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Crítica | A Freira 2 (2023)

Promessas do maligno.

por Felipe Oliveira
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Quando lançado em 2013, Invocação do Mal foi ganhando força pelo boca a boca gerado pela recepção da crítica e público em torno de um filme que conseguia assustar, efeito raro para o subgênero sobrenatural. A fórmula era a mesma, porém, James Wan fazia as táticas batidas do jumpscare serem eficientes novamente, tudo graças a sua direção habilidosa que transformava uma história genérica numa experiência arrepiante. No meio disso, o cineasta foi expandindo sua vitrine de horror com as entidades que passavam pelo Invocaverso; e dentre as figuras da franquia, apenas Annabelle e Valek seguem expandido o universo compartilhado com a promessa de manterem a essência do susto súbito.

Desde que iniciou com o terror, Wan sempre se manteve na linha entre a qualidade e criatividade – e não é atoa que continua sendo um dos nomes que ainda passa personalidade em suas criações -, e como consequência, ele dá a receita para a indústria explorar para bem ou para o mal esses universos. Para efeito de comparação, Jogos Mortais e The Conjuring exemplificam como são os filmes, em suas respectivas sagas, sem o dedo de Wan, enquanto ele volta para o seu estilo de produção inicial: contar histórias originais com personagens marcantes. Maligno fez isso, quer a crítica e audiência percebendo ou não, assim como M3GAN que, mesmo sendo um filme narrativamente fraco, é indiscutível que a boneca eletrônica é uma nova ícone loira para a cultura pop.

Sendo uma das personagens introduzidas no Invocaverso, Valek retorna em seu segundo filme solo para assustar… antes, a promessa era de que teríamos o capítulo mais tenebroso da franquia com A Freira, agora, Michael Chaves diz se tratar do longa mais sangrento do maior dos males de Invocação do Mal. Não deve demorar para que Valek protagonize um terceiro filme, mas o que The Nun II faz aqui é regurgitar as ideias de Wan em The Conjuring 2 ao mesmo tempo que replica o longa anterior, só que apostando menos nas tentativas de inserir humor nesse universo compartilhado. O resultado é a impressão oposta ao que Wan causou em 2013: uma narrativa de terror genérica incapaz de assustar. Claro, todos os elementos estão lá, mas o único talento que Chaves tem é de emular o que já foi feito, nesse caso, ele seria um Wan usando o jumpscare a exaustão.

Talvez, o efeito mais positivo de A Freira 2 seja da nova parceira de Wan, Akela Cooper e, embora o roteiro seja assinado por três cabeças, é graças a Cooper que o filme tem uma história “mais elaborada” que o anterior. Nesse sentido, temos uma sequência que tenta corrigir os erros do passado fazendo o que seria “um capítulo assustador, de fato”. Para isso, a roteirista sabe espalhar sequências aleatórias em diferentes cômodos para explorar o susto fácil na França de 1956: mosteiros, capelas abandonadas, um internato em decadência, ambientações o suficiente para Chaves evocar seu estilo. Diferente da direção de Corin Hardy, ao provocar imersão em cenas maiores, Chaves utiliza de efeitos práticos e movimentos óbvios de câmera a fim de jogar o jumpscare.

Em síntese, o roteiro estrutura a trama acompanhando o reencontro de Maurice (Jonas Bloquet) – possuído por Valek – com a irmã Irene (Taissa Farmiga), que isolada em um convento, é convocada a investigar uma série de mortes envolvendo membros da Igreja, o que a leva a um internato feminino. Em paralelo a isso, a entidade garante os sustinhos a medida que o suposto clímax com a resolução é preparado. A inconsistência nisso está na falta de propósito de toda a história e em como não há ritmo e muito menos uma construção atrás dos jumpscares, apenas temos um terror amontoando sustos sem cadência, o que faz pensar se este é o legado do Invocaverso: ser mais um filminho de terror sem personalidade. 

Olhando isoladamente para as ideias do filme, diria que funciona por alguns momentos, e poderia ter um resultado melhor se o roteiro fosse objetivo. Cenas como a da nova entidade que surge no tardio ato final ilustra como Cooper conseguiu remeter a um período de inspiração dos primeiros Invocação do Mal, enquanto as constantes sequências reproduzindo a cena que Valek se projetava  de um quadro soa mais como uma autoreferência e intenções de repetir recursos, esgotando a estética sombria e assustadora da antiga freira. A cabo, The Nun 2 mostra que ainda tem o apelo do público ansioso por sustos gratuitos mesmo que não tenha uma história para contar e que o Invocaverso é como MCU: só troca os bonequinhos por demônios.

A Freira 2 (The Nun II – EUA, 2023)
Direção: Michael Chaves
Roteiro: Akela Cooper, Ian B. Goldberg, Richard Naing
Elenco: Taissa Farmiga, Jonas Bloquet, Storm Reid, Anna Popplewell, Katelyn Rose Downey, Bonnie Aarons, Suzanne Bertish, Léontine d’Oncieu, Anouk Darwin Homewood
Duração: 110 min.

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