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Lista | Os Melhores Álbuns Nacionais de 2023 – Handerson Ornelas

O que houve de melhor na música brasileira!

por Handerson Ornelas
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Eu sei que é um grande clichê dito todos os anos, mas 2023 foi um excelente ano para a música brasileira. Considerando a excelência de talentos por nossas terras, todos os anos são ótimos para a música nacional, basta saber garimpar devidamente e buscar a curadoria certa de álbuns a ouvir. E como é de costume por aqui, é hora das famosas listas de melhores do ano do Plano Crítico, onde levamos as melhores sugestões de álbuns para você em uma lista do que houve de melhor na música brasileira em 2023.

Aqueles que nos acompanham aqui há mais tempo perceberão que essa lista foi reduzida a 10 posições e dessa vez passamos a ordenar as posições como ranking – diferente dos anos anteriores, onde compreendia 15 álbuns e sem ordenação em formato de ranking. Muitas obras mereciam espaço nessa lista e foi um verdadeiro desafio resumir nesses 10 incríveis selecionados. Confira abaixo, os melhores álbuns brasileiros de 2023 e compartilhem conosco suas opiniões nos comentários!

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10º – Dança do Tempo – Ubiratan Marques

Brasil | Jazz | Aumenta!: Orin Ori (Meu Caminhar)

Mestre Ubiratan é um gênio subestimado. O maestro tem dedo em dois dos grupos mais extraordinários da atual cena musical baiana: o Baianasystem e a Orquestra Afrosinfônica. Dessa vez, foi a vez de se dedicar a Dança dos Ventos, seu primeiro disco solo, e o resultado é nada menos que excelente. Aqui, encontramos a mesma essência melancólica de Orin, a Língua dos Anjos, o impecável disco de 2020 da Orquestra Afrosinfônica, mas com uma cadência mais paciente para explorar as nuances do jazz de influência da música africana. A música de Ubiratan parece abrir um portal diretamente para o além, sendo dotada de uma transcendência sonora que corrobora com o poder da música como experiência espiritual.

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9º – Truque – Clarice Falcão

Brasil | Indie Pop | Aumenta!: Fundo do Poço

Um dos momentos que o peso da idade me bateu mais forte foi ao constatar que a estreia de Clarice Falcão, com Monomania, fez 10 anos em 2023. Não, eu não fui muito fã do álbum quando ele saiu lá em 2013, mas eu mal poderia imaginar o quanto Clarice me surpreenderia na sequência de discos seguintes. É curioso observar que a mesma artista bem humorada, irreverente e criativa do primeiro álbum se mantém aqui, mas com uma maturidade absurdamente diferente na execução. É notório o quanto Clarice expandiu suas influências musicais e seu vigor pela exploração musical, tendo se encontrado perfeitamente nos sintetizadores – Truque, seu quarto álbum, é mais uma prova disso. A obra sabe retratar perfeitamente os dilemas e insatisfações dos millenials em seus 30 e poucos anos, tudo isso com uma base eletrônica deliciosamente envolvente.

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8º – No Tempo da Intolerância – Elza Soares

Brasil | MPB, Samba | Aumenta!: Rainha Africana

Mesmo após sua morte, Elza Soares segue quebrando barreiras e surpreendendo. Normalmente eu tendo a ter um pé atrás com obras póstumas, mas essa aqui me pegou desprevenido. No Tempo da Intolerância segue o mesmo alto nível de qualidade que Elza vinha entregando nos últimos álbuns de sua discografia. No entanto, aqueles mais avessos a uma poesia direta e crua talvez encontrem problema na obra: não há nenhum tipo de sutileza, provavelmente Elza nunca cantou de forma tão verborrágica e direta sobre desigualdade e sofrimento. Afinal, é o primeiro disco autoral da cantora, contando com sete faixas escritas por ela mesma, além de outras três de artistas do naipe de Rita Lee, Josyara e Pitty. É um álbum de alma totalmente rebelde e punk, vomitando sentimentos a flor da pele em versos tão embebidos de sinceridade que cortam como navalha.

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7º – TRANSES – ÀIYÉ

Brasil | MPB, Música Eletrônica | Aumenta!: Onda

A música é um belo meio para expressão religiosa, sem dúvida alguma a forma artística mais utilizada para se aproximar do divino. Larissa Conforto – a carioca que outrora integrou o ótimo grupo Ventre e que hoje atende pelo projeto solo ÀIYÉ – sabe muito bem disso e usa deste artifício para entregar um disco solo impressionante. Expressar seu culto à religião umbanda é ponto central neste seu ótimo segundo trabalho solo, que moderniza essa visão religiosa ao fundir com a expressividade de suas próprias experiências pessoais e sua extraordinária visão como compositora e produtora musical. Os tambores são uma constante no álbum, misturando influências da música africana, latina e eletrônica – tudo sem deixar de soar legitimamente como uma obra de música brasileira.

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6º – IBORU – Marcelo D2

Brasil | Samba, Hip-hop | Aumenta!: FONTE QUE EU BEBO

“A minha maior contribuição para o rap no momento é cantar samba”. Essa constatação de Marcelo D2 é absurdamente sagaz e verdadeira. IBORU, seu álbum de 2023, é classificado por ele mesmo como “novo samba tradicional” e busca aproximar o ritmo de uma vibe mais moderna, ressaltando o quanto a espontaneidade e espírito livre do samba e do rap andam de mãos dadas. E a sacada de Marcelo está, sobretudo, em observar as mudanças que o hip-hop vem passando, com gêneros como trap e grime, e assim reiterar a importância de não se perder as raízes da música brasileira. Uma obra fantástica e extremamente carismática, com participações de bastiões como Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Mateus Aleluia e Alcione – todos juntos em uma verdadeira celebração ao samba.

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5º – Admirável Chip Novo (Re)Ativado – Pitty e Convidados

Brasil | Rock, Rap, Indie Pop | Aumenta!: O Lobo – Tuyo

Quase nunca listo alguma coletânea aqui, mas essa aqui merece demais. Celebrando os 20 anos de Admirável Chip Novo, Pitty escalou um excelente e diverso grupo de artistas para reinterpretar as faixas daquele que pode ser considerado um dos últimos grandes clássicos do rock brasileiro. O que torna Admirável Chip Novo (Re)Ativado tão cativante e surpreendente é o esforço de reinventar totalmente as canções do álbum dentro do espectro criativo de cada novo intérprete. Para listar somente alguns: Pablo Vittar faz uma sensacional versão tecnobrega de Equalize, o peso das guitarras O Lobo dá lugar a synths indie pop lindíssimos cantado pelo trio Tuyo e Máscara ganha um tom teatral e performático na voz de Ney Matogrosso. O álbum conta ainda com Emicida, MC Carol, Supercombo e outros ótimos artistas, todos em versões autênticas e criativas.

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4º – Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua – Ana Frango Elétrico

Brasil | Indie Pop, Soul | Aumenta!: Electric Fish

Ana Frango Elétrico já é uma entidade da nova música brasileira. Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, terceiro disco da carioca, reforça o poder criativo da compositora em estreitar a sonoridade setentista da música brasileira com o indie moderno. Pop, rock, funk e soul se fundem perfeitamente em um banquete único, irreverente e contagiante servido pela cantora. Os arranjos são extremamente ricos e harmônicos, o groove das canções é tão grande que chega a ser palpável (vide a brilhante Electric Fish) e os elementos percussivos são usados em abundância para elevar o charme das canções. A obra funciona tanto pela perspectiva moderna revisionista, quanto pela ótica retrô. Poderia facilmente se passar como um diamante perdido dos anos 70 que você encontra em um brechó de discos antigos e se pergunta: “Como eu não conhecia isso?”.

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3º – O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar para Outro Planeta – FBC

Brasil | Música eletrônica, Soul | Aumenta!: Madrugada Maldita

O nível de qualidade do título do álbum do FBC é proporcional ao de seu som. Vindo do sucesso do álbum Baile (2020), concebido junto do produtor VHOOR, FBC realiza uma manobra um tanto diferente em seu novo e espetacular álbum solo. House music, disco, soul e funk se juntam em um local alheio ao espaço-tempo, onde os anos 70, 80 e 90 parecem viver em conjunto. Trata-se de um disco focado nas pistas, que bebe bastante de um clássico recente da música brasileira, o espetacular Boogie Naipe, do Mano Brown. Nessa coleção de faixas há uma inegável nostalgia por uma certa inocência musical, um apelo por uma sonoridade livre, ordinária e reconfortante. Por mais derivativo que seja esse som, o artista cria uma experiência realmente autêntica, imersiva e extremamente envolvente. É uma verdadeira espaçonave para o tal “outro planeta” referenciado por FBC no título, um lugar onde o conceito de vida e música se confundem.

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2º – Liberdade – Jonathan Ferr

Brasil | R&B, Jazz | Aumenta!: Preterida

Confesso que fiquei bastante surpreso na primeira vez que ouvi Liberdade do Jonathan Ferr, considerando que esperava um disco instrumental, como seu disco anterior. Através desse novo movimento na carreira o compositor e pianista carioca demonstra sua inquietude e motivação por se desafiar musicalmente, buscando estreitar os limites do jazz com a música popular. Temos aqui mais um belo exemplo de como o R&B e soul brasileiro – que por grande parte da história foram subestimados – seguem um momento de bastante destaque, sendo reforçado principalmente através do cenário nacional do hip-hop. Liberdade, em essência, é uma grande celebração da música negra, onde Jonathan exercita seu poder criativo de forma magnífica junto a grandes nomes da cena, como Tássia Reis, Rashid e Ludji Luna. Um álbum belíssimo, feito para se dissolver em corpo e espírito.

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1º – Aleatoriamente – Rodrigo Ogi

Brasil | Hip-Hop | Aumenta!: Eu pergunto por você

Rodrigo Ogi é um monstro do rap nacional – e seu magnum opus, Aleatoriamente, reitera isso mais uma vez. É difícil evitar a sensação de que, nos dias de hoje, com a crescente de subgêneros como o trap e o grime, está cada vez mais raro encontrar álbuns de hip-hop com a densidade sonora deste álbum. Indo na contramão das tendências atuais de beats crus e minimalistas, o que o rapper paulista entrega é uma coleção de canções dinâmicas e explosivas com uma produção afiada e um instrumental cheio de camadas. Por cima dessa base irretocável são despejados os versos incríveis e sagazes de Ogi, que ainda usa e abusa de uma seleção invejável de participações especiais de gigantes do nível de Tulipa Ruiz, Russo Passapusso, Juçara Marçal e Don L. Viciante e implacável do início ao fim, é um trabalho que requer múltiplas audições.

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