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Crítica | Calopsitas às Sete (Meg Langslow #9), de Donna Andrews

Um voo inesperado.

por Luiz Santiago
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Os altos e baixos da série Mistérios de Meg Langslow tem me deixado sem saber exatamente o que esperar a cada novo livro, situação que às vezes pode ser angustiante (na expectativa de gastar tempo lendo livro ruim) ou com aquela animação infantil de não esperar nada de uma obra e ser positivamente surpreendido por ela. Como comecei a ler este aqui um dia depois de concluir o desastroso O Pinguim que Sabia Demais (2007), não tinha nenhuma esperança de que fosse mergulhar em uma boa aventura, quem dirá em algo tão inesperado como foi este Calopsitas às Sete (2008). Este é um livro bem diferente, inclusive, daquilo que a autora vem trabalhado na maioria dos volumes anteriores, com exceção, talvez, do também diferentão (e ótimo) Assassinato com Papagaios-do-mar (2000). Naquela ocasião, a autora utilizou-se de uma viagem dos personagens para criar o mistério. Aqui, ela permanece no já conhecido espaço de Caerphilly, mas não tem pressa de entregar um cadáver logo nas primeiras páginas e não está preocupada em verdadeiramente dar atenção ao assassinato. A graça desse livro é o suspense e a própria investigação.

Neste nono livro da saga, Donna Andrews foca o desaparecimento de uma antiga amiga da protagonista, que passa na propriedade dos Langslow, deixa o pequeno Timmy aos cuidados de Meg (“por um breve momento“, segundo diz) e não atende mais o celular e nem volta para pegar o menino. Tudo, nessa premissa, grita uma revisão de abordagem por parte da autora, o que é ótimo. Como eu já comentei em outras críticas desses cozy mysteries, não há problema algum em elencar diversos assassinatos numa cidade pequena e manter os personagens constantemente nesse espaço de ação limitado, desde que o texto consiga contornar a ideia de repetição e nos fazer lidar com a improbabilidade de tudo aquilo acontecer em tão pouco tempo e no mesmo lugar. Neste Calopsitas às Sete, este argumento continua valendo, mas nem seria necessário buscá-lo, porque desta vez a autora segue por uma trilha nova.

Quando Karen Walker deixa o bebê Timmy (em torno de 2 anos) com Meg e passa dias sem voltar, toda a dinâmica da casa se altera. Aliás, por falar em dinâmica alterada, a presença do recém-descoberto avô paterno de Meg (Dr. Blake) também oferece uma interessante mudança, assim como as ações do pai de Meg, que tem deixado muitos de seus projetos de lado para seguir o pai de 90 e tantos anos filmando programas de TV e tendo problemas com a polícia local. A atmosfera do início do livro é excelente, um dos encadeamentos dramáticos mais elegantes de toda a série, primeiro porque nos impressiona quanto ao tema, depois porque consegue ser objetivo e instigante na sequência de situações que elenca. Com Timmy em cena, temos um ponto cômico que perpassa toda a obra, e é impossível o leitor não dar boas gargalhadas ou ter momentos de extrema fofura ao se deparar com o que Timmy diz ou com as brincadeiras que ele gosta de fazer. Seu apego a Meg e à família Lagslow me amoleceu o coração, garantindo cenas muito bonitas, e eu realmente espero que o menino apareça em livros futuros.

Gosto muito de todo o desenvolvimento da obra e também da primeira fase do bloco final. A revelação do vilão (que começa num contexto absurdo e hilário, com o irmão de Meg ensaiando dança com o cão Spike, num celeiro suspeito) e a resolução do crime são muito bons. Eu só achei que a autora perdeu o ritmo na longa cena na casa de Meg, com algumas serpentes soltas e alguém ameaçando os Langslow com uma arma. Donna Andrews tem dificuldade de construir cenas fluídas com gente armada ligada a reféns. Suas cenas nesse sentido sempre deixam a desejar: o ritmo é truncado, os diálogos são estranhos e a maior parte das ações não parecem combinar com o drama geral. Deixando esse pequeno bloco de lado, Calopsitas às Sete é um livro divertido, tenso e que está profundamente focado no processo de investigação, sustentando com presas e garras os grandes e pequenos mistérios que vão aparecendo no decorrer dos capítulos. Já é um dos meus volumes favoritos da série!

Mistérios de Meg Langslow – Livro 9: Calopsitas às Sete (Meg Langslow Mysteries – Book 9: Cockatiels at Seven) — EUA, julho de 2008
Autora: Donna Andrews
372 páginas

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