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Crítica | Loki – 2X06: Glorious Purpose

Com o tempo e o espaço nas mãos.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Prometo que comentarei os méritos devidos do segundo episódio batizado de Glorious Purpose de Loki mais abaixo, mas, primeiro, eu queria abordar seu efeito sobre minha percepção da segunda temporada, ou talvez melhor dizendo, o quanto ele deixou claro, para mim, o porquê de eu tê-la achado não mais do que mediana, conforme repetidamente afirmei ao longo das cinco críticas anteriores e que reitero aqui e certamente reiterarei nos comentários gerais sobre ela que antecedem o ranking de episódios. Ao colocar Loki essencialmente em um loop estilo Feitiço do Tempo para que o ex-Deus da Trapaça finalmente descubra qual, afinal de contas, é seu verdadeiro glorioso propósito, tive uma epifania: os roteiros especialmente da segunda temporada fizeram Loki descobrir sua razão de ser em todos os capítulos e não ao longo dos capítulos.

Se realmente espremermos, o Loki do final da primeira temporada é o mesmo Loki do final da segunda temporada, passadas centenas de anos com ele repetindo o mesmo dia e aprendendo tudo o que ele achava que precisava aprender sobre o Tear do Tempo para impedir uma hecatombe multiversal. Mas, se ninguém concordar com essa minha afirmação – e eu entenderei perfeitamente se ninguém concordar – não vejo como não concluir que o Loki do final de Ouroboros é igual ao Loki ao final de Breaking Brad, que é igual, por sua vez, ao Loki do final de 1893 e assim por diante. Igual ou apenas marginalmente mais sábio, em incrementos imperceptíveis, que não são exponencialmente amplificados por suas tais centenas de anos aprendendo tudo sobre o MacGuffin da série. Ou seja, a série toda é um Feitiço do Tempo, só que para o espectador e digo isso negativamente só para ficar claro, já que o desenvolvimento do personagem chegou ao seu pico ao final da temporada inaugural e tudo o que veio depois daí foi redundante, basicamente chover no molhado, até porque a grande descoberta final sobre seus glorioso propósito é de uma simplicidade impressionante que só reitera a filosofia de botequim que permeou a temporada toda.

Dito isso, Glorious Purpose versão 2.0 é, inegavelmente, o melhor episódio da temporada. Se ele fosse o nono e último episódio da temporada anterior – e bastariam pouquíssimas mudanças para que o mesmo resultado pudesse ser alcançado -, ela seria melhor do que foi. Como o último episódio da enrolação danada que foi a segunda temporada, ele também funciona, mas ele basicamente torna inútil os cinco capítulos anteriores. Sei perfeitamente que muitos argumentarão que se ele não passasse a ter o poder de viajar no tempo, se não aprendesse a controlá-lo, necessitando, para isso, conhecer O.B. e Victor Timely, ele não chegaria ao ponto em que chegou, mas meu contraponto é que tudo o que os cinco primeiros episódios da temporada fizeram foi tornar seu caminho mais longo sem um propósito maior para isso.

Mas a razão de o episódio de encerramento ser o melhor da temporada não tem relação com o lugar onde ele pode ou não ser encaixado, mas sim com algo que também discuti na crítica de Science/Fiction, ou seja, o espaço que é aberto para Tom Hiddleston brilhar. Se ele fez milagre com o tempo que teve no episódio da semana passada, agora em que o palco é fundamentalmente só dele e em momentos temporais diferentes de uma mesma linha temporal, o ator arrasa nas nuanças de seu trabalho dramático e transmite uma miríade de sentimentos com linguagem corporal apenas. Mesmo que a realização final sobre seu glorioso propósito seja mequetrefe, a forma como o ator transmite essa realização com seu olhar é o que destaca o episódio. É um roteiro básico – bem estruturado, sem dúvida, mas ainda assim básico – que é transformado e amplificado pela performance do ator que é um Loki “de todas as estações”, sábio e inocente, raivoso e delicado, ignorante e inteligente, tudo em um pacote só que não exigiria nem mesmo qualquer linha de diálogo para funcionar.

A outra razão para essa minha conclusão sobre o episódio é que a execução da sequência final, que leva a narrativa à uma conclusão circular (que, novamente, poderia ter vindo muito antes) e que discute o que o Loki original queria versus o que o Loki de agora deseja, é primorosa. Ver o personagem abrir as portas da TVA e caminhar em direção ao Tear e transformando-se no Loki chifrudo de lenda para destruir a gerigonça e, ato contínuo, agarrar as linhas temporais, sentar no trono e ele mesmo passar a ser a confluência do multiverso na forma de Yggdrasil, a árvore que é o eixo do mundo na mitologia nórdica, foi um toque de gênio que, em uma tacada só, resolve – ou torna possível resolver – o problema do Kang de Jonathan Majors causado pelo próprio ator no mundo real e faz do sacrifício desse Loki (é sempre bom lembrar que se trata do segundo Loki a sacrificar-se heroicamente no Universo Cinematográfico Marvel, pelo que não é novidade alguma o heroísmo dele) uma transformação completa do conceito do multiverso. E isso sem contar que posiciona o personagem como um dos mais importantes do UCM.

O episódio redime a temporada? Certamente que não, mas a encerra em uma nota positiva e corajosa. Eu só realmente espero que o “Loki Entidade Multiversal”, chamemo-lo assim até um nome oficial surgir, não retorne em eventual terceira temporada que, se existir, não deveria tocar nele e sim, talvez, lidar com outra variante ou coisa que o valha. Esse Loki aí sentado no trono do multiverso devia ou ser deixado quieto, como diversas entidades superpoderosas que ficam nas sombras do universo Marvel em quadrinhos ou ser usado com um propósito realmente glorioso em algum filme que tivesse importância parecida com a da dobradinha Guerra Infinita/Ultimato, filme esse que pode ser Guerras Secretas, sem dúvida alguma. Qualquer coisa menos do que isso terá a tendência de destruir a irretocável sequência de transformação final de Loki em algo muito mais do que um deus.

Loki – 2X06: Glorious Purpose (EUA, 09 de novembro de 2023)
Criação e desenvolvimento: Michael Waldron
Direção: Justin Benson, Aaron Moorhead
Roteiro: Eric Martin
Elenco: Tom Hiddleston, Sophia Di Martino, Owen Wilson, Wunmi Mosaku, Eugene Cordero, Ke Huy Quan, Gugu Mbatha-Raw, Tara Strong, Jonathan Majors
Duração: 59 min.

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