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Crítica | Berlim na Batucada

Conversa popular e muita música!

por Luiz Santiago
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Dirigido pelo prolífico Luiz de Barros, Berlim na Batucada (1944) é um dos típicos “filmes de Carnaval” que fizeram muito sucesso no cinema brasileiro entre as décadas de 1930 e 1940. Mescla de musical com diversas estrelas do rádio e exposição de elementos do Teatro de Revista, o longa-metragem também faz uma brincadeira com a situação geopolítica do mundo, naquele momento da 2ª Guerra Mundial, e coloca, em meio à comédia, Hitler e um produtor cinematográfico dos Estados Unidos vivendo em território brasileiro. No processo, são criadas situações para mostrar que nenhum dos dois estrangeiros conhece de fato o Brasil, mas o enredo pende, claro, para a amizade dos brasileiros com o americano. 

O roteiro de Adhemar Gonzaga e Herivelto Martins é praticamente uma sugestão simples de “cimento narrativo”, onde um fiapo de história costura bem mal a única coisa que verdadeiramente interessa à obra, que é a apresentação dos diversos números musicais. E aqui é que encontramos o maior problema da obra. Por mais que a proposta de uma fita da Cinédia fosse divulgar as canções marcantes daquele período do ano (pensando especialmente em entregar, com antecedência, os potenciais “hits” do Carnaval), existe algo que precisamos ter, no produto fílmico, para que ele tenha coerência e faça algum sentido dentro da mídia que se propôs explorar, independente do gênero ou da tradição utilizadas. Berlim na Batucada falha nisso.

Não nos faltam exemplos de comédias musicais, só na primeira metade dos anos 40, que tiveram um desempenho melhor na unidade fílmica porque conseguiram criar uma história palpável, uma “peça popular” que desse sinal verde para a execução de tantas canções, muitas vezes quebrando o ritmo narrativo sem nenhum cuidado ou pisoteando qualquer possibilidade de apreensão do que a trama poderia nos fornecer. O que se pode ressaltar de positivo, nesse cenário, são as boas performances dos artistas; e vale também um aceno particular para a recorrente, hilária e muitíssimo bem-vinda interferência metalinguística de um certo personagem, em alguns momentos da trama. 

Verdadeiro produto de seu tempo, Berlim na Batucada fala de política sem pesar a mão em posicionamentos ou discursos profundos. Tudo é visto a partir das peripécias do malandro Mexerica (o ótimo Procópio Ferreira), que precisa recepcionar um tal “produtor da América” (Delorges Caminha) e acaba fazendo com que o estrangeiro conheça uma miríade de artistas dos morros e da periferia da cidade do Rio de Janeiro, colocando-o em contato com “a alma do Brasil” e educando-o em nossa cultura. Diz-se que essa linha do filme é uma paródia da visita de Orson Welles às nossas terras, em 1942. Se foi mesmo esta a intenção aqui, a visão para o cineasta estadunidense não é das mais positivas, embora, por baixo de toda a comicidade da caricatura na tela, exista uma figura muito curiosa e muito encantada com aquilo que o Brasil tem de melhor: o seu povo que luta, bebe, sofre, dá um seu jeitinho para fazer as coisas, e então ri… e dança.    

Berlim na Batucada (Brasil, 1944)
Direção: Luiz de Barros
Roteiro: Adhemar Gonzaga, Herivelto Martins
Elenco: Procópio Ferreira, Francisco Alves, Solange França, Delorges Caminha, Alfredo Viviani, Chocolate, Manoel Rocha, Grijó Sobrinho, Jararaca & Ratinho, Jupira Brasil, Fada Santoro, Carlos Barbosa, Walter D’Ávila, Henricão, Trio de Ouro
Duração: 74 min.

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