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Crítica | Doctor Who: Histórias de Alan Moore

Lutando em diferentes dimensões.

por Luiz Santiago
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Neste compilado, trago comentários das histórias escritas por Alan Moore em Doctor Who, primeiro para a revista Doctor Who Weekly e depois para a versão renomeada da mesma revista, a Doctor Who Magazine, entre os anos de 1980 e 1981. Não são histórias principais, mas secundárias das revistas, escritas no início da carreira de Moore como roteirista de quadrinhos.

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Black Legacy

Eu — e acredito que muitos whovians também — nunca dei muita bola para as histórias em quadrinhos secundárias da DW Magazine. Conheço muito bem os quadrinhos da revista e há uma grande quantidade deles resenhados aqui no site, mas sempre as histórias principais. Nos primeiros anos da revista, porém, além da HQ carro-chefe, haviam aventuras menores com Daleks, Cybermen e outros personagens e vilões da Série Clássica, entregues a escritores “em período de teste“. Black Legacy é a primeira dessas histórias que Alan Moore escreveu, uma trama de oito páginas publicada entre as edições 35 e 38 da DW Weekly, em 1980. Trata-se de uma aventura com os Cybermen, que chegam ao planeta Goth à procura de uma arma mortalmente definitiva. O temível e lendário “Dispositivo do Apocalipse”.

Os primeiros quadros da história são regulares, sem muita coisa chamativa e com diálogos truncados. Os Cybermen estão conversando, procurando a tal arma, falando sobre poderio militar. Há um quê de “humanidade” ainda latente em um dos soldados, o que me pareceu bastante estranho e que o autor não explora, infelizmente. Mas já no final da edição 35, a aparição de “coisa escondida nas sombras“, indica que algo muito ruim e muito sério está para acontecer. A partir daí, a qualidade da HQ sobe. A presença da arma definitiva, sua descrição, sua atuação e a “loucura e medo” que impõe à expedição de Cybermen fazem valer o enredo, que termina numa interessantíssima indicação de ciclo vicioso de tudo o que vimos… além de uma irônica indicação de que as tais “armas definitivas” sempre saem do controle de seus criadores e sempre conseguem sobreviver às tentativas de destruí-las.

Black Legacy (Reino Unido, 5 a 26 de junho de 1980)
Publicação original:
Doctor Who Weekly #35 a 38
Reimpressão: DW84 #14, Cybermen: The Ultimate Comic Strip Collection
Roteiro: Alan Moore
Arte: David Lloyd
Editora original: Marvel Comics
8 páginas

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Business as Usual

A parte realmente marcante dessa história é a sua ideia geral, o resultado da construção que o autor faz a partir do momento em que apresenta o vilão da vez: os Autons. A trama começa em 1989, quando o encanador Winston Blunt encontra uma esfera que é uma das seis que caíram do céu — uma invasão à Terra, como tantas outras. Em pouco tempo, ele patenteia um novo método de ligação de átomos de carbono e cria a Galaxy Plastics Inc. Antes de se matar, nomeia o Sr. Dolman para dirigir a empresa. Na segunda parte da aventura, entra em cena o espião industrial Max Fischer, que tem um encontro nada feliz com a Consciência Nestene. Este ponto da história é um dos mais fracos, porque mostra um tipo de ação intensa que entrega pouca coisa para o leitor além da tensão da fuga. Para um roteiro que se mostrou bem mais épico e importante que isso, desde o início, tal linha de abordagem acaba sendo problemática.

O final da trama, porém, ajusta melhor o texto e dá sentido às escolhas do autor. Embora não apague o problema de concepção — bons finais não são capazes de inutilizar erros grandes de um texto, mas às vezes podem até diminuir à insignificância o peso destes –, o resultado funciona pela crueldade que expõe e pela excelente relação que tem com o título Business as Usual. E pensando isso no contexto industrial que o enredo nos traz, é ainda mais intenso e realista. O curioso é que parece muito com uma história dos anos 70, mas o tempo de ação desses acontecimentos está entre 1989 e 1990. De todo modo, a trama é basicamente a cara do sistema industrial pós-segunda Revolução Industrial, então, cabe em qualquer época desse ponto em diante.

Business as Usual (Reino Unido, 10 a 31 de julho de 1980)
Publicação original:
Doctor Who Weekly #40 a 43
Roteiro: Alan Moore
Arte: David Lloyd
Editoria: Dez Skinn
Editora original: Marvel Comics
8 páginas

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Star Death

Essa aqui eu achei que gostaria bem mais que as outras duas, porque se passa nos bastidores de Gallifrey e tem a presença de alguém bem importante para os Time Lords. O quadrinho, em si, já é cercado de importância no cânone da série, pois marcou a primeira aparição de Rassilon em qualquer mídia do show, sendo lançado após o personagem ter sido mencionado pela primeira vez em The Deadly Assassin. Além disso, essa história foi a primeira a abordar as circunstâncias que levaram à prisão de Omega no universo da Antimatéria, como veríamos abordado em The Three Doctors. No cerne do roteiro de Alan Moore, uma trama de sabotagem e grande empreendimento de “engenharia temporal” se desenrola, com Rassilon, Lord Griffen e Lady Jodelex aguardando o colapso de Qqaba, uma estrela moribunda. Nessa espera também aparece um mercenário do futuro chamado Fenris (apelidado de Hell-Bringer), que viaja no tempo para sabotar o experimento e mudar a história dos Time Lords.

O texto apresenta uma motivação forte, mas os diálogos são sem graça, burocráticos, desnecessariamente descritivos e pouco avançam na história que parece bem complexa. É verdade que em quatro páginas não é muito fácil abordar o uso de um buraco negro para expandir o controle da viagem no tempo. É para isso que os Time Lords precisam da energia dessa estrela em destruição. Mas as interrupções do sabotador e a maneira como o texto se desenvolve não inspiram muita confiança, e mesmo juntando todos os aspectos narrativos, o leitor termina a história em quase plena apatia.

Star Death (Reino Unido, 13 de novembro de 1980)
Publicação original:
Doctor Who Magazine #47
Roteiro: Alan Moore
Arte: John Stokes
Editoria: Dez Skinn
Editora original: Marvel Comics
4 páginas

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4-D War

Nesta segunda parte da trilogia que fala sobre os Time Lords e sua relação com o sabotador Fenris, temos um roteiro confuso e nada engajante envolvendo uma missão sem explicação (resgatar Fenris do vórtex temporal) e um tipo de “guerra do tempo” que criou escola nos bastidores da série (especialmente na literatura) e influenciaria uma das mais marcantes situações ligadas a Gallifrey quando o show retornou ao ar, em 2005. Sem muitas explicações do caminho percorrido até ali e das intenções dos personagens, estamos 20 anos depois dos eventos de Star Death. Os Time Lords querem resgatar Fenris da “Zona Sem Retorno” para descobrir o motivo de sua tentativa de impedir o controle de Gallifrey. O motivo de ter passado tanto tempo sem se importar com isso e as condições do momento para tal empreendimento estão postos como estranhas migalhas ao longo do texto, não satisfazendo a nossa curiosiadde. O que acontece depois, com a reflexão sobre “crimes do futuro“, acaba não tendo o efeito desejado. É apenas uma teoria vazia em meio a um contexto maior do qual não temos real conhecimento.

4-D War (Reino Unido, 12 de março de 1981)
Publicação original:
Doctor Who Magazine #51
Roteiro: Alan Moore
Arte: Dave Lloyd
Editoria: Dez Skinn
Editora original: Marvel Comics
4 páginas

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Black Sun Rising

Tenho zero vontade de escrever sobre essa história. É quase inacreditável que Alan Morre tenha escrito isso aqui, especialmente porque tinha como motivação integrar a trama desenvolvida nas duas histórias anteriores. O problema é que esse enredo não tem nada a ver com o que estava acontecendo antes, não há uma linha lógica de continuação ou mesmo similaridade de atmosferas! As situações antes abertas ficaram sem respostas e essa aventura, que ocorre num cenário de negociações comerciais de urânio, acaba virando um dramalhão ruim de ciúme, armadilha psicológica e algo que pode colocar Gallifrey em guerra contra outros povos. Infelizmente, foi uma despedida inglória de Alan Moore, que acabaria não voltando mais às obras da série. Aparentemente, ele saiu em apoio ao colega Steve Moore (sem parentesco), que supostamente seria demitido sem aviso das tiras da revista.

Black Sun Rising (Reino Unido, 10 de setembro de 1981)
Publicação original:
Doctor Who Magazine #57
Roteiro: Alan Moore
Arte: Dave Lloyd
Editoria: Dez Skinn
Editora original: Marvel Comics
4 páginas

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