Home TVEpisódio Crítica | Mayans M.C. – 5X08: Her Blacks Crackle and Drag

Crítica | Mayans M.C. – 5X08: Her Blacks Crackle and Drag

Um último adeus.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Não que isso seja uma novidade, claro, mas tenho para mim que a última temporada de Mayans M.C. se beneficiará tremendamente de uma análise em retrospecto, de seu todo, pois há uma quantidade tão grande de núcleos narrativos que qualquer episódio abordado de maneira insular, mesmo que fazendo esforço para discuti-lo dentro do conjunto a que pertence, arrisca deixar de fora muita coisa ou, pior, partir para aquele velho jogo de tentar adivinhar o que vem pela frente, especialmente como cada personagem relevante chegará a seu fim. Uso essa afirmação preambular para contextualizar minha primeira impressão quando os créditos de Her Blacks Crackle and Drag (outro título críptico retirado de um poema, desta vez de Edge, de Sylvia Plath) começaram a rolar: apesar dos acontecimentos trabalhados no episódio, falta tanta coisa a ser tratada e tão poucos episódios pela frente, que é impossível não ficar agoniado.

Mas, deixando a agonia tomar conta de meus pensamentos, percebi que esse receio sobre a série é sinal de que ela tem conseguido cumprir sua função de engajar o espectador, de torná-lo cúmplice dos meandros violentos desse universo shakespeareano criado por Kurt Sutter. Desejar que nenhum núcleo seja esquecido ao mesmo tempo em que imaginar como é que Elgin James, agora no comando solitário da série, fará isso, faz parte desse jogo, ainda que essa não seja razão suficiente para glosar eventuais problemas que determinado episódio possa ter.

Eu poderia dizer que houve foco excessivo no velório de Creeper, por exemplo, mas essa seria uma conclusão apressada de minha parte. Ainda que o momento solene que não vimos para Coco não seja exatamente um ponto de virada, ele é um instrumento potente para reunir os Mayans em torno de um colega querido, alimentando uma raiva comum contra o inimigo, ainda que não exatamente o inimigo certo. Isso é muito bem simbolizado pelo retorno de Taza, depois de tentar uma vida nômade, mas percebendo que agora precisa fazer parte da comunidade fechada que deixou. Mas, mais ainda do que esse propósito uniforme de vingar Creeper, a belíssima sequência que começa com um plongée dos Mayans retirando o caixão do rabecão é sujada, aos nossos olhos, pela forma como EZ é endeusado pela irmã do falecido e como ele próprio faz uso de um brevíssimo discurso em que confessa “holisticamente” o que fez objetiva e diretamente.

Bem menos eficiente é o violento fim do drama de Letty e Hope. Tudo bem Letty ser traída por Isaac, pois seria até estranho se isso não acontecesse, mas ela aproveitar a ausência de quase todos do grupo para invadir o clube e livrar-se fora da tela de todas as “clubetes” e ser ajudada pelo SoA arrependido no processo, somente para Hope telegrafar completamente que iria se matar para libertar a amiga me pareceu uma conjunção cansativa de clichês narrativos que tomaram tempo demais de tela para pagar quase nenhum dividendo. Isso, claro, se todo esse encadeamento de situações não levar a algo mais relevante nos episódios finais, como Letty matar o algoz do pai e de Hope, algo que também é clichê e que eu nem sei se gosto, mas que eu coloco aqui somente para fazer o jogo que eu disse que não gostaria de fazer logo no começo da presente crítica. O que realmente valeu nesse segmento todo foi Isaac mais uma vez mostrando toda a sua vilania ao tentar fazer de tudo para Hope retornar às drogas.

Falando em ação fora da tela, diria que foi completamente anticlimático o ataque às mulheres do Broken Saints e ao laboratório de fabricação de drogas dos Mayans. Não era necessário mostrar cada detalhe, mas o episódio se perdeu – e me perdeu – naquela enrolação toda entre o Prospect e o Mayan que surgiu do nada no furgão. Aquilo foi uma tentativa de humor? De criação de suspense? Porque tudo o que eu vi foi uma quebra completa de clima que conseguiu ser ainda pior do que aquele prólogo do episódio em que vemos os SoAs assassinados ao final do episódio anterior serem despejados na porta do QG dos Grim Bastards. Novamente, humor deslocado que roubou tempo do episódio para coisas mais importantes.

Por outro lado, a abordagem do lado humano da família Reyes teve peso e ressonância. Entre o sofrimento de Angel ao finalmente perceber que Adelita não mais retornará e que ele não conseguirá viver em sua casa sem ela por ali e o do velho pai ao ver o filho que não tinha como assumir rejeitá-lo de maneira violenta e cruel, com direito a Edward James Olmos e Danny Pino dando show de atuação intensa e complexa, o episódio mostrou porque Mayans não é apenas uma série de motoqueiros vestidos de couro. A paternidade é tema rico na série sobre os mais variados aspectos e, aqui, ele ganhou mais um ponto alto, talvez o mais alto de todos que parece encerrar esse arco narrativo.

Quando acerta, Her Blacks Crackle and Drag acerta de verdade, mas, quando erra, pelo menos sem o benefício de uma bola de cristal para encaixá-lo no contexto maior do porvir, ele também erra de verdade. Mas, como disse, isso faz parte do jogo e Elgin James, mesmo ainda tendo um caminhão de outros elementos a ser trabalhados, promete entregar um grande encerramento de série.

Mayans M.C. – 5X08: Her Blacks Crackle and Drag (EUA – 05 de julho de 2023)
Showrunner: Elgin James
Direção: Brett Dos Santos
Roteiro: Sean Varela, Vincent Vargas
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Michael Irby, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Sarah Bolger, Andrew Jacobs, Stella Maeve, Frankie Loyal, Vincent Vargas, JR Bourne, Emily Tosta, Vanessa Giselle, Augie Duke, Andrea Cortés, Selene Luna, Alex Barone, Caitlin Stasey, Branton Box, Dana Delany, Luis Fernandez-Gil, Ray McKinnon
Duração: 50 min.

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