Home TVTemporadas Crítica | Good Omens – 2ª Temporada

Crítica | Good Omens – 2ª Temporada

O fim do mundo está diferente...

por Luiz Santiago
5,9K views

A Segunda Temporada de Good Omens apresenta um novo tipo de “fim do mundo”, mantendo a estrutura apocalíptica que deu origem à série, derivada do livro Belas Maldições: As Justas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, Bruxa, escrito por Terry Pratchett e Neil Gaiman, em 1990. Desta vez, porém, o foco narrativo se afasta do livro e entrega um desvio interessante, repetindo os dois ingredientes centrais desse Universo (a forte influência teórica do cristianismo e a ideia de um apocalipse), mas entregando coisas novas, divertidas e com enorme potencial dramático. Uma pena que, a partir do terceiro episódio, a maior parte desses bons elementos não sejam bem aproveitados.

A direção dos seis episódios continuou a cargo de Douglas Mackinnon, o mesmo que assinou a 1ª Temporada. Gosto bastante desse diretor. Ele tem uma boa experiência com enredos malucos e  sobre “fins destruidores de civilizações“, vide o seu trabalho em Dirk Gently’s Holistic Detective Agency ou Doctor Who, por exemplo. Nos dois capítulos iniciais deste ano, a direção, assim como o roteiro de Neil Gaiman e John Finnemore brilham com bastante intensidade, equilibrando fantasia e comédia em sua melhor forma. São os episódios de ouro da temporada, trazendo tudo o que de interessante esse cenário pode nos apresentar. A cena de abertura, com Crowley (ainda na época em que era anjo) criando o Universo a mando “de alguém lá de cima” é uma coisa absurda de linda: conta com excelentes efeitos, ótima trilha sonora e é dramaticamente importante para o personagem, pois marca a sua primeira conversa com Aziraphale.

Quando falamos de Good Omens, é impossível não dedicar um espaço exclusivo para falar da interação entre os dois protagonistas, vividos por David Tennant e Michael Sheen. A amizade entre os dois atores deixa a relação entre seus personagens ainda mais cativante, tornando Crowley e Aziraphale irresistíveis como dupla cômica e como um possível casal. Penso, porém, que a escolha dos autores para um final não-romântico tenha sido acertada, apesar de doer bastante. O ar de flerte entre o anjo e o demônio é muito importante para a manutenção de uma atmosfera importante na série, o que deixa a relação deles flutuando entre a “maldição de nunca poder ficar junto” e a “necessidade de ficar junto“. Nessa temporada há até uma troca temporária de ambiente cotidiano entre os dois, e é ainda mais engraçado vê-los trocando elementos, tentando imitar o comportamento do outro, seguir certos limites, falar determinadas coisas e agir pensando no outro. De longe, a melhor coisa da temporada.

A linha central do roteiro é o fim do mundo, mas isso não está em pauta, de verdade, até o último episódio. Quem carrega a informação sobre o armagedom é o Arcanjo Gabriel (Jon Hamm), mas como ele está sem memória e parece ser procurado por agentes do céu e do inferno, todo o drama gira em torno dessa briga, tanto na parte de perseguição e embates mesquinhos, quanto na parte cômica, que é a essência do show. Nos episódios iniciais, The Arrival e The Clue (que vem com o minisode A Companion to Owls), todos os ingredientes de uma boa fantasia com a proposta cristianizada de Belas Maldições estão presentes e funcionando bem. No capítulo 3, I Know Where I’m Going (com o minisode The Resurrectionists) há uma pequena mudança na dinâmica narrativa, mas ainda estamos falando de uma história interessante na tela, aliás, com um ponto a mais de curiosidade para o espectador sobre o arcanjo fujão. E então vem o horrendo The Hitchhiker, com um minisode pior ainda, chamado Nazi Zombie Flesheaters. As únicas coisas que eu gosto desse episódio são a direção de arte e a fotografia, mas todo o restante me irrita profundamente — inclusive há um mau aproveitamento dos protagonistas, o que não ajuda nada.

Nos blocos finais (The Ball e Every Day) vemos um pequeno retorno à forma interessante da narrativa, mas ainda bem longe do clima gostoso que tivemos no início da temporada. Este segundo ano de Good Omens se perde um pouco em dramas paralelos, como o drama dos zumbis e o romance entre as duas donas de loja perto da livraria do anjo, mas ainda assim, logra contar algo absurdo (no bom sentido) sobre as forças do céu e do inferno enfrentando-se (ou unindo-se) e provando que, às vezes, é preciso fazer parcerias inimagináveis para evitar uma grande tragédia. Me lembrou um pouco de Preacher e um outro tanto de Umbrella Academy, embora numa roupagem própria.

Gosto muito da concepção daquilo que os seres celestiais ou infernais podem (ou não) fazer aqui — em termos de uso de poderes –, e nesta temporada, os roteiros se esforçam para explorar esse lado sem parecer chato. Tanto céu quanto inferno são locais imersos em burocracia burra, brigas por poder e coisas que não funcionam exatamente como deveriam. Um dos exemplos mais brilhantes disso, acontece na sequência da provação de Jó. Para mim, este, juntamente com o bloco da criação do Universo, formam os melhores flashbacks da temporada. Os seres poderosos desse cenário não possuem plenos poderes e precisam obedecer uma porção de regras, de modo que essas limitações equilibram o jogo e geram hilárias situações. O cliffhanger para uma possível 3ª Temporada está dado, e é muito bom, mantendo a atmosfera do programa. Até lá, nos contentamos com a vitória de anjos e demônios sobre aqueles que queriam acabar com tudo. Mais um fim do mundo evitado. Que venha a Segunda Vinda!

Good Omens – 2ª Temporada (Reino Unido, EUA, 2023)
Direção: Douglas Mackinnon
Roteiro: Neil Gaiman, John Finnemore
Elenco: Michael Sheen, David Tennant, Miranda Richardson, Jon Hamm, Nina Sosanya, Doon Mackichan, Gloria Obianyo, Frances McDormand, Maggie Service, Steven McNicoll, Quelin Sepulveda, Liz Carr, Shelley Conn, Tim Downie, Peter Davison, Andi Osho, Sienna Arif Knights, Cherry Mitra, Ty Tennant, Abigail Lawrie, Moray Hunter, Sean Biggerstaff, Alex Norton, Douglas Russell, Mark McDonnell, Sofia Andrews, Beth Rylance, Steve Pemberton, Niamh Walsh, Mark Gatiss, Reece Shearsmith, Rich Keeble, Jeff Alexander, Crystal Yu, Derek Jacobi
Duração: 6 episódios, com cerca de 50 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais