Um dos fenômenos da animação da virada do milênio não podia deixar a temática natalina de lado, não é mesmo, caro leitor? Assim, Bob Esponja, o nosso humorado “calça quadrada”, viveu a magia natalina em vários momentos de sua caminhada pela cultura pop, mas a breve análise em questão foca aqui em sua primeira imersão na temática, uma jornada de 21 minutos sobre o poder da amizade e da doação. Criado por Stephen Hilenburg, um biólogo marinho que já tinha esboçado o personagem anteriormente em outros formatos narrativos, Bob Esponja saiu do terreno animado e se tornou uma franquia de enorme sucesso, estampando camisetas, se tornando brinquedos palpáveis para crianças e adultos colecionadores, trafegou por narrativas cinematográficas, dentre outras produções voltadas ao seu extenso legado. E, entre estas idas e vindas, versou sobre assuntos diversos, dentre eles, as adversidades dos festejos natalinos, em um episódio exibido em dezembro de 2000.
Ao longo de seu desenvolvimento, acompanhamos Bob Esponja numa passagem para além do ambiente marinho. Como sabemos, ele mora em um abacaxi subaquático, situado na Fenda do Biquíni, região onde vive as suas grandes aventuras ao lado de outros personagens icônicos deste universo, tais como Lula Molusco, Patrick, dentre outros. Nesta viagem para fora de seu espaço natural, ele encontra alguém que ilumina uma árvore e acha tudo aquilo muito estranho. Questiona e, ao perceber a surpresa do outro ao observar que ele sequer sabe da existência de uma comemoração chamada Natal, retorna para o fundo do mar com uma mensagem de otimismo. Fala aos amigos sobre o Papai Noel, sobre os símbolos da época, numa empolgação que contagia diversos personagens, menos Lula Molusco, costumeiramente pessimista.
Cartas são produzidas para Noel, a ansiedade para os presentes cresce vertiginosamente, todos parecem envolvidos por uma magia intensa, inspirados pelas palavras de Bob Esponja sobre o período. Num trabalho cuidadoso do design de produção, elementos oceânicos são transformados em decoração natalina, numa interessante adaptação de contextos, haja vista a cenografia desta animação ser subaquática, algo que poderia trazer limitações diante do habitual arsenal simbólico da época em terra firme. Depois de muito aguardar a visita do Papai Noel, os personagens começam a desanimar. Após cânticos intensos, a palavra de Bob Esponja entra numa zona de questionamento. Todos vão embora e o personagem entra num clima de tristeza absoluta, pois acreditou no poder do Natal, mas acabou saindo como mentiroso.
É ai que entra o inesperado. Tocado pelos sentimentos do amigo, Lula Molusco decide virar a chave da situação. Usa um traje de Papai Noel e aparece para Bob Esponja, tentando reanimar o jovem tristonho. Numa mensagem sobre o poder da empatia e da doação, ele acaba sendo reverenciado por todos como o icônico símbolo natalino, indo além da aparição e distribuindo presentes de todos os tipos para o diverso público que aparece em sua porta em busca de um mimo. De tanto conceder, acaba ficando com a sua casa vazia. Há uma mensagem ai sobre a importância do desapego, responsável por transformar o universo de aventuras de Bob Esponja numa visão otimista sobre a vida. É um episódio dinâmico, divertido e com tom pedagógico. Os diálogos versam sobre trocas simbólicas, mantendo os padrões das narrativas especiais sobre os obstáculos dos envolvidos em busca do Natal “perfeito”.
Bob Esponja em: Natal Quem? (Sponge Bob Squars Pants: Christmas Who) — EUA, 2001
Direção: Paul Tibbitt, Walt Dohrn
Roteiro: Stephen Hillenburg, Mr. Lawrence, Walt Dohrn
Elenco: Tom Kenny, Sirena Irwin, Clancy Brown, Dee Bradley Baker,Rodger Bumpass, Bill Fagerbakke
Duração: 22 min.