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Crítica | A Roda do Tempo – 2X01 a 03: O Sabor da Solidão / Desconhecidos e Amigos / Como Poderia Ser

Lambendo as feridas.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Antes da crítica, uma confissão: não lembrava de nada do final da primeira temporada de A Roda do Tempo, ao ponto de precisar voltar nos meus textos e assistir alguns resumos para recapitular os acontecimentos da decepcionante estreia audiovisual do universo de Robert Jordan. Aliás, o desfecho do ano anterior é tão desencorajador e indiferente que só soube do retorno da obra poucos dias antes do lançamento dos três episódios iniciais e, fãs dos livros podem me apedrejar por isso, mas desanimei do meu antigo projeto de ler a obra literária por completo. Não quero soar cínico ou pessimista, mas essa série se tornou tão sem graça que até desisti de escrever separadamente desses três episódios ao notar que todos são exatamente iguais: três horas de pura enrolação.

Sem mais digressões céticas e agora contexto. Depois do evento catastrófico de O Olho do Mundo, os cinco jovens de Dois Rios são espalhados pelos quatro ventos. Perrin (Marcus Rutherford) está relutante com seus poderes de lobo enquanto faz parte de uma caçada; Nynaeve (Zoë Robins) e Egwene (Madeleine Madden) começam seu treinamento como Aes Sedai; Mat (Dónal Finn, substituindo Barney Harris) está em uma prisão após ter sido corrompido; e Rand (Josha Stradowski) se escondeu ao descobrir que é o escolhido para salvar ou destruir o mundo, buscando um professor (he, he) não muito confiável. Enquanto isso, a mentora do grupo, Moiraine (Rosamund Pike), está tendo dificuldades para lidar com sua perda de poderes e esconde novos segredos de seu Guardião, Lan Mondragon (Daniel Henney), que, em tese, perdeu seu vínculo com a feiticeira.

Aliás, todos aqui estão com dificuldade para lidar com os acontecimentos da season finale. Os três episódios focam demasiadamente nas consequências emocionais e perturbadoras que os personagens passaram, algo que é interessante de início, até na maneira como a trama se desvia de um épico de fantasia para um faz-de-conta melancólico. É notável como os diálogos estão mais maduros e se dissociando dos clichês de namoricos adolescentes do ano anterior, com uma dramaturgia que alça algo menos superficial apesar de nunca encontrar profundidade, e também como a narrativa se interessa em desenvolver a mitologia interna de alguns cantos deste universo, como a Torre Branca e o Portão da Frente.

A questão é que essa lambeção de feridas fica exaustiva depois de três episódios. Por mais aplaudível que seja a vontade de amadurecer do roteiro e dos diálogos, existe um excesso de conversações, gorduras de exposição e repetições dramáticas sobre solidão e trauma que dão a impressão que estamos andando em círculos narrativos. Não ajuda no ritmo o fato dos personagens estarem muito divididos, arrastando a história e a montagem no vai e vem entre os diferentes núcleos, todos com quase nenhuma progressão ao longo da trinca de capítulos. Existem bons momentos, como o bloco de Nynaeve perdendo sua filha e uma vida melhor contendo grande força dramática ou a continuidade do ótimo arco de Lan em sua falta de propósito, mas é difícil sacudir a sensação incômoda de que essas intermináveis conversas e momentos deprimidos são só enrolações desnecessárias para roteiros que carecem de agilidade.

A falta de direção é também vista no principal cacoete da produção: confusão na estrutura narrativa. Para três episódios relativamente parados e contidos em determinados cenários, existe muita informação jogada no espectador, mas naquela maneira de construir mistérios que são mais desordenados do que engajantes. Muita coisa é falada, muita mitologia é explicada, mas nada que realmente mova as tramas dos cinco personagens de modo interessante ou que cative a audiência com a fantasia. Existe até uma certa arbitrariedade na forma que novos personagens e elementos são inseridos, como a aparição do império dos Seanchan na vila que Perrin está ou a forma como cada episódio termina com uma cena de ação para esconder o tédio da história.

O design de produção dos três episódios está melhor do que o ano de estreia, com cada um dos cenários e vestimentas aqui parecendo autênticos, mas é perceptível a falta de encanto com o universo, seja pela direção, seja pela construção das tramas que não exploram nada. Isso acontece porque as três horas que assistimos do segundo ano de A Roda do Tempo são confusas, entediantes e repetitivas, sem nos levar para lugar algum. No final do terceiro episódio, a impressão é que estamos no mesmo ponto do início da segunda temporada, com os cincos jovens ainda mórbidos e perdidos numa aventura que não delineia nenhuma jornada propriamente dita, que não captura nossa atenção com tanta informação complicada e que parece tão desconexa quanto o desfecho do ano anterior.

A Roda do Tempo (The Wheel of Time) – 2X01 a 03: O Sabor da Solidão / Desconhecidos e Amigos / Como Poderia Ser (EUA, 01 de setembro de 2023)
Showrunner: Rafe Judkins
Direção: Thomas Napper (1X01 e 02), Sanaa Hamri (1X03)
Roteiro: Amanda Shuman (1X01), Katherine B. McKenna (1X02), John McCutcheon (1X03) (baseado na obra homônima de Robert Jordan)
Elenco: Rosamund Pike, Josha Stradowski, Marcus Rutherford, Zoë Robins, Dónal Finn, Madeleine Madden, Daniel Henney, Fares Fares, Kate Fleetwood, Johann Myers, Hammed Animashaun, Álvaro Morte
Duração: Aprox. 60 min. cada episódio

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