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Crítica | Fallout – 1ª Temporada

Os anos 50 no século 23 do pós-guerra nuclear.

por Kevin Rick
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Baseado na série de jogos homônima, Fallout é a mais nova adaptação de um universo famoso dos video-games, algo que tem ficado cada vez mais recorrente em uma Hollywood que gradualmente tem quebrado o estigma em torno dessas adaptações. O RPG de sucesso é um material particularmente interessante de ser adaptado, uma vez que que preenche muitos requisitos perfeitos para ter êxito no live-action. Estamos diante de um mundo pós-apocalíptico que se inspira em narrativas sobre zumbis, História alternativa e uma wasteland à la Mad Max em uma guerra por recursos, todos estilos de enredos que têm encontrado muito público nos últimos anos. A produção ainda tem os adendos de ter um tom ácido e ultra-violento que combina com o tipo de marca que a Amazon Prime Video tem criado em suas produções, como The Boys e Invencível, e muitos temas sobre a guerra nuclear e a bomba atômica, tópicos cada vez mais importantes dado o contexto político mundial contemporâneo, além de ter ganhado muita atenção com o lançamento de Oppenheimer.

Se tudo parecia alinhado para uma adaptação triunfante, a produção ainda conta com a participação dos co-criadores de Westworld, Jonathan Nolan (produtor e diretor) e Lisa Joy (produtora), como condutores da série, apesar dos showrunners serem os relativamente desconhecidos Graham Wagner e Geneva Robertson-Dworet. Inteligentemente, a equipe criativa evita adaptar diretamente um dos jogos da franquia, escolhendo uma rota criativa mais ousada e apropriada: uma história que se passa canonicamente nesse universo e na continuidade dos jogos, mas em uma primeira temporada de oito episódios que não está diretamente conectada a nenhum dos games e que tem toda a liberdade narrativa possível. Em síntese, acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que foi criada em um abrigo radioativo construído pela empresa Vault-Tec há mais de 200 anos após o início da guerra nuclear, que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins).

Apesar de não ser uma adaptação direta, os roteiristas capturam com muita qualidade o tom e o cenário dos jogos. Visualmente, estamos assistindo um pós-apocalipse nuclear que mescla inspirações da cultura estadunidense dos anos 50 com um modernismo atompunk, presenteando o público com uma estética retrofuturista que mistura velho-oeste, art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranoias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear. A atenção para detalhes em figurinos, armas, maquiagens e arquitetura, bem como da trilha sonora, para embaralhar o retrô com o futurista é de um nível técnico primoroso, criando um aspecto diegético fora do tempo à obra. Mais importante do que o design de produção, porém, é a forma como os roteiristas sabem se aproveitar dessa pluralidade temática e visual, brincando com “fases” e sidequests que passam pelo western, a ficção científica, o militarismo, o horror e principalmente a sátira.

Fallout é, acima de tudo, sobre uma narrativa nômade, da exploração de um mundo quebrado cheio de elementos provocativos, ridículos e espetaculares, algo que a adaptação captura na aventura perversa de Lucy e companhia. Às vezes isso pode deixar a trama principal fragmentada entre tantos núcleos e até soar como uma desorganização narrativa nos círculos e reviravoltas aleatórias da história, mas há um trabalho muito bem feito em termos de apresentar à audiência o palco de uma aventura surreal cheia de comentários ácidos sobre capitalismo, corporativismo, controle, crise de energia e, claro, sobre a guerra. Inclusive, penso que os melhores momentos da obra envolvem sua ficção especulativa que é sempre mais irônica do que densa, apesar do terço final da temporada ser um pouquinho explicativo demais. Sem dúvida nenhuma, estamos diante de mais uma adaptação de sucesso dos universos dos games, que é autêntica à essência do seu material de origem engenhoso e satírico, enquanto é criativa ao ser canonicamente original, ao abraçar a linguagem narrativa dos jogos e ter muita personalidade visual e temática em seu pós-apocalipse bizarro.

Fallout – 1ª Temporada | EUA, 2024
Desenvolvimento: Graham Wagner, Geneva Robertson-Dworet (baseado na série de jogos homônima)
Direção: Jonathan Nolan, Daniel Gray Longino, Clare Kilner, Frederick E.O. Toye, Wayne Yip
Roteiro: Graham Wagner, Geneva Robertson-Dworet, Kieran Fitzgerald, Carson Mell, Karey Dornetto, Chaz Hawkins, Gursimran Sandhu
Elenco: Ella Purnell, Aaron Moten, Kyle MacLachlan, Moisés Arias, Xelia Mendes-Jones, Walton Goggins, Sarita Choudhury, Leslie Uggams, Johnny Pemberton
Duração: 08 episódios de aprox. 60 min. cada

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