Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Extremo Sul (2005)

Crítica | Extremo Sul (2005)

Um documentário sobre os impactos dos relacionamentos humanos em processos coletivos.

por Leonardo Campos
193 views

O mote é básico: uma expedição com cinco alpinistas: dois brasileiros, dois argentinos e um chileno. O destino? O monte Sarmiento, na região da Patagônia chilena. No protagonismo, temos Nelson Barreta, o narrador do processo. Ele é acompanhado por indivíduos que possuem uma vasta experiência, tanto teórica quanto prática, no montanhismo, cada um com sua personalidade forte, requisito responsável pelas transformações do trajeto e estabelecimento de emoções que transformam a dinâmica da narrativa. Sob a direção de Monica Schmiedt e Sylvestre Campe, o documentário traz Reynaldo Zangrandi como colaborador na direção de fotografia, com música de Leo Henkin e um eficiente trabalho de som direto da dupla formada por Heron Alencar e Cleber Neutzling. É essa a equipe que começa a registrar os feitos dos alpinistas numa perspectiva documental aventureiro que avança vertiginosamente para um formato mais dramático posteriormente, num diálogo intrigante com as dinâmicas de um reality show, salvaguardadas, obviamente, as devidas proporções comparativas.

No desenvolvimento de Extremo Sul, nós espectadores ficamos diante de um dos segmentos mais tradicionais do gênero documentário: o filme de expedição. Por aventura ou interesses científicos, bem como por sua abordagem etnográfica, as narrativas deste âmbito se caracterizam por seguir a progressão dos envolvidos, todos em busca do atingimento de uma meta, desde a busca por uma tribo indígena de difícil acesso ou uma celebridade inatingível. Em linhas gerais, são muitos os caminhos, com os membros tendo como ponto de encerramento, a meta, conquistar o que tanto almejam, sendo esta a “curva dramática” da trajetória. Em muitas ocasiões, os personagens sociais que perpassam a história são transformados em heróis, pessoas que deixam de se portarem como indivíduos comuns ao atingir o “feito”. Aqui, por sua vez, temos um flagra diante do fracasso. É puro Manifesto do Desapego. Após as coisas não saírem como planejadas, é hora da equipe responsável pela parte cinematográfica do projeto investir nos registros para colher alguma coisa que funcione como narrativa depois.

A equipe, então, não termina a escalada. E agora?

Ao passo que o filme avança, conseguimos concluir que estamos diante de uma história sobre seres humanos acossados pelas adversidades de suas empreitadas, figuras da vida real que se despem de qualquer filtro para lidar com os obstáculos do isolamento e do clima turbulento que tira de suas agendas tudo aquilo que havia sido planejado. Diante da crise, com o roteiro previamente estabelecido rasurado pela própria natureza em sua dimensão onipotente, temos os personagens mergulhados em crises, manifestadas ora por ações, ora por depoimentos, acompanhados por uma equipe que resolve colocar as câmeras de maneira indiscriminada diante dos fatos, moldando a colcha de retalhos em uma narrativa que pudesse ser contada após os dois anos de configuração do empreendimento para o formato cinematográfico. Ao ter que lidar com o projeto abortado, todos precisam ressignificar as suas experiências, para o bem e para o mal. Como cinema, por sua vez, a jornada funcionou e rendeu um bom produto.

Nos 92 minutos de Extremo Sul, o grupo sai acompanhado de bastante confiança diante da meta que pretende alcançar, mas o que fica registrado para a posteridade é algo completamente diferente, numa alegoria para as mudanças bruscas que a vida nos oferta cotidianamente. Amplo em seus desdobramentos reflexivos, o documentário é uma ótima opção também para pensarmos clima organizacional, um tópico temático discutido no âmbito das análises de comportamento organizacional. Na produção, ao observarmos o clima interno entre os membros da equipe de exploradores, dos primeiros passos da expedição ao desfecho do projeto, após a mudança de rumos, responsável por mexer com os ânimos e chacoalhar as estruturas da proposta. É um filme monótono enquanto entretenimento, mas poderoso como reflexão para todos os pontos destacados ao longo desta análise. Fosse você, iria conferir.

Extremo Sul (Brasil – 2005)
Direção: Sylvestre Campe, Monica Schmiedt
Roteiro: Sylvestre Campe, Monica Schmiedt
Elenco: Nélson Baretta, Júlio Contreras, Ronaldo Franzen Jr, Eduardo Hugo López e Walter Rossini
Duração: 92 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais