- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Com o final da temporada no horizonte, Daes Dae’mar é um episódio que precisa correr para levar todos os personagens principais para Famel, onde provavelmente teremos o desfecho da temporada com a batalha contra o império Seanchan e a proclamação de Rand como o Dragão Renascido, se a profecia se cumprir. Assim como Damane, estamos diante de um episódio caótico, afunilando os núcleos da temporada e atropelando qualquer desenvolvimento orgânico das diferentes tramas da história para reunir as figuras centrais do enredo no palco final do segundo ano da série.
Por um lado, é mais um episódio relativamente divertido em seus passos largos, velocidade de progressões e grandes momentos, com destaque para Lan, que serve como fio condutor do episódio, arquitetando a escapada de Moiraine e Rand, bem como descobrindo como restaurar os poderes de volta para a sua Aes Sedai, num momento bonito da dupla. O bloco de Egwene ganha menos tempo de tela, mas também continua sendo um ponto de destaque do episódio, trabalhando um pouco mais do que vimos no brutal Eyes Without Pity.
Por outro lado, a forma desorganizada e atrapalhada de desenvolver a história da temporada se mostra um grande problema aqui. Chega a ser difícil listar a quantidade de momentos importantes e revelações que são condensadas no episódio, passando pela traição do sobrinho de Moiraine, o sequestro de Mat, a jornada de Perrin, a relação secreta entre Siuan Sanche e Moiraine, a descoberta de Lan, o plano arquitetado por Alanna e companhia, o ataque de Lanfear, etc. É como ver um trator passando por cima de eventos que dariam facilmente três episódios, com a maioria esmagadora desses momentos deixando de ganhar o devido aprofundamento e a paciência que mereciam, sem falar que a própria logística e as distâncias da temporada não fazem o menor sentido.
Isso tira o peso de diversas cenas. Como exemplo, notem a sequência psicológica com Mat, em tese um momento aterrorizante e de grande impacto para um personagem central, mas que é abordado de forma abrupta e que fica quase como nota de rodapé ao final do episódio. Sinto o mesmo com a trama de Perrin ou a traição de Barthanes. É complicado nos envolvermos numa encadeamento tão bagunçado e aleatório, seja dramaticamente, seja narrativamente, por mais que exista um certo entretenimento na narrativa geral. E não falo aqui de entretenimento visual, porque a direção artística e ação deixam a desejar no episódio, resumindo o ataque de Lanfear a explosões aleatórias e a um momento escuro quando as Aes Sedai criam chuva.
Essa forma atropelada de se contar uma história também afeta de maneira drástica o arco dos personagens. Em particular, Rand é o mais prejudicado, sendo jogado para lá e para cá como um boneco que todos desejam, inicialmente capturado pelas Aes Sedai, depois solto de uma forma quase boba pelo grupo de Lan, e no final “salvo” por Lanfear depois de pedir socorro. A falta de personalidade e de ímpeto do personagem mais importante do universo é um ponto negativo terrível, que de certa forma afeta todos os coadjuvantes que circulam sua jornada de herói. No fim, existe movimentação o suficiente para o episódio não ser necessariamente ruim, além de um fio de curiosidade com o desfecho em Famel, mas estamos diante de um exemplo medíocre de como organizar diversos núcleos em uma obra de fantasia de mundo aberto com muitos personagens. É uma pena.
A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 2X07: Daes Dae’mar (EUA, 22 de setembro de 2023)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Sanaa Hamri
Roteiro: Justine Juel Gillmer (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Álvaro Morte, Natasha O’Keeffe, Xelia Mendes-Jones
Duração: 65 min.
