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Crítica | O Sócio (1996)

Uma divertida comédia sobre temas tensos, tais como misoginia e racismo nos ambientes corporativos.

por Leonardo Campos
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A misoginia no mundo dos negócios é um tema tão debatido que algumas pessoas dizem estar cansadas de falar sobre esta questão. Infelizmente, caro leitor, é um tema a ser discutido constantemente, pois apesar das mudanças que o mundo tem apresentado nos últimos anos, o preconceito sofrido por mulheres no âmbito corporativo ainda é uma realidade apodrecida e gritante. E, quando versamos sobre a interseccionalidade então, as coisas ficam ainda piores. Laurel Ayres, personagem interpretada com a mesma graça e talento de sempre por Whoopi Goldberg, em O Sócio, é uma figura ficcional acometida por estas questões. Além de ser mulher, é negra, e, ainda mais: apresenta idade avançada, adentrando também numa conversa importante sobre preconceitos diante de mulheres mais velhas. Por meio do humor, a narrativa debate os enfrentamentos da protagonista diante das barreiras sociais e raciais do “mundo dos homens brancos de terno”, uma realidade que não faz sentido algum, mas ainda é tópico temático em muitas pesquisas e reflexões sobre o lugar ocupado por mulheres em ambientes organizacionais sem empatia, com carreiristas desesperado por uma posição de sucesso.

Refilmagem de uma produção francesa homônima de 1979, inspirada, por sua vez, em uma peça de 1928, O Sócio é uma comédia dirigida por Donald Petrie, cineasta que tem como direcionamento, o roteiro de Nick Thiel. A trama acompanha a jornada de Laurel Ayres, uma mulher muito competente que após ser preterida de uma promoção pelas questões já mencionadas anteriormente, resolve sair do ambiente de trabalho tóxico em que atua e tentar criar o seu próprio negócio. Ela acessa o seu network, mas percebe que não há interesse dos executivos de Wall Street em lidar com uma mulher. Como fazer? Diante da situação, ela cria uma persona, o Sr. Robert S. Cutty, um homem influente, para ser seu sócio. Com as demandas de trabalho dando certo e projetos fechados com louvor, todos querem conhecer o executivo misterioso, mas como estar diante de alguém que não existe?

É quando as confusões começam. Disfarces, fugas, correria, revelações ao final do processo e debates escancarados para fazer os espectadores refletirem sobre os temas da comédia que funciona bem dentro de seu excesso de coincidências. Aqui, Goldberg assume o protagonismo, lidando com as estruturas básicas do roteiro hollywoodiano inspirado nos padrões de Syd Field: há o vilão, Frank, interpretado por Tim Daly em um tom cínico e debochado, bem ao estilo misógino que encontramos por ai, homens que sentem prazer em acossar mulheres. Ao lado da protagonista, temos Sally Dungan, interpretada por Dianne Wiest, uma secretária que acredita no potencial de Laurel e resolve acompanha-la em sua jornada de negócios, uma empreitada onde assumir riscos traz tensão e instabilidade. Ademais, o filme apresenta também, mesmo que sem aprofundar, pois não é a sua proposta, os impactos da era da manipulação digital, ainda rastejando em 1996, algo mais intenso na atualidade.

Cômico, O Sócio funciona como entretenimento, mesmo que algumas situações do roteiro dependam da suspensão da descrença por parte do espectador. Ao longo de seus 114 minutos, extensos demais para uma narrativa que poderia muito bem contar tudo que precisava com menos tempo, o filme traz por meio de seu discurso sarcástico, a falta de lealdade entre parceiros de trabalho e o distanciamento da ética quando as disputas nos espaços corporativos se tornam mais acirradas. É algo que não é novidade alguma, afinal, na dinâmica selvagem do capitalismo, a máxima “farinha pouca, meu pirão primeiro” já foi tema de um painel extenso de produções ficcionais sobre a temática. O que faz esta narrativa ter um frescor é a presença do elenco engajado, do dinamismo das situações apresentadas e também a mencionada interseccionalidade da protagonista, uma personagem com mais de uma questão para enfrentamento no tóxico ambiente corporativo em que atua: ao lidar com a misoginia, precisa driblar também o racismo estrutural e o preconceito diante da sua idade. Haja força e engajamento, mas Laurel Ayres batalha diante de tudo isso com muita resiliência.

O Sócio (The Associate, Estados Unidos – 1996)
Direção: Donald Petrie
Roteiro: Nick Thiel
Elenco: Whoopi Goldberg, Tim Daly, Eli Wallach, Diane Wiest, Bebe Neuwirth, Austin Pendleton, George Martin, Kenny Kerr
Duração: 114 min.

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