Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Lower Decks – 4X04: Something Borrowed, Something Green

Crítica | Star Trek: Lower Decks – 4X04: Something Borrowed, Something Green

Os segredos de D'Vana Tendi.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Something Borrowed, Something Green até poderia ser classificado como filler, mas eu discordaria veementemente dessa classificação. É bem verdade que, a não ser pelo preâmbulo em que novamente somos apresentados à uma aparentemente mortal nave misteriosa destruindo uma embarcação de piratas Orion, o episódio é consideravelmente solto na temporada, mas isso não faz dele um filler. Na pior das episódios, é um filler da mais alta qualidade, mas mesmo isso seria um equívoco interpretativo, pois, para começo de conversa, Lower Decks não é uma série de narrativa única.

Além disso, D’Vana Tendi era a única personagem do quarteto principal (que, com T’Lyn, está claramente se tornando um quinteto) que não havia ainda ganhado uma história pregressa que fosse além da recusa dela em aceitar seu passado Orion para poder ser uma cientista da Frota Estelar. O episódio em questão vem, então, para justamente nos “reapresentar” à Tendi em uma história de narrativa ágil, refrescante e que a leva de volta ao seu planeta natal e à sua família, depois que a Capitã Carol Freeman basicamente ordena-a tirar uns dias para ir ao casamento de sua irmã D’Erika. Mas, como não poderia deixar de ser, ela não vai sozinha, já que Mariner e T’Lyn se oferecem para acompanhá-la, a primeira com a intenção de farrear, claro, e a segunda com o objetivo de estudar os órions.

O que segue, daí, é uma consistentemente hilária aventura feminina em que todo o véu do passado de Tendi finalmente cai para revelar que ela não só é de um dos mais ricos clãs piratas de seu planeta, como ela mesma é respeitada e, mais do que isso, temida por seus pares em razão de seu treinamento como assassina. Entre liteiras para carregar as três na gigantesca propriedade da família Tendi, as facadas que Mariner leva sempre exatamente no mesmo lugar, as observações diretas e secas de T’Lyn e, claro, os figurinos que as três passam a usar na missão de resgatar D’Erika de um suposto sequestro ritualístico pré-nupcial(???), tudo funciona de maneira muito azeitada para lidar com a conexão umbilical entre as três personagens e para trabalhar os traumas passados de Tendi entre uma versão turbinada de um jogo de bebida, um bordel em que os homens tornam-se escravos sexuais em razão de feromônios e, claro, sua relação conturbada com D’Erika. Mesmo que tudo, ao final, leve à conclusão de que a verdadeira Tendi é a cientista simpática da Cerritos, fato é que nunca mais encararemos a personagem da mesma maneira.

Diferente do que normalmente acontece na série, o roteiro de Grace Parra Janney emudece um pouco a segunda história, simplificando sua estrutura e realmente tornando-a subsidiária à principal, ainda que de forma alguma menos interessante. Afinal, ver Boimler e Rutherford usando o holodeck como duas versões de Mark Twain para lidar com suas diferenças sobre quem pode regar o bonsai que eles têm em sua nova cabine é, por si só, uma ideia tão maluca que é imediatamente sensacional. E, quando tudo deságua na pequena árvore servindo de lanche para um enfurecido Capitão Coqqor (um chalnoth retirado lá do fundo do baú de A Nova Geração e que realmente gosta de comer bonsais), tudo ganha uma espécie de lógica Looney Tunes que é absolutamente adorável.

O acerto em tornar a segunda história em uma espécie de “pé de página” no episódio reside no fato de que a aventura de Tendi e suas amigas em Orion poderia muito facilmente ocupar bem mais tempo do que ocupa. Não que fosse essencial uma minutagem maior, mas fica evidente que toda a atenção está nesse lado, especialmente em Tendi que ganha profundidade e ainda mais relevância na série como uma personagem consideravelmente mais complexa do que alguém que simplesmente renegou seu passado. Existe toda uma construção lógica por trás de tudo e uma discussão relevante sobre determinismo versus livre arbítrio que dá estofo às escolhas de Tendi como algo que vai muito além de um mero capricho de uma garota mimada. E, claro, há o lado da mitologia orion, curiosamente uma das primeiras raças alienígenas da franquia Star Trek (ela apareceu em A Gaiola!), mas que proporcionalmente ganhou pouco destaque ao longo das décadas. Em Something Borrowed, Something Green, há um dilúvio de novas informações sobre a espécie e seu modo de viver.

Something Borrowed, Something Green não é, portanto, um mero filler, ou mesmo um ótimo filler, mas sim um episódio que oferece uma riqueza de elementos e de desenvolvimento sobre um dos quatro principais personagens da série. Trata-se, portanto, de mais um acerto de Mike McMahan que, nesta quarta temporada de Lower Decks, não conseguiu errar ainda.

Star Trek: Lower Decks – 4X04: Something Borrowed, Something Green (EUA, 21 de setembro de 2023)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Bob Suarez
Roteiro: Grace Parra Janney
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, Gabrielle Ruiz
Duração: 24 min.

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