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Crítica | Nathan Never – Vol. 21: Delírio

Qual é o foco da história?

por Luiz Santiago
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A minha impressão, após a leitura de Delírio, é que o escritor Bepi Vigna tentou encontrar uma resolução rápida e “relativamente fácil” para um problema complexo e praticamente sem resolução — ou pelo menos de resolução que demandava mais tempo e história específica para ela. O resultado? Uma trama que até poderia ter mais graça, se fosse apenas um estado de coma de Nathan Never após sofrer um atentado. Durante esse período, ele acaba tendo uma “viagem sobrenatural“, como se conhecesse uma versão/Universo possível da existência entre a vida e a morte — daí o Delírio, do título. Mas o texto não para por aí. O autor utiliza essa “viagem” para fazer com que Nathan dê a partida que resolve o problema de sua filha Ann, conhecida pelos leitores no díptico Abismo da Memória e O 11° Mandamento.

Vejo um problema muito grande nesse caminho dramático utilizado, porque é algo que acaba caracterizando a aventura inteira, tirando a importância que um atentado a Nathan poderia ter, com consequências bem piores. Claro que outros autores ou o próprio Vigna podem utilizar os eventos desse volume para introduzir boas histórias na série, mas é fato que, aqui, o delírio, a investigação, a caçada à pessoa responsável pelo atentado (alguém que estava querendo se vingar) e o desfecho meio bobinho da trama deixam tudo numa linha medíocre de qualidade, sem saber muito para onde ir. Pelo menos nesse contexto, e com essas fichas dramáticas em jogo, Delírio é uma aventura de ação com momentos que se destacam com algum mérito porque sugerem que vão decolar para um lugar com melhor contexto, mas, na verdade, nunca o fazem. E dá-lhe frustração!

Os desenhos de Stefano Casini (que fez um ótimo trabalho em outras edições da série, como Operação Dragão e A Ilha da Morte) procuram dar uma perspectiva de ação intensa, e até consegue isso em alguns quadros, mas não é algo mantido ou com um propósito coeso dentro da edição, infelizmente. A diferença entre os mundos da ação é boa, mas minha birra com o encadeamento narrativo impediu com que eu visse positivamente o trabalho geral da arte aqui, e para ser sincero, como a diagramação de páginas, nesse volume, não é lá essas coisas, não há também muito incentivo para ver o material com olhos mais carinhosos.

Delírio é a primeira aventura de Nathan Never que eu acho medíocre, e isso tem muito a ver com o fato de que a trama parece não ter uma intenção maior, não saber onde quer chegar. E pior: é utilizado algo ligado à saúde física do protagonista para solucionar um problema psicológico de outra pessoa, através de um contato sobrenatural ou metafísico, baseado no desejo de uma criança. Aí é pedir demais do leitor, não é não?

Nathan Never – Vols. 21: Delírio (Delirio) — Itália, fevereiro de 1993
Roteiro: Bepi Vigna
Arte: Stefano Casini
Capa: Claudio Castellini
100 páginas

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