- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e das outras obras do MonsterVerse.
Que finalzinho vagabundo esse… Não ruim, vejam bem. Só vagabundo mesmo, daquele tipo que reúne todo os clichês possíveis do gênero em um pacote só sem conseguir dar um pingo sequer de personalidade para eles, para seus personagens ou para suas linhas narrativas. Toda a suposta “grande história” de Monarch se resume a um mapa, a um homem adúltero que tem duas famílias em continentes diferentes, três jovens adultos completamente insuportáveis e uma trinca de personagens do passado (um deles apenas, envelhecido, chegando ao presente) que até é bastante interessante, mas que, no frigir dos ovos, acaba mal aproveitada. Sobre monstros, bem, diria que não deve ter nem cinco minutos deles ao longo de 10 episódios, o que nem seria tão frustrante se a história fosse mais do que meramente descartável e imediatamente esquecível.
O problema de Beyond Logic não é exclusivo do episódio, mas sim, algo que eu poderia chamar da culminação de tudo que Monarch poderia ter sido, mas acabou não sendo, ou seja, o episódio final carrega o ônus de uma sucessão quase inacreditável de decisões equivocadas da produção que esticou uma história que não deveria ocupar mais do que três episódios em uma suposta saga sobre família e mistérios da agência anti-monstros Monarch que simplesmente não acaba mais, caminhando a incrementos pífios que sequer consegue fazer bom uso de Kurt Russell, ator que, com toda sua canastrice e todo o seu legado de filmes de ação, não precisava de muito para salvar a série, mas que simplesmente não lhe foi entregue material minimamente razoável para ele vir ao resgate dessa modorrência toda.
Vejam o retorno “surpresa” de Keiko Miura, Tudo o que o roteiro soube fazer, aqui, é uma sequência constrangedora em que o Velho Lee Shaw, atrás de uma árvore para não mostrar seu cabelo branco e rosto enrugado, conversa com o amor de sua vida e explica ao espectador que estava dormindo até esse ponto, o que aconteceu de supostamente importante na série. É aquele tipo de sequência feita para envergonhar qualquer espectador que sentir emoção pela breguice extrema que é encenada e que chega a seu ponto alto quando Cate, a personagem mais sem graça que vi em anos, diz que é a neta de Keiko. É como uma novela da Globo, só que piorada porque Monarch se acha importante e relevante, como o último biscoito do pacote, mas sem saber que esse biscoito normalmente é o que está todo quebrado e esfarelado, isso se já não estiver molenga.
Keiko passou 57 dias na Terra Oca – ou em Axis Mundi como ela chama – e o príncipe encantado precisa chegar para salvá-la quase que magicamente com sua cápsula em uma sequência bagunçada que só existe para fazer o óbvio, que é “matar” Lee Shaw (as aspas são importantes, pois vale o velho adágio do sem corpo, sem morte) e mostrar 15 segundos de uma briga entre a Lagartixa Atômica e o Morcego Bombado que até tem boa computação gráfica, mas que simplesmente não vale o esforço. Aliás, não vale o esforço não. É decepcionante ver que o momento climático da série é isso e que tudo, do começo ao fim, só existe para justificar aqueles segundos finais em 2017, em que a nova versão do King Kong, aquela que aparecerá no próximo longa do Monsterverse, aparece para criar burburinho internético, algo que nem faz muito sentido, pois tenho certeza de que o gorilão aparece muito mais no trailer do referido filme do que no final da série…
E, de novo, Beyond Logic não é ruim. Trata-se, apenas, de um final burocrático que seria melhor, como já disse em outras críticas, se fosse o encerramento de uma minissérie de três, no máximo quatro episódios. O que ganhamos, portanto, foram respostas bobas para perguntas idiotas que ninguém realmente nunca fez e que não importam em absolutamente nada para a compreensão de coisa nenhuma no âmbito macro, além da introdução de vários personagens bisonhos de ruins e, aqui e ali, um respiro interessante, seja pela trinca dos anos 50, o pouco de Kurt Russell que tem e, claro, os tais cinco minutos agregados de monstros. Pouco. Muito pouco para justificar a existência de uma série que nem pela pura diversão descerebrada vale de verdade.
Monarch: Legado de Monstros – 1X10: Beyond Logic (Monarch: Legacy of Monsters – EUA, 12 de janeiro de 2024)
Criação e showrunner: Chris Black
Direção: Andy Goddard
Roteiro: Chris Black
Elenco: Anna Sawai, Kiersey Clemons, Ren Watabe, Mari Yamamoto, Anders Holm, Wyatt Russell, Kurt Russell, Joe Tippett, Elisa Lasowski, Mirelly Taylor, Jess Salgueiro, Matthew MacCaull
Duração: 46 min.