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Crítica | For All Mankind – 4X06: Leningrad

Retorno sobre investimento.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Todo político é assim: só pensa no que é bom para si mesmo e não para seus constituintes. A recusa de Irina Morozova, da Roscosmos, e de Eli Hobson, da NASA, em bancar os dois trilhões de dólares necessários para a complexa operação de captura, mineração e transporte para a Terra do irídio do meteoro Cachinhos de Ouro localizado no episódio anterior se dá unicamente porque o retorno desse investimento só acontecerá em pelo menos 35 anos, ou seja, não beneficiará diretamente os dois ou qualquer outro político na órbita deles. E é isso mesmo. Não tem saída e não tem ficção científica ou História Alternativa que consiga escapar desse tipo de abordagem, pois ela parece ser da essência do que é ser político e traduz com perfeição a tragédia que isso significa para a Humanidade.

Óbvio que eu não estou aqui absolvendo a iniciativa privada da ambição e da ganância que resulta da situação que descrevi acima, pois Aleida, representando a Helios, mesmo enxergando que o que precisa ser feito é para o futuro e não para o presente do planeta, sabe muito bem que sua empresa beneficiar-se-á imediatamente do vultoso investimento (enquanto escrevo isso, fico tentando imaginar – e falhando – como seria essa pilha de dinheiro…) e não apenas décadas no futuro, mas funcionários públicos que em tese trabalham para o povo terem esse tipo de raciocínio é o fim da picada. Portanto, não, a Helios não é boazinha, mas, na escala da corrupção, as entidades públicas citadas e todos os aparatos governamentais ao redor delas, são infinitamente piores.

Seja como for, fiquei até surpreso que o conceito alternativo proposto por Eli não foi sequer ventilado antes, ou seja, no lugar de capturar e minerar o meteoro a partir de Marte, porque não rebocá-lo até a órbita da Terra, o que tornaria tudo mais “simples”? Foi um momento “eureka” que, pessoalmente, achei muito estranho, pois estamos falando de mentes brilhantes que já deveriam ter feito dezenas de “torós de palpite” para discutir todas as hipóteses, por mais difíceis, caras e esdrúxulas que elas pudessem ser. Faltou, talvez, um cozimento melhor do roteiro que me soou afobado demais em criar um momento de “lampadinha na cabeça” para que a ideia fosse então apresentada.

Mas o grande destaque da conferência do M-7 em Leningrado foi mesmo a revelação de que Margo está viva e bem, depois de desertar para a União Soviética em 1995, logo antes do atentado na NASA. Confesso que eu mesmo não tinha certeza se ela era considerada como morta ou se sua traição e fuga eram conhecidos e gostei que finalmente a situação ficou bem clara, levando a um belo momento de reencontro ele ela e Aleida que as levam a tentar solucionar juntas o problema do reboque do Cachinhos de Ouro até a Terra. Se em Goldilocks o mistério sobre Danny finalmente veio à luz, agora com o mesmo acontecendo com Margo a ponte entre temporadas fica perfeitamente pavimentada. E o melhor é que, nessa mesma toada, Margo retorna ao poder, desta vez perante a Roscosmos, finalmente dando significado ao que inicialmente classifiquei como insistência da série em manter a personagem ativa na série.

Falando em “personagens fundadores”, o rebaixamento de Ed Baldwin fala muito do personagem. Se sua função na série era razoavelmente justificável antes, toda a sua personalidade mesquinha e vingativa volta à tona quando ele decide fazer o bem não por fazer o bem, mas sim para semear o caos em Happy Valley e desestabilizar Dani que, além de ser a líder da base, é sua amiga de longa data. Ou seja, ele entrega de bandeja aos trabalhadores da Helios aquilo que eles precisam para se sindicalizarem e evitarem ser ludibriados pela empresa, mas ele só faz isso por não ser mais o oficial executivo dali. Mas não falam que há males que vêm para bem? Pois esse pode ser um desses, ainda que eu espere que, agora, Ed acabe em uma sinuca de bico que o tire em definitivo de qualquer cargo de poder na base ou perante a Helios.

E se a mesquinharia reinou no lado de Ed, no que se refere a Miles, a coisa foi para uma direção que eu confesso que não esperava, apesar de, claro, já estar esperando que os dois de alguma forma se enfrentassem. De maneira semelhante, ele é “rebaixado” por Ilya que o afasta de seus negócios em razão do contrabando de pedras marcianas para a Terra, o que resulta em Miles usar os norte-coreanos para dar a volta por cima e, executar um golpe que o leva à posição máxima do submundo de Happy Valley, o verdadeiro “Poderoso Chefão” dali.

Leningrad, portanto, foi o episódio que “quebrou” aquela impressão geral de que a série caminhava para uma utopia no estilo Star Trek e que nos relembrou que a Humanidade não tem muito jeito não. Mais do que isso, voltei a ter a sensação de que For All Mankind poderia muito bem ser um prelúdio da excelente The Expanse, especialmente em razão da decisão de rebocar o meteoro até a Terra no lugar de deixá-lo na órbita de Marte, o que poderia muito facilmente ser o começo da cisma entre planetas que é tão integral à série de Naren Shankar.

For All Mankind – 4X06: Leningrad (EUA, 15 de dezembro de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Sylvain White
Roteiro: Eric Phillips
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Cynthy Wu, Coral Peña, Toby Kebbell, Tyner Rushing, Daniel Stern, Edi Gathegi, Svetlana Efremova, Noah Harpster, Dimiter Marinov
Duração: 55 min.

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