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Crítica | O Rei Macaco (2023)

O trapaceiro Sun Wukong.

por Kevin Rick
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Baseado no famoso romance mitológico chinês Jornada ao Oeste, a animação O Rei Macaco é mais uma adaptação audiovisual da lenda de Sun Wukong, um primata com poderes extraordinários que busca imortalidade e acaba confrontando outras divindades em seu caminho. Das mais diversas adaptações da lenda, a minha versão favorita é o divertido O Reino Proibido, com Jackie Chan e Jet Li, apesar do filme ser bem diferente do material de origem. Também é possível notar a influência da obra chinesa em diversas produções de sucesso, como Dragon Ball, por exemplo. Sempre quis assistir uma versão animada desta história, muito em razão das possibilidades modernas de computação gráfica que podem retratar com criatividade visual os absurdos fantasiosos da jornada do macaco trapaceiro, mas cá estamos com uma adaptação decepcionante da Netflix.

Dirigido por Anthony Stacchi, com roteiro de Steve Bencich, Ron J. Friedman e Rita Hsiao, a animação é relativamente fiel à premissa do romance chinês, com Sun Wukong (Jimmy O. Yang) sendo apresentado como um macaco diferente que nasce de uma pedra no topo de uma alta montanha, tendo poderes desde o início. Enquanto cresce, o personagem é rejeitado por outros macacos até derrotar um demônio local. A partir daí, o “herói” inicia sua jornada fantástica com objetivo de derrotar demônios para chamar a atenção dos Imortais, eventualmente buscando imortalidade e se rebelando contra as divindades que queria agradar. Durante sua trajetória, o protagonista tem a ajuda de um bastão mágico e de uma assistente humana chamada Lin (Jolie Hoang-Rappaport).

Considerando que a própria lenda do Rei Macaco criou muitos clichês de obras de fantasia, principalmente do estilo oriental de se contar histórias, era de se esperar uma narrativa formulaica e previsível em torno de temas sobre heroísmo, sacrifício, comunidade, etc., algo normalmente comum em tramas folclóricas e mitológicas relacionadas a origem de grandes figuras como Sun Wukong. O que eu não esperava é que o conto seria genérico ao ponto de extirpar qualquer traço cultural da lenda. A forma dos personagens conversarem, os cenários, a ambientação e até a estranha trilha sonora de rock tiram qualquer atributo e qualidade da origem do conto, em um descaso absurdo para costumes e comportamentos que homenageiam o folclore que estão adaptando. Para além de algumas referências ou o próprio contexto da obra, a produção faz pouco para se distinguir culturalmente.

Pior do que isso, a falta de criatividade durante a jornada em si é gigantesca. Aderindo a um formato episódico, vemos o protagonista ir ao fundo do mar, ao inferno e ao Céu, mas tudo sem escopo e sem ambição, seja no aspecto puramente visual ou na ação. Por exemplo, no bloco do inferno temos uma fila de mortos e uma espécie de biblioteca, enquanto nas sequências do Céu vemos duas casas de nuvens e só. É tudo trivial, sem interesse em criar ambientação ou senso de espetáculo, algo que não combina para a grandiosidade de Jornada ao Oeste. A narrativa chega ao ponto de ser entediante em muitos pontos, principalmente quando a obra adere um humor forçado, como na sequência em que os personagens são “drogados” por pêssegos batizados.

Existem cores, algumas coreografias bacanas e uma dublagem carismática que seguram um nível mínimo de entretenimento, principalmente para crianças, mas é pouco demais. O filme não tem personalidade e a equipe criativa está confortável com  elementos básicos e banais de uma história de aventura. Até as lições morais e aprendizados não deixam uma impressão, considerando o quão desinteressante é a jornada e o quão pouco nos afeiçoamos aos dois personagens principais, além de que o texto sofre enormemente para incorporar as camadas filosóficas da história chinesa nos diálogos do filme. Penso que a equipe criativa poderia ter visto Avatar: A Lenda de Aang para entender que animações infantis não precisam ser superficiais ao lidar com esse tipo de cenário.

Potencial desperdiçado é um porre. Poderíamos ter visto uma animação bonita sobre a jornada de uma lenda chinesa aprendendo que seu egoísmo e temperamento explosivo não o levariam a lugar algum, envolto por uma aventura épica sobre mitologia, folclore e divindades. Infelizmente, O Rei Macaco é só mais uma animação infantil qualquer, sem coração, sem imaginação e sem diversão. A famosa lenda chinesa merecia mais do que um enlatado que só serve para matar o tempo.

O Rei Macaco (The Monkey King) – EUA, 18 de agosto de 2023
Diretor: Anthony Stacchi
Roteiro: Steve Bencich, Ron J. Friedman, Rita Hsiao
Elenco: Jimmy O. Yang, Bowen Yang, Jo Koy, BD Wong, Jolie Hoang-Rappaport, Stephanie Hsu
Duração: 96 min.

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