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Crítica | Avatar: O Último Mestre do Ar – 1ª Temporada

Uma adaptação segura.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todo nosso material do universo de Avatar.

Apesar de ter ficado ansioso com o lançamento da Netflix, confesso que uma adaptação em live-action de Avatar: A Lenda de Aang nunca me soou muito atrativa. Não penso assim por conta da fracassada versão de 2010 dirigida por M. Night Shyamalan, mas sim pelo simples fato de que não vejo razão em termos uma reimaginação do desenho da Nickelodeon. Como podem ver pelas minhas críticas da animação original, sou um tremendo fã deste universo, então estou mais interessado em novas produções originais, na linha da excelente A Lenda de Korra. A história de Aang já está lindamente contada para revisitarmos quando quisermos, mas bem, como nada é intocável em Hollywood, cá estamos com o live-action do carequinha que controla o vento.

Em síntese, Avatar: O Último Mestre do Ar acompanha o pequenino Aang (Gordon Cormier), uma criança que descobre ser o Avatar, um protetor reencarnado que consegue manipular os quatro elementos – fogo, ar, terra e água -, em um mundo fictício de dobradores que está em guerra porque a Nação do Fogo instituiu um império tirânico quando o Avatar desapareceu por 100 anos, atualmente sob o comando do cruel Senhor do Fogo Ozai (Daniel Dae Kim). Para salvar o mundo, Aang inicia sua jornada para aprender todos os elementos, com a ajuda dos jovens Sokka (Ian Ousley) e Katara (Kiawentiio), enquanto é perseguido pelo filho do imperador, o agressivo Zuko (Dallas Liu).

Não quero fazer uma análise cheia de comparações com a animação original, mas é difícil não falarmos sobre algumas mudanças. Aliás, de maneira geral, o showrunner Albert Kim joga seguro, fazendo pequenas alterações pela jornada e seguindo à risca os pontos mais importantes da trama do Time Avatar, mas tenho a impressão que tudo é um pouco mais acelerado em termos de ritmo. Certas aventuras, passagens em locais específicos e pequenos recortes de interação com personagens peculiares não ganham o tempo certo para respirar, para mergulhamos no mundo fantástico criado por Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino.

Não me entendam mal, a produção está linda. Claro que vemos as limitações de orçamento nas restrições de aparições de Appa e Momo, ou na forma como muitas locações são menores em termos de escopo e escala perto da animação original, mas nada realmente grave. Os figurinos, cenários, coreografias e efeitos especiais são de uma qualidade surpreendente (a única dobra que não me convenceu visualmente foi a da água, mas nada ruim), só que falta uma certa imersão de um trabalho mais apurado com narrativas visuais. Notem, por exemplo, o quanto o núcleo do mundo espiritual é mal aproveitado e o quão pouco a produção adere ao caráter ideológico, filosófico e cultural das Quatro Nações. É notável a falta da visão de alguém como Dave Filoni por trás das câmeras, que pinta sentimentos com imagens.

De forma geral, a construção de mundo não é sentida, é mais técnica e extremamente verbal, se me entendem. Para mim, o problema central da adaptação é justamente o seu roteiro expositivo e às vezes até robótico em termos de diálogos, que explica demais sobre o universo, verbaliza muito os sentimentos dos personagens e deixa pouco espaço para desenvolvimentos menos artificiais ou mais sutis. Penso que isso pode ser tanto culpa de uma pressa em cobrir tanta história em apenas oito episódios (adicionar o bloco bom, mas um tantinho deslocado de Ozai e Azula tão cedo na narrativa certamente não ajudou nisso), quanto o fato de que a produção retira o tom mais leve e infantil do material de origem para se firmar em algo fundamentado, mais maduro e sério, que quebra um pouco a dinâmica de diversão por trás da missão impossível dos protagonistas.

Ainda assim, há muito o que gostar na adaptação em meio a seus problemas, imperfeições e coragem de não transliterar o material original (se fosse para ser tudo igual, pra quê uma adaptação, né não?). A escalação é praticamente perfeita, com exceção talvez do Bumi (Utkarsh Ambudkar, um tanto caricato para meu gosto), com destaque para a equipe principal de Gordon Cormier, Kiawentiio, Ian Ousley, Dallas Liu e Paul Sun-Hyung Lee (ótimo como o afável Iroh), que personificam os personagens com muita fidelidade ao trabalho original, mas que também trazem suas próprias personalidades. Até penso que o elenco queria se divertir mais em muitos momentos (o ator mirim do Aang parece querer rir na maioria do tempo), mas o texto engessou algumas interações.

Alguns dos melhores momentos da temporada envolvem Zuko e Iroh, os personagens que mais ganham desenvolvimento e tratamento dramático de qualidade, indicando o grande arco de amadurecimento e transformação do garoto queimado, mas em termos de dramatização, todos os personagens principais ganham boas tramas de evolução, momentos emocionantes e situações memoráveis. Inclusive, penso que a montagem faz um trabalho eficiente em caminhar entre os dois núcleos principais (só o do Ozai e de Azula que parece meio intrusivo). Mais para o fim da temporada, é fácil estar afeiçoado pelo grupo, o que acaba sendo o pilar desse tipo de jornada infantojuvenil, não? Personagens.

Também é preciso ressaltar a ação de Avatar: O Último Mestre do Ar, que cria uma maratona de puro entretenimento veloz, charmoso e com ótimo senso de urgência por conta do trabalho cuidadoso da adaptação em nos situar do perigo da missão de Aang e companhia e das crueldades da Nação do Fogo. Felizmente, os roteiristas entendem que não existe lugar para cinismo em uma aventura que um mundo derrotado encontra esperança na inocência de um garoto que enxerga tudo através do pacifismo e da empatia. Em suma, a adaptação da história de Aang tem seus probleminhas, mas funciona porque a equipe criativa tem o coração no lugar certo. O coming-of-age do garoto que precisa salvar o mundo tem o que melhorar, mas é bacana visitar esse universo novamente pelos olhos de criadores que claramente amam essa história e que farão tantos outros conhecê-la pela primeira vez.

Avatar: O Último Mestre do Ar (Avatar: The Last Airbender) – 1ª Temporada | EUA, 2024
Desenvolvimento: Albert Kim (baseado na animação Avatar: A Lenda de Aang, de Bryan Konietzko & Michael Dante DiMartino)
Direção: Michael Goi, Jabbar Raisani, Roseanne Liang, Jet Wilkinson
Roteiro: Albert Kim, Bryan Konietzko, Michael Dante DiMartino, Joshua Hale Fialkov, Christine Boylan, Keely MacDonald, Gabriel Llanas, Emily Kim, Hunter Ries, Ubah Mohamed, Audrey Wong Kennedy
Elenco: Gordon Cormier, Kiawentiio, Ian Ousley, Dallas Liu, Paul Sun-Hyung Lee, Ken Leung, Daniel Dae Kim, Utkarsh Ambudkar
Duração: 08 episódios de aprox. 60 min. cada

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