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Crítica | Drácula (2006)

Uma versão amena e em telefilme do clássico romance de Bram Stoker.

por Leonardo Campos
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Um clássico, várias releituras. Assim é o romance Drácula, do escritor irlandês Bram Stoker, uma das obras-primas da literatura do século XIX mais traduzidas para o suporte cinematográfico. Apesar de amena e com uma série de irregularidades narrativas, esta versão de 2006 veiculada pelos estúdios da BBC aposta numa ousada jornada com os personagens imortalizados pelo livro. Uma das numerosas interpretações da história em questão é a metáfora para a sífilis, em alta na época, um dos males que os britânicos desejavam incessantemente apagar numa sociedade fincada nas aparências. O discurso científico, as ideias sobre transfusão sanguínea, dentre outros tópicos temáticos relacionados aos processos de contaminação: eis a perspectiva crítica de um livro que trazia na mordida do vampiro, uma série de associações com o contexto social da época. Dirigido por Bill Eagles, este telefilme traz a IST como base para o desenvolvimento do roteiro assinado por Stewart Harcout, dramaturgo que optou por tomar o ponto de partida literário como base, dando um novo e caótico olhar para a trama.

Lançado em 2006, Drácula começa o seu enredo em 1899. Arthur Holmwood (Dan Stevens) está prestes a se casar com Lucy Westenra (Sophia Myles). Os dois forma um casal sofisticado na região e a união é algo esperado por todos os que gravitam em torno de suas existências. As coisas começam a se complicar quando o conflito básico é estabelecido: Holmwood descobre que tem sífilis hereditária e, por isso, percebe o quão tenso será consumar sua relação com a esposa. Para resolver a situação, ele resolve procurar uma sociedade chamada Irmandade, tendo em vista realizar os procedimentos científicos para se livrar da doença. Mas, para conseguir o que colocou como meta, terá que pagar um preço nada promocional, pois a sua cura será oriunda de um alto custo: vidas alheias e disseminação do mal conhecido por Drácula.

Interpretado por Marc Warren, o vampiro mais famoso da literatura e do cinema apresenta aqui um perfil bem diferente de praticamente tudo que já vimos antes sobre esta criatura sugadora da energia de pessoas incautas. Não é alto, tem uma “pinta” de surfista, aquele estilo jovial quando não está transformado em um monstro que o deixa ser qualquer coisa, menos sedutor e implacável com as mulheres. É uma sensação no mínimo estranha para quem já contemplou outras versões do vampiro, mas não chega a atrapalhar a aderência que, na verdade, se perde pelo tom anêmico do filme. Temos uma sensação bizarra de que faltou, para os realizadores, a inserção de mais ousadia na prática, haja vista o roteiro irreverente, bastante corajoso ao lidar com um clássico numerosamente levado ao cinema.

Voltemos ao que está proposta na trama. Arthur e Lucy são amigos muito próximos de Mina Murray (Stephanie Leonidas) e Jonathan Harker (Rafa Spall). Numa espécie de emboscada, Holmwood pede que Harker siga para Transilvânia, pois um conde deseja fechar negócios imobiliários importantes. Ao chegar lá, o esposo de Mina passa por uma série de situações, mas não consegue retornar para casa. Quem vem é Drácula, passeando e destruindo vidas no Demeter e, depois, instalando o seu reino de terror não apenas para a jovem esposa preocupada, mas para outros personagens. Sem utilizar quase nada dos diálogos do romance, o texto traz todos os embates que já conhecemos, coloca Van Helsing (David Suchet) em cena, mas tudo por perspectivas diferentes daquilo que já nos acostumamos a observar nas demais adaptações.

Com diversos problemas que impedem um filme impactante, Drácula desenvolve, ao longo de seus 90 minutos, uma trama cheia de potencial desperdiçado. Falta ritmo, força, fé naquilo que todos estão entregando nas cenas. Não é exclusivamente um problema do roteiro, mas também dos aspectos técnicos que prejudicam a sua presença na prateleira dos melhores filmes do conde vampiro realizados desde a publicação do livro em 1897. A direção de fotografia assumida por Cinders Forshaw entrega alguns planos inspirados, próximos ao que podemos considerar como poético. No design de produção, James Merifield também faz um bom trabalho, deixando a atmosfera com cara de reconstituição de época. Sem acordes que demonstre maior profundidade para amplitude da tensão, a trilha sonora de Dominik Scherrer cumpre requisitos básicos, insatisfatórios, no entanto, para disfarçar o uso de CGI em algumas passagens um recurso que deveria ter ficado de fora, pois se não atrapalha, também não acrescenta positivamente em nada.

Drácula (Dracula, Reino Unido– 2006)
Direção: Bill Eagles
Roteiro: Stewart Harcourt
Elenco: Marc Warren, Dan Stevens, Stephanie Leonidas, Sophia Myles, Tom Burke, David Suchet, Rafe Spall
Duração: 90 min.

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