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Crítica | O Caso do Canário Coxo (Perry Mason #11), de Erle Stanley Gardner

O que um canário foi fazer no escritório?

por Luiz Santiago
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Perry Mason é atraído quando o insólito aparece em sua frente. É justamente por causa de algo “incomum”, logo nas primeiras páginas deste livro, que ele fica interessado pelo caso de Rita Swaine, quando ela entra em seu escritório, furando fila, e sem respeitar as regras da secretária Della Street. Não é, porém, o aparente caso de infidelidade, divórcio, desconfiança e engado do cônjuge no campo financeiro que faz o famoso advogado-detetive aceitar o caso; mas sim a presença de um canário coxo, dentro de uma gaiola. Segundo avaliação de Mason, se o animal era importante o bastante para ser carregado até o escritório, alguma coisa deveria estar errada com ele. Algo extraordinário deveria ter aquele animal.

A história que Rita conta é cheia de rodeios, e ela age como a maioria das mulheres de Erle Stanley Gardner: marcada pelos clichês machistas dos anos 1930. Isso não impede, porém, que ela e uma outra mulher da trama ganhem destaque e se livrem desse jugo a partir de determinado ponto da narrativa. Sabemos, então, que Rita estava procurando aconselhamento para sua irmã Rosalind, que é casada com Walter Prescott, mas está apaixonada por outro homem (Jimmy Driscoll). Uma briga de casal e uma tentativa de fuga da esposa maltratada, nesse cenário, não seria nada excepcional (nesse contexto), se Walter não tivesse aparecido morto. E para piorar as coisas para o trio formado por Rita, Rosalind e Jimmy, existe uma vizinha fofoqueira que é testemunha ocular do caso.

Aqui, pela primeira vez na série, temos uma mudança de ares por parte de Mason e Della. Ela convence o chefe a tirar férias e a fazer uma viagem pelo mundo, algo que ele concorda, para surpresa do leitor e da funcionária. Em termos de qualidade das ideias expostas, o autor não faz aqui um trabalho que seja grandiosamente chamativo, mas para ser sincero, a única história realmente excepcional da série, até o momento, foi O Caso das Garras de Veludo, o livro de estreia. Mesmo diante de um trabalho simples e sem muita ambição dramática ou narrativa, Gardner cria um ambiente confortável de mistério, de fuga e cenas de julgamento. Não é nada diferente daquilo que vimos em dez livros antes, mas também não é uma abordagem dispensável.

O Caso do Canário Coxo é uma aventura acima da média, que empolga em certos pontos, parece rasa demais em outros e traz um padrão que, ao mesmo tempo que é a assinatura do autor, nos faz pensar um pouco quando ele procurará escrever algo diferente na criação de um assassinato e da investigação, que sempre parecem seguir o exato mesmo caminho. Pelo menos em questões secundárias ele já tem feito algumas mudanças: o final desse livro, por exemplo, completa o ciclo de tensão sexual entre Mason e Della com direito a pedido de casamento e demonstração de afeto! Estava muito claro que esses dois ficariam juntos, mas foi interessante ver o caminho percorrido até isso acontecer de fato. E dessa vez, não há um cliffhanger para o caso posterior. Dessa vez, a dupla central da série realmente vai descansar. Fico curioso para a próxima aventura só para pegar a atmosfera do início, lembrando os momentos dessas merecidas férias.

Perry Mason – Livro 11: O Caso do Canário Coxo (The Case of the Lame Canary) — EUA, 1937
Autor: Erle Stanley Gardner
Publicação original: William Morrow and Company (Setembro de 1937) — depois de ter sido serializado no The Saturday Evening Post, entre 29 de maio e 17 de junho de 1937.
292 páginas

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