesadelo, o cineasta britânico mantém sua inspiração com Sexta-Feira 13 introduzindo a interessante ilustração que resume o conflito de Christopher e Pooh por meio de um livro que lembra o Necronomicon, nisso, ele trata agora seu principal vilão como um mal invocado, e se nisso não está claro que o Puff, o Bravo é o Michael Myers dessa mitologia, mas com a “origem” sobrenatural de Jason Voorhees, as cenas com a babá e um garotinho quer ter seu momento de Halloween: Noite do Terror com direito a um trecho que referencia ao embate final entre Laurie e Michael. O interessante é que Frake-Waterfield escreve e dirige seu filme com ambição e adiciona elementos que provam sua visão mesmo que fim isso não torne essa sequência melhor que o primeiro capítulo, mas ainda assim, um louco projeto levado muito a sério por seu criador.
Ao menos, agora os atores contratados para para viver Pooh, Leitão, Tigrão e Corujão não usam máscaras de borracha, mas a ideia aqui é que eles ajam como Jason e Michael, duas figuras imbatíveis e quase imortais do slasher – mas imagina se Frake-Waterfield incrementar a acidez de Freddy Krueger a esse grupo de animais assassinos? Embora toda a ideia seja digna de uma comédia de terror, o cineasta consegue compor cenas inspiradas do subgênero mesmo que sejam mecânicas e sem construção para tornar Pooh assustador, porque lembrando, ela leva a sua criação a sério, mas quem é o Ursinho Puff para, agora, ganhar uma versão sombria que surfa em reproduções do slasher como inúmeros títulos?
Soa como um exercício repetitivo e quase obrigatório que, para criar um universo slasher precisa referenciar os que vieram antes, o que faz perder a personalidade que poderia ter. Nessa leva de filmes do subgênero que prestam homenagens, Terrifier consegue ser uma exceção ao também se inspirar em todos esses personagens citados, mas que, ainda assim, por trás dos acenos, propôs em uma mitologia que se desafia a pensar pelos próprios termos. O último filme apontou referências, mas também, fez do palhaço Art um personagem antológico que passeia pelo misticismo e magia de festejos tradicionais nos EUA, como o Halloween, enquanto que Frake-Waterfield faz de Christopher um final boy que é arrastado de volta para uma carnificina porque, bem, irritou seus amigos animais de máscaras no Bosque dos 100 Acres.
De Jason, Michael Myers e também Leatherface, uma terceira sequência não é o fim para Frake-Waterfield já que anunciou um mega crossover do Ursinho Puff, Pinóquio, Bela Adormecida, Sininho, Peter Pan, O Chapeleiro Maluco e Bambi. Se os Vingadores e Liga da Justiça ganharam seus filmes para salvar o mundo, a chamada Assembleia de Monstros está vindo para destruir infâncias, invadir raves com muito gore, por algum motivo desconhecido. Quem é Thanos perto do Pooh e seu universo trash?
Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 (Winnie-the-Pooh: Blood and Honey 2 – Reino Unido, 2024)
Direção: Rhys Frake-Waterfield
Roteiro: Rhys Frake-Waterfield
Elenco: Scott Chambers, Tallulah Evans, Ryan Oliva, Lewis Santer, Eddy MacKenzie, Simon Callow, Nicola Wright, Flynn Gray
Duração: 100 min.
