Esse filme não é apenas um remake de A Mansão Mal-Assombrada de 2003, estrelado por Eddie Murphy, como é mais uma empreitada da Disney para produzir live-actions dos seus parques temáticos. No antigo filme havia uma interação da família Evers com os fantasmas da Mansão Gracey numa mistura lúdica da comédia de Murphy com os efeitos visuais. Havia uma história do pai de família que vai se redimir de alguma maneira, focando na família e não no trabalho. Nesse novo filme de 2023, é diferente. Refletir sobre o investimento da Disney em seus brinquedos como inspiração para as histórias, ainda hoje, ajuda a entender a diferença. O novo longa se importa mais em emular a experiência do brinquedo, não em criar uma narrativa que apenas lembre os componentes.
Assim como no Haunted Mansion – o parque temático -, o diretor Justin Simien e a roteirista Katie Dippod ajudaram a produzir uma história de mistério semelhante a Scooby Doo. Se no trem-fantasma original do parque, entramos na mansão para conhecer os habitantes assustadores, no longa, focamos nos protagonistas, enquanto investigam o fantasma mais perigoso que assombra seus semelhantes. No longa de 2003, há um processo parecido, mas os fantasmas são mais participativos, dramatizando o brinquedo-base. Já a experiência do remake une os dois mundos: quer transformar a sensação investigativa do visitante em algo cinematográfico, e o conteúdo para essa sensação é canalizado por um punhado de atores famosos vivendo personagens que não podem sair da mansão.
Isso tudo fica mais claro com as dinâmicas de humor para tornar o mistério mais realista do que sobrenatural. A comédia dos convites para entrar na mansão e a explicação da história do local, visualmente com ares documentais, tornam a dinâmica da casa interativa, tirando a sensação de ilusão do cinema e procurando a sensação de brincadeira. Mesmo que possa haver um problema grave para o espectador, que talvez espere algo mais engraçado ou divertido – no “modelo Eddie Murphy” -, a verdade é que o presente humor é puramente funcional para agrupar os personagens, revelando seus dramas de maneira parcelada, sem uma profundidade que quebre a narrativa lúdica.
Todas as sessões mediúnicas da história, misturadas com o esforço criativo para tornar o mundo dos fantasmas algo parecido com o Multiverso da Loucura da Marvel, abraçam consideravelmente o playground que vai sendo enfeitado por fantasmas CGI e alguns efeitos visuais práticos. Envolto disso, vê-se o drama como a morte dos familiares, envolvendo os personagens Ben (LaKeith Stanfield) e Travis (Chase Dillon), tornar-se mais forte, porque se amarra com os planos do vilão Crump (Jared Leto), o tal “fantasma mais perigoso”. Mas fora essa ligação e a boa atuação de LaKeith, além de alguns jump scares efetivos, A Mansão Mal-Assombrada pode gerar alguns questionamentos sobre sua ideia como filme.
Voltando ao argumento da Disney investir em live-actions de parques temáticos, é possível se perguntar sobre levar essa produção às telonas abertas e não liberar diretamente no Disney Plus. A confiança na qualidade é improvável, porque além dos atores famosos, não há garantias para um diretor novato sendo produzido pela Disney – mesmo que acerte direitinho com fotógrafo e criando uma dinâmica que dê certos aspectos de mistério às descobertas de como os fantasmas assustam. É provável, então, que seja a busca por uma “brecha de público”. Aparecendo entre Barbie, Oppenheimer e em uma semana sem grandes estreias, especialmente para as crianças, este é um produto de streaming com atores famosos que pode te deixar com vontade de saber mais sobre os 999 fantasmas da Mansão Gracey… ou talvez preferir ver a versão do Eddie Murphy.
A Mansão Mal-Assombrada (Haunted Mansion) – EUA, 2023
Direção: Justin Simien
Roteiro: Katie Dippold
Elenco: LaKeith Stanfield, Rosario Dawson, Owen Wilson, Tiffany Haddish, Danny DeVito, Jamie Lee Curtis, Chase Dillon, Jared Leto, J.R. Adduci, Creek Wilson, Ben Bladon, Lindsay Lamb, Winona Ryder
Duração: 124 minutos