- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Acabei fazendo algo nesta semana de TWD que normalmente não faço: assisti o criador da série explicando o episódio. Não aprecio esses “pós-créditos” com roteiristas mastigando a narrativa para a audiência que a franquia tem feito. Tira o poder da interpretação do público e me soa como um artifício pobre e desesperado de mostrar profundidade e “significados” de uma franquia sem criatividade há algum tempo. Portanto, costumo simplesmente ignorar esses momentos, mas, em People Are a Resource, eu precisava confirmar uma suspeita: Eli Jorné está desenvolvendo um arco óbvio de conexão para Maggie e Negan.
O showrunner literalmente diz que os personagens estavam se conectando naquela cena que compartilham suas recentes tragédias. Ainda que a atuação de Cohan e Morgan seja ótima, e que os diálogos, bem como o tom da cena tenham uma leve qualidade de emoção, não sou exatamente fã da escolha por desenvolver a dupla em uma bolha de compreensão e afinidade. Percebo que fiz a leitura errada nos episódios anteriores, porque imaginei que o objetivo de Jorné seria manter algum tipo de atrito com culpa e sarcasmo entre os co-protagonistas. Vou, inclusive, evitar algum tipo de argumento crítico e pular na subjetividade para dizer que acho estranho, não funciona para mim, chego a ficar desconfortável lembrando do Glenn e espero que a série não siga por essa rota dramática com os dois personagens.
Dito isso, o restante de People Are a Resource é bem padrão, sem muita novidade para pontuar ou discutir. Continuo vendo o potencial de um Fuga de Nova York versão genérica, mas a produção continua se recusando a explorar a Manhattan pós-apocalíptica. Pode ser um problema de orçamento, mas, de qualquer forma, é frustrante pensarmos que já estamos na metade da minissérie e pouco vimos de utilização do cenário urbano. The Walking Dead continua se esquecendo que é, em sua base, um survival horror, com bons dramas sim, mas ainda uma obra sobre sobrevivência que cada vez mais continua subaproveitada neste departamento.
Ganhamos, porém, duas sequências brutais no episódio, uma envolvendo Negan e outra Armstrong. Ainda que não haja nada de muito especial, são dois bons momentos do episódio, trazendo energia para uma narrativa que tem diversos momentos arrastados. Gosto particularmente da sequência com Armstrong em uma gaiola à la “pão e circo” e com mortos-vivos que viraram fonte de energia. É tão absurdo que tudo se torna inadvertidamente divertido, incluindo os discursos do unidimensional e maniqueísta The Croat, com Željko Ivanek mandando muito bem com o antagonista canastrão.
Sinto que a história poderia aumentar o volume de maluquice à la Mad Max e Carpenter, mas duvido que acontecerá, uma vez que é uma pena como a trama tem se movido em ritmo glacial nos dois últimos episódios, com mais enrolação do que necessário com as inserções do flashback de Ginny, ainda descolada na história e sem muito propósito para além de humanizar Negan, e também o núcleo do grupo encontrado por Maggie e Negan que está fazendo hora extra. Será interessante, porém, como ficará a relação daqueles sobreviventes com Negan após a morte de Luther no final do episódio.
Dead City continua mantendo um padrão medíocre que não chega a ser totalmente ruim, e que, por algum motivo, tem me decepcionado mesmo tendo iniciado a minissérie sem expectativas, talvez porque eu tenha sido otimista demais com o potencial que vi no primeiro episódio. Se o discurso de Eli Jorné que vi ao final do episódio é um indicativo, o showrunner acabou se mostrando mais óbvio e pouco inspirado do que imaginei, mas vamos ver se ele consegue captar nossa atenção nos três últimos episódios.
The Walking Dead: Dead City – 1X03: People Are a Resource (EUA, 29 de junho de 2023)
Desenvolvimento: Eli Jorné
Direção: Kevin Dowling
Roteiro: Keith Staskiewicz
Elenco: Lauren Cohan, Jeffrey Dean Morgan, Gaius Charles, Željko Ivanek, Mahina Napoleon, Logan Kim
Duração: 62 min.