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Crítica | Fear the Walking Dead – 8X10: Keeping Her Alive

Strand sendo Strand.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Eu já disse isso muitas vezes, mas não custa repetir: Fear the Walking Dead é uma daquelas séries que nunca realmente se provou, mesmo ocasionalmente entregando episódios irretocáveis e uma temporada particularmente potente (a terceira, caso alguém tenha alguma dúvida), que deveria ter pavimentado o caminho narrativo, mas que, ao contrário, serviu para ela sofrer um soft reboot que decepcionou profundamente. E a razão de eu relembrar esse aspecto é que a segunda metade da temporada final tem mostrado muito claramente que, se a ideia é tentar entregar um fechamento para os personagens legado, ela funciona, ao passo que se desviar disso leva a resultados desastrosos.

Anton foi o recomeço que se valeu exclusivamente de um artifício bobalhão ao reapresentar Strand em meio a turistas alemães em um hotel, ou seja, focou em novidades e se esqueceu do passado em grande parte. Iron Tiger reacendeu a esperança de um final minimamente bacana, ao levar a um encerramento corajoso para Charlie e o que ela representava para Madison, ou seja, concentrou-se em começar a fechar arcos narrativos que já deveriam ter sido fechados há tempos. Mas então veio Sanctuary que, inexplicável e irritantemente, deslocou a ação para a ex-fortaleza de Negan e passou a lidar quase que exclusivamente com o casal “junta-separa” Dwight e Sherry em uma sidequest não relacionada diretamente com a narrativa principal. Em uma demonstração de gangorra qualitativa, eis que Keeping Her Alive volta a falar do que interessa, trabalhando novamente só os personagens legado de uma maneira que há muito não via, ou seja, de maneira mais coletiva e realmente reminiscente do passado, ainda que, claro, deixando Strand e Madison com maior destaque.

O episódio todo gira ao redor de Tracy (Antonella Rose), a filha de Troy que sumira ao final de Iron Tiger e que fora capturada por Strand e presa em PADRE, no epílogo de Sanctuary, para servir de moeda de troca. Retornando para a ilha misteriosa, June, Dwight, Sherry e Odessa confrontam Strand em uma sucessão de diálogos consideravelmente cansados que resultam na garota e seu sequestrador serem levados como tributos para Troy, sob a promessa de ele deixar PADRE em paz. Claro que uma sucessão de pequenas e convenientes reviravoltas faz com que tudo dê errado e Strand recupere a menina – que, graças a ele, passa a saber a localização da ilha – para levá-la até Madison de forma que a versão zumbificada de Alicia seja localizada, algo que não acontece, pois a proposta do final da temporada, ao que parece, é manter a dúvida sobre a morte dela até o fim.

Em meio a mais reviravoltas, Troy enfrenta a tropa de Luciana off screen em um combate que acaba mal para os dois lados e Madison e Daniel perdem Tracy – menina mais esperta do que todos os adultos ali juntos – em meio a uma horda de desmortos congelados que, como eles deduzem, será usada como arma para atacar PADRE (como eu não sei, pois tem água no meio do caminho…). Strand, por seu turno, em outra reviravolta misturada com deus ex machina, é salvo de zumbis pela triunfal chegada do caminhão blindado da S.W.A.T. de Al, agora comandado por um grupo de mulheres que haviam sido salvas por Alicia e que, agora, se vestem como sua salvadora com o objetivo de perpetuar os ideais dela.

A presença dessa tropa que age sob o nome e bandeira de Alicia é uma ideia realmente bacana, mas que teria ficado bem melhor se já fosse apresentada no primeiro episódio desse recomeço de temporada ou, melhor ainda, no começo da temporada como um todo. Perpetuar Alicia por meio das pessoas que devem a vida à ela é, pelo menos conceitualmente, uma linha narrativa muito mais interessante do que tudo o que foi apresentado na temporada final até agora e eu gostaria de ver mais disso, algo que inclusive parece estar presente na história da mãe de Tracy, que acreditava nesses ideais. Claro que tudo irá por água abaixo – por completo esvaziamento do conceito – se Alicia aparecer viva, o que tem uma possibilidade grande de acontecer em uma daquelas sequências em que a mãe se sacrifica pela filha.

Em meio a uma sucessão enorme de twists e a mais completa ignorância de conceitos como distância e passagem de tempo – sei que a série sempre foi assim, mas, aqui, esse aspecto fica ainda mais evidente a ponto de incomodar -, diria que o grande destaque é Strand. Colman Domingo é um ator muito bom que só precisa de um pouco de espaço para destacar-se, algo que ele finalmente ganha em Keeping Her Alive. Claro que a rotina do “sou bonzinho, mas sou vilão” ou, ao revés, “sou vilão, mas sou bonzinho”, já não é novidade alguma e até já deu o que tinha que dar, mas ele continua fazendo muito bem esse papel cheio de camadas que, aqui, o roteiro de Nazrin Choudhury e Calaya Michelle Stallworth usa e abusa para firmar o conceito de que todo mundo desse universo, morto ou vivo, não é completamente uma coisa ou outra. Nem mesmo Ofelia tem sua memória mantida intacta ao longo do episódio, quando Tracy nos relembra de que ela tentara envenenar o acampamento de Troy.

Em outras palavras, no lugar de ficar inventando moda, os showrunners só precisam reverter ao coração da série para criar bons episódios, trabalhando com vagar os tons de cinza da moralidade dos personagens antigos e começando a lidar com fechamentos de arcos, como eles ensaiam, aqui, com o legado de Alicia. Tomara que a gangorra qualitativa acabe e os dois episódios finais sejam bem utilizados para levar o elenco original a um fim tão satisfatório quanto fechado, sem inventar de deixar pontas soltas a serem resolvidas em mais spin-offs futuros.

P.s.: Preparados para o final duplo de FTWD na semana que vem? Só não vão me dizer que ficarão com saudades!

Fear the Walking Dead – 8X10: Keeping Her Alive (EUA, 12 de novembro de 2023)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: James Armstrong
Roteiro: Nazrin Choudhury, Calaya Michelle Stallworth
Elenco: Kim Dickens, Colman Domingo, Rubén Blades, Danay García, Austin Amelio, Christine Evangelista, Jenna Elfman, Jayla Walton, Daniel Sharman, Isha Blaaker, Julian Grey, Antonella Rose
Duração: 43 min.

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