Home Colunas Crítica | O Jovem Indiana Jones – 1X01: Minha Primeira Aventura (A Maldição do Chacal)

Crítica | O Jovem Indiana Jones – 1X01: Minha Primeira Aventura (A Maldição do Chacal)

A juventude do futuro arqueólogo de chapéu, chicote e jaqueta de couro.

por Ritter Fan
10,9K views

Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 03
Número de episódios: 28 + 4 telefilmes (formato original); 22 telefilmes (formato reeditado)
Período de exibição: 04 de março de 1992 a 24 de julho de 1994 (28 episódios); 15 de outubro de 1994, 15 de janeiro e 08 de outubro de 1995 e 16 de junho de 1996 (4 telefilmes)
Há continuação ou reboot?: Não, mas a série é um spin-off prelúdio da franquia cinematográfica do Indiana Jones.

XXXXXXXXX

Frustração e contexto:

A LucasFilm é fonte de muitas de minhas maiores alegrias audiovisuais, mas também de três grandes frustrações que derivam das alegrias: as alterações digitais na Trilogia Original de Star Wars sem até hoje oferecer ao público as versões pré-alterações com a qualidade que elas merecem (e que me obrigam a manter um caixote gigante com todos os filmes em Laserdisc, além de um player em funcionamento somente para ela; a Trilogia Prelúdio de Star Wars sem oferecer a opção de o público desver essa atrocidade (essa eu não tenho, nunca tive e nem terei em home video); e, finalmente, a reedição da série de TV originalmente intitulada The Young Indiana Jones Chronicles para o formato de uma série de telefilmes intitulada The Adventures of Young Indiana Jones, sem oferecer a versão original para o público (só há os DVDs dessa série de telefilmes que eu tive que adquirir por falta de alternativas). Perceberam um padrão? Pois é…

Feito esse preâmbulo, cabe explicar, para quem não conhece ou não se lembra do que aconteceu com a série prelúdio da franquia Indiana Jones, porque o que existe hoje disponível por aí é uma frustração para mim, algo que, em muitas medidas, explica também o porquê de o telefilme sob análise ter ficado como ficou. George Lucas, como todo mundo sabe, é um grande “imaginador” e, quando não se mete a executar o que imagina, delegando a quem efetivamente sabe fazer, o resultado normalmente é muito bacana. The Young Indiana Jones Chronicles é uma de suas ideias mais interessantes e, diria, até ousadas, pois, no lugar de simplesmente produzir uma série de ação inspirada na sequência inicial de Indiana Jones e a Última Cruzada em que vemos a “origem” do personagem, desta ver encarnado por River Phoenix, ele partiu para colocar na telinha uma fusão entre documentário histórico-educativo no estilo National Geographic e drama juvenil com apenas pitadas de ação, aproveitando todo o potencial de um Indiana Jones em crescimento e viajando com seus pais pelo mundo para transformá-lo em um guia sobre história do mundo e arqueologia, sempre encontrando-se com personagens históricos importantes.

O problema de toda obra que vai um pouco além na sua qualidade, subindo o patamar narrativo para algo mais do que banalidades, é justamente encontrar seu público e, considerando que o objetivo era transmiti-la em TV aberta nos EUA, ou seja, exigindo um público gigantesco, mas que é decididamente mediano como todo grande público, a série já nasceu com dificuldades. Mesmo perseverando por 28 episódios que, depois, foram seguidos de quatro telefilmes, a grande verdade é que a massa não se interessou pelas aventuras mais intelectualizadas do jovem Indiana Jones e, como o orçamento era absurdamente alto para uma produção da época, a série acabou cancelada com diversos episódios escritos, mas jamais filmados. Corta para a segunda metade dos anos 90, com Lucas insistindo em sua criação e contratando uma equipe para reeditar os episódios na forma de telefilmes, com direito até mesmo à produção de trechos inteiramente novos para serem integrados a alguns deles. O resultado disso foram os 22 telefilmes que, hoje, fazem parte da série rebatizada de The Adventures of Young Indiana Jones.

Mas o ponto central de minha frustração está no fato de que os telefilmes são substancialmente diferentes dos episódios originais, com junções que não fazem lá muito sentido e decisões criativas estranhas como é o caso do que ocorre em Minha Primeira Aventura e a criminosa eliminação da presença de George Hall como um idoso Indiana Jones de tapa-olho que, no presente, narra e enquadra as aventuras como se elas fossem suas lembranças da juventude. Os telefilmes, com isso, tornaram-se, em muitos casos, não só incoerentes como descompassados, eliminando muito do charme que a série tinha em sua origem. Se pelo menos a Lucasfilm disponibilizasse as versões originais como alternativa às caixas de DVDs lançadas e que dividem os telefilmes em três volumes, Os Primeiros Anos, Os Anos de Guerra e Os Anos de Mudança, eu não teria nada a me opor, mas não é o caso, pelo menos não no momento e, sinceramente, duvido que algum dia.

Crítica:

A versão mais jovem de Indiana Jones, aquela vivida pelo ator mirim Corey Carrier, estrela tanto o primeiro episódio da série, A Maldição do Chacal, quanto o primeiro telefilme reeditado e rebatizado como Minha Primeira Aventura que é o objeto da presente análise. O que originalmente era um episódio passado exclusivamente no Egito, tornou-se um monstro de Frankenstein que conta duas histórias separadas, parte da original no Egito e outra em Tânger, no Marrocos, produzida extemporaneamente em 1996, e que são debilmente costuradas por uma montagem que acaba estragando as duas experiências.

Mesmo assim, a primeira história continua interessante, pois introduz a premissa da série, ou seja, a conversão da família Jones que vemos em ambiente doméstico bem no início, em trotamundos, com os pais do pequeno Indy com nove anos levando-o, juntamente com uma rígida, mas simpática tutora, para todos os cantos do planeta em expedições variadas tendo como objetivo a divulgação de um livro do pai. E é assim que todos acabam no Egito, em 1908, visitando as pirâmides e encontrando-se com ninguém menos do que T.E. Lawrence (Joseph Bennett), que futuramente entraria para a História como Lawrence da Arábia, que os convidam para visitar o Vale dos Reis, onde o ainda nada famoso Howard Carter (a tumba de Tutancâmon só seria descoberta por ele em 1922) faz suas escavações, ainda que não o vejamos, mas sim, apenas, Rashid (Tariq Alibai), um de seus ajudantes, que aparece morto no dia seguinte deflagrando uma investigação. Essa linha narrativa não prima pela complexidade, pois seu objetivo é muito mais contextualizar Indiana Jones que sequer é chamado por esse nome, claro, e o local e as figuras importantes que aparecem ou são mencionadas, algo que é feito com muita competência, ainda que não resulte em nada realmente especial.

Na segunda história, o jovem Indy parte para Tânger, no Marrocos, para passar alguns dias com o correspondente do The Times Walter Harris que escreveria um famoso livro sobre o país, e Emily Keene, a Cherifa de Wazan, famosa por ser uma parte de um dos mais famosos casamentos interraciais da Inglaterra, e acaba fazendo amizade com o menino Omar (Ashley Walters) que, na verdade, é um escravizado da Cherifa. Não demora e o foco da narrativa passa a repousar quase que exclusivamente nos dois meninos, pois eles são sequestrados por mercadores de escravos, o que exige que Indy aja com vigor para escapar e salvar seu amigo.

O problema é que o roteiro, nessa parte do longa, é paupérrimo em sua capacidade de lidar com a escravidão em geral e a infantil em particular. Sim, o sofrimento das pessoas escravizadas fica patente depois que os dois jovens são sequestrados, mas, antes, Omar é como o “bicho de estimação” da suntuosa residência da Sharifa e esse aspecto não ganha qualquer condenação pelo texto e pelos diálogos, inclusive e especialmente da própria família Jones. É quase como se a escravidão fosse ótima e romântica dentro de um ambiente que parece civilizado, mas horrível somente quando malvados escravagistas estivesse envolvidos, com direito a chicotes e correntes. E olha que Indiana Jones, já adulto, vários anos antes do lançamento do presente telefilme, já lidara com a mesma questão, só que de maneira muito mais cuidadosa quando enfrentou os seguidores de Kali que escravizavam crianças em Indiana Jones e o Templo da Perdição.

Apesar de os valores de produção serem excelentes, com destinação clara para o orçamento polpudo da série, Minha Primeira Aventura é uma colcha de retalhos que começa bem, mas cai vertiginosamente de qualidade quando a ação é transposta para Marrocos, como se fossem duas obras completamente diferentes e escritas por pessoas diferentes (o que foi exatamente o caso, aliás) reunidas por uma montagem que não parece fazer nenhum esforço para criar unicidade. Quem sabe um dia a Lucasfilm não remexe o baú de suas preciosidades e disponibiliza a série como ela foi originalmente concebida?

O Jovem Indiana Jones – 1X01: Minha Primeira Aventura (The Adventures of Young Indiana Jones / The Young Indiana Jones Chronicles – EUA, 04 de março de 1992 no formato de episódio e a partir de 1999 no formato de telefilme)
Desenvolvimento:
George Lucas
Direção: Jim O’Brien, Carl Schultz, Michael Schultz
Roteiro: Jonathan Hales, Jule Selbo
Elenco: Corey Carrier, Ruth de Sosa, Joseph Bennett, Lloyd Owen, Maryam Thompson, Kevin McNally, Margaret Tyzack, Ashley Walters, Tariq Alibai
Duração: 86 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais