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Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 2X02: Ad Astra Per Aspera

O julgamento de Una.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Após a aventura da Enterprise sob o comando de Spock na semana passada, Ad Astra Per Aspera retoma o julgamento da Comandante Una Chin-Riley como foco do episódio. Para aqueles que não se lembram, a personagem foi acusada de esconder sua genética modificada da Frota Estelar, por ser uma Illyrian. Em uma tentativa de encobrir seus erros e preconceitos, a Federação oferece um acordo de dispensa desonrosa para Una, com seus registros desaparecendo da história da Frota Estelar. A personagem decide negar o acordo e lutar na corte, arriscando-se a muitos anos de prisão. Para ajudá-la, o capitão Pike busca o auxílio de Neera (Yetide Badaki), uma advogada Illyrian e antiga amiga de Una, para assumir o caso.

A franquia Star Trek é conhecida por ter ótimos episódios de tribunal, então Ad Astra Per Aspera vem para se juntar à fila de clássicos. Desde que Una entrou em julgamento, estava esperando um episódio com essa abordagem, e SNW, mais uma vez, não decepciona. Gostaria de começar pontuando o visual retro que é dado para a corte de julgamento, bem como para o redesign dos uniformes, tudo meio anos 60-70, que, além de serem lindos, estabelecem uma aparência conservadora que se enquadra muito bem ao enredo do episódio. A direção de Valerie Weiss também é bem-composta, simples e eficiente, focando em estabelecer o cenário “frio” do tribunal e acompanhar os personagens durante o julgamento.

Ao longo da narrativa, somos imersos na discussão das leis da Federação contra modificações genéticas através do passado e presente de Una. Apesar do preconceito e marginalização da espécie Illyrian poder englobar metáforas para diversas minorias, a alegoria é diretamente apontada à comunidade LGBTQ+, mais especificamente aos transgêneros, mas, claro, também levantando algumas considerações sobre o conceito sci-fi de modificação genética, que é bastante controverso. Nesse sentido, é perspicaz como o roteiro consegue separar o social da ficção científica, com as críticas à discriminação da Federação não deixando espaço para argumentação, mas a modificação genética levantando discussões, inclusive no desfecho que não descarta a necessidade de analisar essas mudanças com cuidado, sempre com citações às Guerras Eugênicas.

A mensagem do episódio é clara, aberta e direta contra intolerância, perseguição, marginalização, exclusão, generalização, prejulgamento, conservadorismo social e afins. Não há muito espaço para sutilezas, até porque os discursos na corte são francos e muitas das vezes com viés de ataque, não de forma negativa, mas como manifestações. Confesso que tive alguns problemas com os temas do episódio serem tão óbvios, altos e jogados na cara da audiência, mas entendo a necessidade de se fazer um discurso mais direto como este, sem rodeios e sem espaço para ambiguidade.

A parte “jurídica” do episódio também me incomodou em alguns momentos, com alguns clichês e jargões de cenários como esse aparecendo a todo momento, mas nada que tenha muito demérito. É um típico episódio de tribunal, com depoimentos acalorados, advogados passando dos limites e um twist que vem na forma de uma brecha na Lei, valendo ressaltar o quanto a tecnicalidade de buscar asilo e ajuda na Federação demonstra a discriminação das leis contra os Illyrians e a beleza do retorno ao “básico” do que a Frota e Federação devem almejar defender. Os momentos de tensão, principalmente no depoimento de do Almirante April, elevam a cadência mais lenta e a narrativa fechada do capítulo.

Mas é a emoção que carrega o episódio. Dos flashbacks de Una até seu depoimento comovente, Rebecca Romijn nos brinda com uma grande performance, caracterizando os conflitos e traumas de uma personagem que foi oprimida e que busca aceitação no idealismo da Federação. A escolha do roteiro por trazer uma advogada que também é Illyrian e tem um passado complicado com sua cliente é extremamente assertiva, não apenas em termos de contenda dramática, mas porque o relacionamento das duas é a pedra angular de um episódio muito bonito sobre pertencimento. No fim, o caso individual de Una termina em um compromisso que não altera a Lei, mas que é o primeiro passo para uma trama que espero ser explorada na série. Ad Astra Per Aspera, enfim, não é um episódio sem defeitos, mas é uma excelente manifestação direta e sem floreios sobre direitos sociais do qual Star Trek sempre pôde se orgulhar de retratar.

Star Trek: Strange New Worlds – 2X02: Ad Astra Per Aspera (EUA, 22 de junho de 2023)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Valerie Weiss
Roteiro: Henry Alonso Myers, Akiva Goldsman
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Rebecca Romijn, Adrian Holmes, Yetide Badaki, Melanie Scrofano
Duração: 62 min.

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