A confeitaria é uma área cada vez mais envolvida no desenvolvimento de obras de arte. Muito além das gostosuras para nos deliciarmos em eventos com produtos feitos por especialistas deste âmbito, podemos acompanhar também as suas criações dando atenção aos sentidos de maneira múltipla, indo além do paladar, contemplando a visão. No divertido Sugar Rush de Natal, temos as habituais características de um reality show para o processo de identificação do público com os seus participantes, pessoas comuns diante do voyeurismo e exibicionismo típico deste tipo de programa centrado na observação daquilo considerado real. Aqui, acompanhamos os doces e bolos natalinos numa competição com um vencedor e um tema natalino por episódio. São quatro duplas, competindo diante de três temas. Como proposta, os realizadores colocam na corrida um cupcake, um doce ou sobremesa e um bolo confeitado, sendo o último o mais desafiador e com carga de exigência mais elevada pelos jurados.
O ganhador, depois de bastante avaliado, recebe a quantia de 10 mil dólares. Com suas produções, eles conseguem ativar a serotonina dos envolvidos, molécula que age no sistema nervoso central e possui capacidade de influenciar sensações corporais e até a nossa cognição. E, nós, do lado de cá, também ficamos engatilhados, tamanha beleza e sabor em tela. Missão de difícil julgamento para os jurados, tamanha a beleza de tudo que é desenvolvido com maestria por concorrentes de peso. Se fosse sobre um tema qualquer, o programa já seria muito lindo, mas sendo um especial natalino, as coisas se sobrepõem ainda mais, pois os festejos em questão são conhecidos por sua decoração cheia de beleza, versatilidade e magia.
No quesito paladar, além de muito açúcar de confeiteiro, menta, cranberry e um manancial de especiarias estão entre os sabores mais utilizados entre os concorrentes. Sinestésico, Sugar Rush de Natal traz para os espectadores uma cenografia muito expressiva, bem como cuidadosa direção de fotografia, setor habilidoso, ao serpentear cada espaço para contemplar as belezas da arquitetura gastronômica daquilo tudo que nos é apresentado em tela. Há, como não poderia deixar de ser, uma trilha sonora especificamente estruturada para expressar uma sonoridade natalina, recursos estéticos que transformam o programa numa experiência visual vigorosa e tematicamente interessante, flertando também com empreendedorismo, criatividade, gestão do tempo, dentre outros tópicos temáticos do mundo do trabalho contemporâneo.
Apresentado com humor, irreverência e carisma por Hunter March, Sugar Rush de Natal conta com um time de jurados composto por Candace Nelson e Adriano Zumbo. Confeiteira considerada a “rainha” dos cupcakes nos Estados Unidos, Nelson traz a sua experiência na avaliação dos concorrentes, com opiniões técnicas que muitas vezes não contempla os nossos interesses enquanto espectadores na torcida, mas que precisam ser acatadas e respeitadas pelo fato da participante não apenas entender do assunto, mas experimentar os deliciosos sabores das produções dos integrantes da corrida açucarada, diferente de nós, que ficamos apenas do lado de cá, a contemplar tudo com vontade imensa de saborear as delícias apresentadas com muito esmero. O mesmo acontece com Zumbo, confeiteiro australiano conhecido por suas receitas mirabolantes. Ambos precisam, em alguns momentos, de jurados especiais, quando o desempate se estabelece como necessário para a continuidade da empreitada.
Em linhas gerais, um excelente reality show. E bem conectado com a temática natalina.
Sugar Rush de Natal (Sugar Rush Christmas, EUA – 2019-2020)
Direção: Doneen Arquines
Roteiro: Doneen Arquines
Elenco: Hunter March, Candace Nelson, Adriano Zumbo, Tiffani Thiessen, Jeanine Mason, Liza Koshy, Meryl Davis
Duração: 08 episódios/30 min.