É interessante como desde que protagonizou Joias Brutas, que contou com um dos seus papéis distintos, Adam Sandler tem tentado manter o que sobrou dos dotes dramáticos com o que já é marca da sua carreira: a comédia. Fruto da sua parceria como produtor com a Netflix, Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá! tem tudo o que Sandler tem feito ao longo dos anos: rom-com com alguns traços da sua relação com o judaísmo, no entanto, utilizar de um estilo consagrado para contar uma história com viés recorrente – o do amadurecimento – confere a adaptação do romance homônimo de Fiona Rosenbloom uma cativante e cômica abordagem, mostrando que é possível uma comédia com Adam Sandler funcionar.
Contando a história de Stacy (Sunny Sandler), uma adolescente de família judaica sofrendo a pressão de planejar seu Bat Mitzvá, rito de passagem que representa a transição de meninas para a fase adulta, enquanto experimenta os dilemas que a pré-adolescência oferece – ter um crush, ser popular e estilosa -, o roteiro de Alison Peck é inteligente ao adaptar o livro de Rosenbloom para uma linguagem contemporânea através da comédia romântica, e que na verdade é mais sobre uma jornada de autodescoberta e amizade. O que concede vitalidade a essa proposta é a habilidosa direção de Sammi Cohen, diretora que tem mostrado uma desenvoltura brilhante para executar narrativas do gênero, como Crush, seu filme de estreia.
Há uma timing criativo e irônico em como o filme espelha os aspectos da plataforma TikTok para se relacionar o público atual em sua estrutura, e são momentos como quando Stacy rompe a amizade com a best Lydia (Samantha Lorraine) e toca Traitor, de Olivia Rodrigo, no exato trecho “You betrayed me, and I know that you’ll never feel sorry“, é que torna Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá! genuinamente hilário por conseguir inserir os comportamentos dos tiktokers – o que envolve também os diálogos – de maneira ridiculamente dramática, como deve ser. Porém, ao contrário de ser mais uma comédia pastelona de Sandler que mal chega a ser besteirol, o filme respira a direção inspirada de Sammi junto a talentosa performance de Sunny Sandler interpretando a complicada Stacy.
Exceto quando Adam Sandler está tentando ser engraçado vivendo ele mesmo – de novo, como pai -, daria facilmente para enquadrar o filme como um clássico independente sobre amadurecimento, pois há um esforço que reflete a cultura pop numa espécie de sátira sem necessariamente fazer disso uma média para o humor ou quando o roteiro esboça escolhas originais mesmo que a trama apresente resoluções tradicionais do gênero – principalmente no ato final. Muito dessa intenção de levar o filme para caminhos diferentes pode ser percebida em como Cohen deixa as subtramas numa zona sutil, como uma forma de trazer mais maturidade na abordagem. Um exemplo disso é em como trabalha o rompimento de Stacy e Lydia sem nunca deixar a dinâmica de rivalidade virar o foco. No geral, entre ter um pouco de Meninas Malvadas, Noivas em Guerra ou qualquer outra trama sobre amigas que se tornam más quando brigam, Cohen prefere fazer disso um elemento superficial, ao menos inicialmente.
A forma como a roteirista Alison Peck e Cohen adicionam diferentes suspiros as conhecidas batidas desse coming of age que se mistura com uma comédia romântica pré-adolescente, é o que tira a adaptação de um lugar comum e distingue dos inúmeros títulos semelhantes do catálogo da Netflix. O filme fala mais sobre evolução e autorreflexão de sua protagonista e de como o afastamento entre amigas e ambições improváveis vão chacoalhando a visão de uma adolescente em um momento decisivo de sua vida. Com a narrativa seguindo a perspectiva de Stacy, a direção oferece paralelos entre o turbilhão de emoções da personagem, como o pulo do penhasco ou na maneira que lida com seus picos dramáticos – a exemplos dos planos detalhes com uma edição quase fantasiosa na troca de olhares entre Stacy e sua mãe, ou na representação visual do distanciamento que Stacy sente com Lydia.
Reunindo toda a família para uma comédia dramática – a esposa e duas filhas – é surpreendente que o resultado tenha sido estiloso e envolvente, mesmo com Sandler sendo o único a apresentar uma atuação afetada nesse brilhante coming of age. Como um olhar mais cômico a Are You There God? It’s Me, Margaret? misturado a uma versão invertida e discreta de Gatinhas e Gatões, Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá! possui muito mais qualidade do que a aparente cilada que é assistir a um filme de comédia sobre amadurecimento e Adam Sandler no elenco.
Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá! (You Are So Not Invited To My Bat Mitzvah – EUA, 2023)
Diretor: Sammie Cohen
Roteiro: Alison Peck (baseado no romance de Fiona Rosenbloom)
Elenco: Sunny Sandler, Idina Menzel, Samantha Lorraine, Sadie Sandler, Adam Sandler, Jackie Sandler, Dylan Hoffman, Dean Scott Vasquez, Millie Thorpe, Dylan Chloe Dash
Duração: 103 min.