- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Stories We Tell Ourselves é um episódio tão frustrante. Não é de todo ruim, mas poderia ser tão melhor e desperdiça tanto potencial que fica aquele sabor de decepção logo depois da última cena. Contextualmente, é um capítulo dividido em três núcleos: Maggie e cia. nos esgostos; Negan e Armstrong atravessando a cidade; e o Croata conversando com uma nova personagem. Cada bloco progride a trama geral com eficiência, em um roteiro preenchido de backstories e plot-twists, incluindo diálogos razoáveis sobre moralidade. Tem repetição temática da série e muitas falácias, claro, mas não são conversações completamente ruins.
Qual é a minha reclamação, então? Bem, todo o bloco nos esgotos é subaproveitado. Explico: os cenógrafos fizeram um bom trabalho, desde os túneis estreitos até as pilhas de zumbis, além de uma fotografia de qualidade que tenta criar visualmente a sensação do excesso de metano poluindo o ar, mas, tanto por culpa do roteiro quanto da direção, pouco sentimos o perigo e o terror pelo qual os personagens estão passando. Pelo menos comigo, ao longo do episódio, não vi tanta diferença de ameaça entre as ruas de Nova York com os zumbis lerdos e as latrinas cheias de mortos-vivos, sendo que a intenção é justamente criar algo especial em termos de risco nos esgotos.
A cena com o Walker King é o maior exemplo dessa dificuldade da produção. Mesmo sendo uma cópia barata do Rat King de The Last of Us, a criatura idealizada por Eli Jorné é engenhosa e divertida de assistir em movimento, com ótimo trabalho de maquiadores, especialistas em efeitos especiais e os designers do monstrengo, mas notem como a sequência é rápida. O monstro sai de cena tão abruptamente quanto entra, com Maggie matando-o até com certa facilidade para quem estava embaixo dele. O momento não é esticado o bastante, não dá tempo de ficarmos aflitos e a direção é extremamente pouco elaborada.
Me sinto assim com todo o bloco do esgoto, em que o roteiro parece sempre atrapalhar o desenvolvimento de ambientação, com os personagens parando para conversar a todo momento e agindo como se tudo estivesse ok (a cena deles deitando nos zumbis e depois alguns morrendo é absolutamente patética), sem que a direção de Gandja Monteiro ganhe espaço para brilhar. Até mesmo as cenas na superfície sofrem desses cacoetes, como por exemplo a sequência de Negan e Armstrong correndo de uma “emboscada” de zumbis, com o momento terminando rápido demais, antes de podermos sentir qualquer ponta de agonia pela desvantagem dos personagens.
Enfim, acaba sendo as reclamações que já vinha fazendo a este universo na série original e aos seus spin-offs, mas que se torna particularmente frustrante aqui pelo potencial desperdiçado de Dead City. Os sets estão fantásticos, os diversos departamentos da produção se sobressaem e até vejo que a diretora quer fazer algo diferente e com personalidade, mas o roteiro de monólogos e diálogos mal estruturados fazem a narrativa tropeçar. Felizmente, pelo menos nesses momentos temos alguns desenvolvimentos dramáticos bacaninhas, em especial a história de Armstrong.
Como pontuei no início da crítica, Stories We Tell Ourselves não é necessariamente ruim. Mesmo pesando a mão nos plot-twists (a traição de Tommaso; a chefe do Croata; e a mentira de Maggie), a trama tem surpresas bem-vindas para uma história que vinha soando chata nos últimos episódios. Não sei exatamente como me sinto de termos uma nova antagonista aos 45 minutos do segundo tempo, até porque não vejo necessidade de um segundo ano, mas a reviravolta com Maggie é interessante, sacudindo a já conturbada relação entre os co-protagonistas e dando propósito à Ginny no seriado, agora que Maggie tem que salvar Hershel enquanto esconde sua mentira. Mesmo assim, poderíamos ter visto menos conversa e mais horror.
The Walking Dead: Dead City – 1X05: Stories We Tell Ourselves (EUA, 13 de julho de 2023)
Desenvolvimento: Eli Jorné
Direção: Gandja Monteiro
Roteiro: Brenna Kouf
Elenco: Lauren Cohan, Jeffrey Dean Morgan, Gaius Charles, Željko Ivanek, Mahina Napoleon, Logan Kim
Duração: 52 min.
