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Crítica | Feriado Sangrento

Para quem vai o primeiro pedaço?

por Felipe Oliveira
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Embora tenha chamado atenção em sua carreira com o agonizante torture porn na trilogia de O Albergue, a carreira de Eli Roth veio com um início promissor ao emular a fórmula do slasher em Cabana do Inferno, um survivor movie que traçava críticas a hipocrisia de uma pequena cidade frente a um surto contagioso. Na época, mesmo com o orçamento limitado, o longa colocou Roth na esteira como um dos fãs do horror mais criativos pela maneira que misturava estilos. E depois do subgênero ser explorado pela ótica dos requels e tramas nostálgicas, Roth retoma com grande estilo ao configurar uma premissa atual que transita pelas características que consagraram os clássicos.

Desde seus primórdios, o slasher tinha como plano de fundo uma tradição como temática: do Halloween, ao dia do azar, aniversário e Natal, e Roth entende isso ao lançar mão de um importante feriado nos Estados Unidos e fazer do Dia de Ação de Graças o tema para seu terror. A genialidade com que o cineasta mescla crítica social e a paixão pelo gênero é notável na cena de abertura, que embala um sentimento de suspense até se tornar inesperadamente uma bola de neve caótica, ácida e brutal, o que serve de base para como o roteiro de Roth e Jeff Rendell vai costurando a estrutura que acompanhava o terror mainstream e referencial da cultura pop. Podemos reconhecer acenos a O Massacre da Serra Elétrica, Eu Sei o que Você Fizeram no Verão Passado e a violência generalizada de Premonição, mas também visualizar que a dupla resgata a estrutura genérica do grupo de amigos adolescentes inconsequentes do gênero.

Os dois últimos filmes de Pânico fizeram o de praxe na franquia com a revelação de quem é o Ghostface, mas com Feriado Sangrento, Roth reflete um whodunnit que gera o suspense para quando o impiedoso assassino peregrino trajado de John Carver vai traçar suas vítimas enquanto apresenta sua final girl. Inicialmente, há uma estranheza nessa sacada de fazer um slasher contemporâneo à medida que emula os tropos e também apresenta sua marca: o exploitation. Ainda assim, Roth consegue utilizar isso com esperteza  ao apelar para o gore gráfico justamente para compor a sua sátira à cultura do consumismo e violência banalizada – e igualmente, entra no tecido das redes socais que se apropria e vulgariza tragédias por visualização “Você vai quebrar a internet. Olha quantos likes!”.

Depois de todo o terreno organizado, fica fácil para Roth percorrer Thanksgiving com várias facetas; ora um slasher satírico com humor ácido, ora um trash sanguinolento, mas acima de tudo, divertido e naturalmente uma homenagem aos clássicos que o público aprendeu a abraçar. Comum em seu repertório, novamente, o cineasta remete a Sexta-Feira 13 no sádico trecho que envolve uma cama elástica e depois de muito tempo, há um momento em questão que relembra a memorável cena com bonecos de A Casa de Cera na divertida sequência com cabeças de manequins. A graça nisso é que o filme passa por referências sutis que se revelam reimaginações de episódios famosos do gênero e também por perto a essência da fórmula.

Talvez, os nomes mais famosos do elenco sejam Gina Gershon e Patrick Dempsey, enquanto Roth apresenta um leque de personagens desinteressantes e se esforça para ganhar apelo, sobretudo, ao conceber Feriado Sangrento como o início de uma franquia. O que sobressai esse ponto do fraco do filme é pelo texto ser repleto de mortes criativas, o que se potencializa com as longas dinâmicas de embate e perseguição com o assassino – até chegar na sequência que prepara o clímax, literalmente envolvendo um forno e mesa de jantar. São nesses momentos que Roth deixa de lado o cânone referencial e aposta em cenas sádicas que satirizam os simbolismos do feriado – o peru, os votos de gratidão – e transforma o Dia de Ação de Graças em um banquete para o slasher.

Depois de servir a mesa, Thanksgiving apresenta um desfecho com ideias confusas, dividido em fazer jus a abordagem provocativa do início e entregar reviravoltas mal desenhadas, mas o que resta para ser grato é que temos um filme que consegue até mesmo aproveitar jumpscares enquanto faz a linha paródia e sátira sem assumir essa autoconsciência; como um slasher que aponta para os clássicos, porém, com a bagagem de um amante do terror ansioso para trazer um frescor para o gênero.

Feriado Sangrento (Thanksgiving – EUA, 2023)
Direção: Eli Roth
Roteiro: Eli Roth, Jeff Rendell
Elenco: Patrick Dempsey, Ty Olsson, Gina Gershon, Karen Cliche, Nell Verlaque, Rick Hoffman, Gabriel Davenport, Jalen Thomas Brooks, Mika Amonsen, Amanda Barker, Shailyn Griffin, Tim Dillon, Chris Sandiford, Addison Rae, Tomaso Sanelli, Jenna Warren, Milo Manheim, Joe Delfin
Duração: 106 min.

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