Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Parafraseando um leitor que caracterizou muito bem Invasão Secreta, não é exatamente que a série seja ruim, mas sim, talvez, a maior decepção da Marvel Studios em sua empreitada pelo streaming. E é bem isso mesmo. A minissérie protagonizada por um envelhecido Nick Fury que volta do espaço para enfrentar uma invasão silenciosa dos Skrulls, com base em saga em quadrinhos de Brian Michael Bendis publicada entre 2008 e 2009, começa muito bem, com seus dois primeiros episódios prometendo uma pegada à la Capitão América 2: O Soldado Invernal, ainda um dos melhores filmes do Universo Cinematográfico Marvel, mas esmorecendo logo em seguida até chegar a um final inexplicavelmente ruim que quase que completamente nega a qualidade do que veio antes.
Os bons diálogos especialmente de Promises, o segundo episódio, deram espaço a uma progressão cada vez mais intensa de sequências genéricas, mesmo que Samuel L. Jackson como o protagonista badass e Olivia Colman como uma agente do MI-6 particularmente eficiente e, diria, sádica, revelem-se como portos seguros de qualidade. Mas não tem papeis bons o suficiente para segurar roteiros que, aos poucos, vão desmoronando em sua coesão narrativa e lógica interna e que não conseguem, no processo, nos fazer ligar seja para a G’iah de Emilia Clarke ou mais ainda para o vilão Gravik, de Kingsley Ben-Adir. Nem mesmo o relacionamento de Fury com Priscilla/Varra funciona de verdade, por não passar de uma confusa e cansativa sucessão de chavões amorosos sem um propósito maior do que provar que um humano pode se apaixonar por um Skrull.
O fato de a minissérie ser um trampolim para possíveis futuros filmes e séries, sem que haja uma resolução para o “problema Skrull” nela mesma, muito pelo contrário, não é, para mim, um problema, pois faz parte da estrutura Lego do UCM, em que cada peça faz parte – maior ou menor, depende – de um todo até o momento infinito e indefinido e que naturalmente muda em razão dos mais diversos fatores. Não é nada fácil manter um universo consideravelmente coeso por tanto tempo como Kevin Feige tem feito e, mesmo que expectativas pós-Ultimato não estejam sendo atingidas segundo muitos (não é meu caso, pois eu acho que as séries têm um saldo bem positivo até agora, com o único grande problema sendo o excesso delas), não há como realmente afirmar que esse trabalho audiovisual multimídia sem precedentes não tem sido bem sucedido.
Mas, claro, tudo poderia melhorar, sei bem disso. Invasão Secreta mesmo poderia ter sido uma grande e importantíssima construção de Lego que não só se sustentasse sozinha, como nos fornecesse um sólido mapa do que pode estar por vir. Infelizmente, porém, o showrunner Kyle Bradstreet não conseguiu criar algo dessa magnitude e sua minissérie acabou sendo uma baita decepção, ainda que, para mim, não seja essa ruindade toda que digam por aí.
XXXXXXXXXX
Como fazemos em toda série ou minissérie que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o que menos gostou? Mandem suas listas e comentários!
6º Lugar:
Home
1X06
O que Home faz é pegar Invasão Secreta e transformar a promessa de algo bacana em um negócio banal e frustrante que desperdiça Fury e Falsworth. Poderia ter sido uma boa série introdutória para a questão que aborda e que, sem vergonha alguma, arremessasse a resolução real do problema para algum momento futuro do UCM, mas ela faz o arremesso sem ser boa e essa combinação não funciona. Não é o fim do mundo da ruindade, obviamente, mas irrita pelo caminho que a minissérie ensaiou tomar em seus dois primeiros episódios, dando a impressão de que só havia material para um longa-metragem ou, talvez mais apropriadamente, um “especial” média-metragem como o do Lobisomem na Noite. É, nunca mais largo nada bom na mão do Kevin Rick, pois ele não sabe brincar e só quebra os brinquedos dos outros…
5º Lugar:
Harvest
1X05
Em mais um episódio curto, Invasão Secreta nos apresenta em Harvest uma trama que não vai a lugar algum e que adiciona um horrível macguffin no penúltimo capítulo da minissérie: a coleta de amostras de sangue retiradas dos Vingadores, que Gravik quer usar para sua máquina genética na criação de um exército de Super Skrulls. Ganhamos muita exposição sobre isso ao longo do episódio, enquanto assistimos uma narrativa que repete determinadas situações (Rhodes ameaçando Fury com as imagens de Hill; o perigo da 3ª Guerra Mundial) sem efetivamente mover a história para além das informações da tal “colheita”.
4º Lugar:
Beloved
1X04
É tão frustrante ver o potencial da minissérie ser desperdiçado no teste de gênero que o MCU não investiu desde Capitão América 2: O Soldado Invernal. Notem como Beloved prioriza revelações previsíveis e falsamente chocantes (o retorno de G’iah; a confirmação de que Rhodes é um Skrull; a morte de Talos), do que subterfúgios e subtextos realmente engajantes. Quer dizer, a falta de criatividade para com artifícios para mover uma trama de espionagem é a maior surpresa do episódio, com momentos como o rastreador na bebida e a escuta em Priscilla demonstrando a carência de imaginação do texto.
3º Lugar:
Betrayed
1X03
Por mais madura que Invasão Secreta possa se vender esteticamente e tonalmente, falta mais perspicácia e ambiguidade para desenvolver uma história de espionagem que realmente seja um thriller. Vemos essa limitação, também, em como o lado político não tem efeito para além de contexto e como o campo interno dos rebeldes Skrulls não é verdadeiramente incorporado ao enredo, deixando tudo um pouco mais superficial e genérico do que poderia ser como teste de gênero. Porém, mesmo com esses problemas narrativos e um certo teto para o que a minissérie deve oferecer enquanto produto de um thriller de espionagem, continua sendo uma bem-vinda férias da fatiga de filmes de heróis com as mesmas características, bem como uma história relevante enquanto retrato da obsolescência de Nick Fury. É uma história de um “deus caído” ou apenas um velho homem poderoso aprendendo humildade através de suas próprias falhas? Acredito mais na segunda opção, e espero que Fury continue se frustrando tentando chegar a este patamar, para que “sua guerra” seja perdida ou pelo menos vencida sem um herói particular saindo por cima com tapa-olho.
2º Lugar:
Resurrection
1X01
Para fazer isso, o roteiro co-escrito por Kyle Bradstreet (o showrunner egresso de Mr. Robot) e Brian Tucker (que tem apenas Linha de Ação em seu currículo) bebe bastante da mitologia de Fury estabelecida no UCM, notadamente do que vemos em ao final de Guerra Infinita, em que ele vira pó, e dos acontecimentos de Capitã Marvel, em que ele conhece os Skrulls, especialmente Talos. No entanto, o Nick Fury de Invasão Secreta é um homem profundamente mudado, envelhecido e entristecido, algo que o roteiro martela verbalmente muito mais vezes do que realmente necessário, com o blip de Thanos contribuindo para ele decidir abandonar o planeta para ajudar na construção de uma base espacial de defesa, ainda que seja evidente que há mais por trás de sua decisão abrupta. Esse desfazimento da imagem do Fury badass do UCM é bem-vindo e Jackson recria muito bem seu icônico personagem, mantendo a sombra do que foi em xeque pela pessoa que ele agora é, ainda que eu vislumbre um retorno mais padrão – do tipo “sem barba, com tapa-olho, roupa de couro e um trabuco” – muito em breve (mas eu espero estar enganado).
1º Lugar:
Promises
1X02
E a presença diferenciada de Cheadle na série não para por aí, já que, no momento seguinte, nós vemos Rhodes sentado na mesa com um Nick Fury que vem com o chapéu na mão pedir-lhe ajuda como um irmão até o momento em que ele percebe que esse novo Rhodes definitivamente não é o bom e velho Máquina de Combate de outrora. O diálogo tenso que é travado entre os dois é um dos melhores exemplos de como o roteiro de Brian Tucker consegue trabalhar o desenvolvimento da trama sem perder profundidade, sem deixar de comentar algo latente e presente na conversa entre dois afrodescendentes que sabem muito bem que não chegaram onde estão com a mesma facilidade de pessoas com menos pigmentação. E é fenomenal ver Samuel L. Jackson transformar seu personagem diante das câmeras, sem que por um momento sequer duvidemos do realismo do que estamos assistindo. Fury começa enfraquecido, quase que subserviente, mas, aos poucos, diante da frieza de Rhodes, dá pistas do antigo Fury, alterando postura e tom de voz, até que ele, em um piscar de olhos, toma controle físico da situação ao subjugar e desarmar o segurança que quer levá-lo embora, solta aquela frase esperta – “Eu sou o Nick Fury. Mesmo quando estou fora, estou dentro.” – criada cirurgicamente para fazer o espectador vibrar e que cumpre esta exata função e, no momento seguinte, já fora do restaurante, reverte ao Fury cansado, claramente destreinado e fora de forma, ofegante em um banco.