Home FilmesCríticas Crítica | Resgate 2 (2023)

Crítica | Resgate 2 (2023)

Dobrando a meta.

por Ritter Fan
4,1K views

Resgate foi um dos primeiros grandes lançamentos em streaming depois do começo da pandemia de COVID-19 e acabou sendo um enorme sucesso para o Netflix que, claro, não demorou para iniciar a produção de um segundo filme. Pouco mais de três anos depois, Resgate 2 chega às telinhas para contar quase exatamente a mesma história novamente (o “quase” é uma liberalidade minha…), só que transpondo a ação de Bangladesh para, primeiro, a Geórgia e, depois, para a Áustria, com o mercenário Tyler Rake vivido por Chris Hemsworth voltando à ativa depois de meses de convalescença em seguida aos eventos do primeiro longa para resgatar sua cunhada e os filhos dela de uma prisão no referido país do leste europeu.

Além de Hemsworth, voltam ao elenco Golshifteh Farahani e Adam Bessa como Nik e Yaz Kahn, seus amigos mercenários, com a introdução de Tornike Gogrichiani fazendo as vezes do “grande vilão” Zurab, líder de um grupo paramilitar de veia religiosa consideravelmente incompetente que não tem mais o que fazer na vida a não ser tentar matar todo mundo que passa por sua frente. O filme tem até mesmo uma participação microscópica de Idris Elba como um personagem cheio de empáfia e mistério que aparece no começo e no fim da projeção para servir de mestre de cerimônias para uma segunda continuação (no mínimo, claro). Atrás das câmeras, tanto o ex-dublê transformado em diretor Sam Hargrave quanto o roteirista Joe Russo (a metade dos Irmãos Russo que ganharam fama com seus filmes para a Marvel Studios) também retornam com o objetivo de dobrar a meta do frenesi de violência do primeiro capítulo da nascente franquia (infelizmente, porém, os “Goonies do Inferno” não dão as caras aqui…).

E dobrar eles dobram mesmo, pois o tão falado plano-sequência de tomada única falsa de 12 minutos do longa de 2020 retorna em uma versão absurdamente turbinada de 21 minutos e que é outro feito técnico realmente bacana, mas cujo fim também deveria marcar o fim de Resgate 2 que, portanto, deveria ter sido um curta metragem de 45 minutos. Afinal, essa moda de planos-sequência de ação longos que são cheios de cortes escondidos parece mais uma insalubre competição entre as mais diversas produções do que algo que realmente tenha uma razão de ser. É o espetáculo pelo espetáculo apenas que até pode impressionar os mais impressionáveis, mas que parece existir somente como uma desculpa para substituir todos os demais elementos que fazem de um filme um filme, como um roteiro que faça sentido por exemplo e não um arremedo de história que seria muito melhor se não tentasse fazer drama artificial e raso para inglês ver.

Mas quando eu digo que Resgate 2 deveria acabar depois do tal plano-sequência de 21 minutos, falo sério, pois o que vem em seguida são duas longas sequências de ação rasteira e genérica que nunca consegue repetir a intensidade da primeira, fazendo com que o filme esfrie consideravelmente e se misture a tantos outros que são compostos de sucessões de pancadaria e tiroteio com câmera trepidante sem nenhum refinamento ou elegância. “Ah, mas o filme diverte e é isso que interessa”, muita gente dirá e, para surpresa dessa muita gente, este crítico aqui concorda que o filme diverte. Mas ele cansa. E ele entedia. E desaponta. Fora que existem tantos outros filmes de ação que divertem e, ao mesmo tempo (vejam só!), conseguem oferecer algo mais, que a argumentação cai por terra imediatamente e vira uma afirmação tão clichê, genérica – e sim, cansativa – quanto o filme que ela tenta defender.

E é uma pena que Chris Hemsworth não procure material com mais de uma página de roteiro para atuar, pois, dentre os atuais brucutus de filmes de ação, ele é um dos melhores. Em Resgate 2 (e no primeiro também se quisermos ser francos), se o substituíssem pelo gêmeo do Schwarzenegger Danny DeVito ninguém sequer perceberia diante do quão desimportante é o protagonista na história que está sempre em segundo, terceiro e até quarto plano em relação a todo o restante, ou seja, à pancadaria, aos tiros, aos stunts e às sequências que se empilham de tal maneira que uma acaba atropelando a outra na memória de quem assiste aos desnecessariamente longos 123 minutos (ah, que saudade da arte de fazer filmes de ação com 90 minutos…) sem ter um ataque epiléptico.

Resgate 2 certamente fará tanto ou mais sucesso quanto o primeiro capítulo da saga de Tyler Rake e um terceiro filme – se Hemsworth não parar de atuar antes em razão de seu prognóstico de saúde – é o caminho óbvio a ser seguido. Faz parte do jogo, claro, e o trabalho de Hargrave é até realmente mais interessante do que vários exemplares recentes do gênero (Ghosted, estou falando com você), mesmo que o sarrafo seja baixo, mas não sei se seriar querer demais um Resgate 3 que pelo menos tentasse, por alguns minutos, trocar o espetáculo vazio por algo um pouquinho mais atraente que abrisse o espaço para o protagonista ser mais do que apenas uma figura de ação em meio a uma brincadeira de criança.

Resgate 2 (Extraction II – EUA, 16 de junho de 2023)
Direção: Sam Hargrave
Roteiro: Joe Russo (baseado em personagens da HQ de Ande Parks, Joe Russo e Fernando León González)
Elenco: Chris Hemsworth, Golshifteh Farahani, Adam Bessa, Olga Kurylenko, Tinatin Dalakishvili, Andro Japaridze, Miriam Kovziashvili, Marta Kovziashvili, Tornike Gogrichiani, Tornike Bziava, Dato Bakhtadze, Daniel Bernhardt, Levan Saginashvili, George Lasha, Irakli Kvirikadze, Idris Elba, Sam Hargrave
Duração: 123 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais