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Crítica | Drácula no Mundo da Minissaia

A imersão de Drácula na vertiginosa cultura reativa dos anos 1970.

por Leonardo Campos
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Sem como trazer muitas inovações para o universo vampírico estabelecido desde O Vampiro da Noite, em 1958, os realizadores da Hammer não sentiram um pingo de constrangimento em continuar com a saga envolvendo o icônico monstro inspirado no livro Drácula, do escritor irlandês Bram Stoker. Com este No Mundo da Minissaia, bizarro e engraçado título para o lançamento aqui no Brasil, encontramos alguns ecos com o Sangue de Drácula, haja vista as escolhas narrativas envolvendo rituais misteriosos em prol da ressurreição do vampiro que antes, era sedutor e sanguinolento, mas agora ficou apenas caricato e birrento. Logo em sua abertura, temos batalhas, narração e uma paisagem sombria produzida com base nos elementos do estilo gótico, o padrão adotado desde então para o desenvolvimento das históricas deste ciclo. Aqui, o conde vai além de sugar a sua substância predileta, o sangue, atuando também como um hipnotizador, numa produção que reflete o antecessor da série em sua ausência de qualidade.

Com direção de Alan Gibson e roteiro de Don Houghton, Drácula no Mundo da Minissaia é barulhento, traz diálogos bizarros e insere seus personagens num espaço com reminiscências do gótico, mas intensamente conectado com as demandas culturais da década de 1970. O filme começa com o vampiro interpretado no automático por Christopher Lee. Ele e Van Helsing (Peter Cushing) se digladiam numa carruagem desgovernada e, após muitas idas e vindas, o conde perde temporariamente a briga. Quem recolhe as suas cinzas, depois, é uma idosa da região. Temos então um corte para 1972. Há uma festa em um apartamento badalado, evento que engloba muitos jovens em situações comprometedoras para os mais velhos que acompanham com curiosidade os festejos boquiabertos com o grau de “libertinagem”.

Depois desta contemplação de alegria dos hipócritas em relação aos que curtem demasiadamente os prazeres da vida terrena, o filme se apressa em demonstrar para nós espectadores os caminhos para o retorno de Drácula. Ainda nos primeiros instantes dos 96 minutos da produção, Johhny Alucard (Christopher Neame) sugere participação dos presentes em um ritual satânico a ser realizado numa igreja abandonada. Neste grupo se encontra Jessica Van Helsing (Stephanie Beachman), personagem que é a neta de alguém que nós sabemos muito bem. Após o culto macabro, o vampiro é renasce de suas cinzas anteriormente recolhidas e arquivadas, deixando um rastro de sangue por onde passa, até ser eliminado mais uma vez pelos heróis da narrativa, responsáveis por adormecê-lo até o próximo filme.

Tendo Dick Bush na direção de fotografia e Don Mingaye no design de produção, as imagens de Drácula no Mundo da Minissaia mantém a padronização da Hammer, com diversos elementos góticos mesclados com os espaços impactados pela intensidade visual da cultura Flower Plower da época. Sem James Bernard na trilha sonora desta vez, os realizadores trouxeram Michel Vickers para composição da textura percussiva, um trabalho funcional para a condução da narrativa, mas sem elementos memoráveis. Irregular e sem o mesmo vigor de antes para Drácula, o filme reflete a histeria coletiva do caso do cemitério de Highgate, situado em Londres, local que foi palco de rituais de magia negra e suposta ressurreição de um vampiro, acontecimento que gerou não apenas polêmica, mas caçadores reais de vampiros que cercearam o lugar com suas estacas de madeira, adornados de alho, numa demonstração da força que os medos sociais possuem quando disseminadas em momentos de tensão política e cultural.

E, como o mal nunca morre… o vampiro da Hammer ainda retorna em Os Ritos Satânicos de Drácula.

Drácula no Mundo da Minissaia (Dracula A.D 1972, Reino Unido – 1972)
Direção: Alan Gibson
Roteiro: Don Houghton
Elenco: Christopher Lee, Peter Cushing, Stephanie Beacham, Christopher Neame, Michael Coles, Marsha A. Hunt, Caroline Munro, Michael Kitchen, David Andrews
Duração: 95 min.

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