Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Leo (2023)

Crítica | Leo (2023)

Sabedoria reptiliana.

por Ritter Fan
1,4K views

Leo é um tuatara mascote da 5ª série de uma escola na Flórida que tem 74 anos de idade e que, quando entreouve que sua espécie não vive mais do que 75 anos, decide conhecer os Everglades, que sempre foi seu sonho. Para isso, ele aproveita quando uma professora substituta ranzinza decide que cada aluno, ao final de cada semana, terá que levar para casa e cuidar de um dos mascotes da turma (além de Leo, há Squirtle, uma tartaruga-de-caixa-da-Flórida). Mas Leo não é lá muito ágil e essa tarefa torna-se bem menos simples do que ele imaginara, algo que ganha camadas extras de complicação quando ele revela que sabe falar como um humano e começa a aconselhar as crianças usando toda a sua sabedoria reptiliana.

Esse conceito é simples, mas ao mesmo tempo diferente e, não tenho dúvida alguma em afirmar, absolutamente cativante. Ajuda muito que quem dá voz a Leo seja Adam Sandler fazendo uso de sua experiência com outra criatura idosa, o Conde Drácula dos três primeiros filmes da franquia Hotel Transilvânia, em mais um ótimo trabalho nessa categoria, já que o ator consegue combinar comédia com seriedade sem parecer estar fazendo qualquer tipo de esforço. Aliás, Bill Burr como Squirtle é a escolha perfeita para fazer par com Sandler, pois o ator, também experiente em animações, consegue construir uma tartaruga rabugenta e ao mesmo tempo adorável justamente por ser rabugenta.

E, literalmente em cima disso tudo, o design e a animação dos dois bichos funcionam muito bem, ao ponto de ser perfeitamente desejável que o o longa se passa o maior tempo possível no lar envidraçado da dupla, com eles observando astutamente as crianças da turma e o que a mudança na professora ocasiona. No lado dos humanos, porém, o trabalho não tem a mesma qualidade e tudo o que a equipe criativa consegue fazer é criar arquétipos de crianças e adultos com traços estereotípicos, com personagens que são mantidos na mais completa unidimensionalidade por um roteiro que não sabe muito bem o que fazer com eles a não ser permitir alguns minutos de aclimatação com cada um.

Felizmente, porém, Leo acerta mais do que erra porque a trinca de diretores sabe que o valor do filme está em Sandler e em Burr, com a minutagem investindo no terço inicial em que os dois mascotes convivem ali em um feliz confinamento vítreo e, depois, em Sandler e seu tuatara partindo para momentos “amostra grátis” nas casas de cada humaninho, cada um com seu problema específico que a sabedoria psicológica de Leo mostra-se valiosa e, talvez, um tanto quanto conveniente demais, com algumas resoluções fáceis demais de problemas variados. O problema da obra é que seria impensável mercadologicamente que ela fosse “só isso”, ou seja, uma sucessão de sessões de terapia entre réptil e humanos. Como mandamento hollywoodiano inafastável, era essencial que houve “ação” no sentido mais rasteiro da palavra, ou seja, sequências e mais sequências de perigos que ameaçam o protagonista e que, claro, levam àquelas lições de moral bem básicas, mas nem por isso desimportantes.

Ou seja, quando o simpático e idoso réptil finalmente consegue chegar nos Everglades, o que o filme tinha de especial ele deixa de ter e se torna algo padrão, criado milimetricamente para satisfazer o pessoal que acha que filmes cujo público alvo é formado de crianças não precisa ter aquele “algo mais”, bastando ser uma multicolorida distração para os pequenos enquanto os adultos estão fazendo coisas mais importantes como acompanhar rede social no telefone. E é isso que Leo se torna em seu terço final que esvazia sua base narrativa e o transforma em qualquer coisa genérica que se repete de maneiras diferentes, mas muito semelhantes, se é que me entendem, em uma infinidade de animações.

O escamoso tuatara de Adam Sandler e a encouraçada tartaruga de Bill Burr valem o preço do ingresso, reafirmo aqui, e a premissa funciona até que ela passa a ser escanteada e trocada por um mais do mesmo que parece não ter fim e que cansa muito mais do que diverte se o espectador tiver mais do que cinco anos de idade. Mesmo assim, fica claro que Leo – o filme – tem sabedoria por trás e consegue passá-la adiante mesmo que aos trancos e barrancos. Mas fico imaginando como seria mais desafiador e mais interessante se tudo gravitasse ao redor da dupla em cativeiro e um ou outro momento nas casas dos seres humanos em formação lá do outro lado do vidro.

Uma curiosidade zoológica: Leo pode até parecer um lagarto, mas, na realidade, ele é um tuatara, réptil de uma ordem distinta, com a espécie sendo endêmica da Nova Zelândia. Trata-se do único réptil representante de sua ordem, aliás, a Rhynchocephalia ou Sphenodontida, e, como na animação, ele realmente vive por muito tempo, normalmente 60 anos em seu habitat natural e às vezes mais de 100 anos em cativeiro.

Leo (Idem – Austrália/EUA/Canadá, 21 de novembro de 2023)
Direção:  Robert Marianetti, Robert Smigel, David Wachtenheim
Roteiro: Robert Smigel, Adam Sandler, Paul Sado
Elenco: Adam Sandler, Bill Burr, Cecily Strong, Jason Alexander, Rob Schneider, Allison Strong, Jo Koy, Sadie Sandler, Sunny Sandler, Coulter Ibanez, Bryant Tardy, Corey J., Ethan Smigel, Tienya Safko, Gloria Manning, Carson Minniear, Roey Smigel, Reese Lores, Benjamin Bottani, Aldan Liam Phillipson, Jackie Sandler, Heidi Gardner, Robert Smigel, Nick Swardson, Stephanie Hsu, Nicholas Turturro
Duração: 102 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais