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Crítica | Fear the Walking Dead – 8X05: More Time Than You Know

Mo, a guerreira.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Chega a ser irônico e sintomático de algo maior que o melhor episódio da temporada até agora seja o único que não foi escrito pela dupla de showrunners. Afinal, More Time Than You Know é o primeiro episódio do derradeiro ano da série que não só não se vale de segredos tão bem guardados que são revelados nos minutos finais, como consegue ser também o primeiro a conseguir manter seu foco em sua história principal, sem maiores desvios narrativos só para aumentar sua duração ou para dar espaço a quem não deveria ganhar nenhum. Aqui, o foco permanece em Grace e na luta para salvar ou ao menos alongar a vida dela com o tratamento experimental anti-zumbificação que Shrike e seu irmão cujo nome não lembro mais obrigam que June implemente.

E, com isso, mais ou menos como aconteceu em King County, não quero de forma alguma dar a entender que estamos diante de um suprassumo de episódio. Nada disso. Mas ele é bom e, para variar, não com viés de baixa como o anterior, mas sim aquele clássico “ok” que, exatamente por estarmos diante de uma situação teledramatúrgica de beggars cant’s be choosers ou, em um ditado equivalente em português, de “para quem tem fome não há pão duro”, acaba ganhando destaque e dando a impressão de que é melhor do que realmente é.

Grace, além de estar morrendo de câncer em decorrência da radiação que absorveu, também está morrendo porque foi mordida por um desmorto que surgiu do nada ao final do capítulo anterior. Como o tratamento de June parece ter dado certo com Finch, filho de Dwight e Sherry, a dupla Mo + Mo parte em desesperada missão para levá-la até o vagão de trem que faz as vezes de clínica experimental que faria Josef Mengele salivar de felicidade. Mas, claro, os PADREanos estão atrás dos três, ainda que Dwight e Sherry estejam ajudando a despistá-los. Esse é o coração do episódio e, o que antes parecia um exagero – a “dupla morte” de Grace – leva a uma discussão interessante que o roteiro de David Johnson e Calaya Michelle Stallworth trata de abordar e que é uma questão que não exige o apocalipse zumbi para que a tenhamos já que estamos, todos nós, constantemente mais próximos de nossa própria morte: até que ponto vale adiar o inevitável?

O vagão de trem está em lugar escondido por Shrike que, por sua vez, usa isso para forçar Morgan a fazer um pequeno favor para ela, ou seja, liberar, sem o uso de armas de fogo, o acesso aos contêineres de seu pai que estão cercados por milhares de zumbis. O dilema inicial, então, é se é razoável arriscar algumas vidas não para salvar, mas apenas para adiar por alguns meses a morte de uma única pessoa. Trata-se de um preço alto que Morgan, claro, está disposto a pagar, mas que Daniel, a quem ele pede ajuda, é categórico ao negar na primeira vez em muito tempo que vejo um personagem tomar uma decisão sensata nessa série.

O segundo dilema é a própria extensão da vida de Grace. Seria melhor aproveitar as últimas horas junto de seu marido e filha no lugar em que ela construiu um utópico futuro pós-PADRE ou arriscar a cura incerta para a zumbificação? O desespero da pequena Mo é palpável e tocante se, depois de sofrermos decepção atrás de decepção em Fear the Walking Dead, conseguirmos tirar essa casca de cinismo que naturalmente construímos. A menina está sofrendo por ganhar sua mãe de volta e, ato contínuo, ter a chance de perdê-la. Para ela, qualquer minuto a mais ao lado de Grace é uma dádiva e ficar parada esperando a morte da mãe simplesmente não é sequer algo que ela possa levar em consideração.

E o melhor é que os roteiristas são brutais aqui. Nada de cura. E olha que eu cheguei a achar, por alguns minutos, que a febre começaria a milagrosamente baixar. Quando Grace finalmente morre e a filha não consegue impedir sua transformação em desmorta, confesso que fiquei estranhamente feliz, pois vi, nessa sequência, um semblante do que FTWD poderia ter sido em mãos mais hábeis e que, tenho que ser justo, até conseguiu ser por brevíssimos momentos. Claro que Morgan salvaria a filha no último segundo – seria cruel demais da conta a repetição do que aconteceu com seu primeiro filho -, mas essa previsibilidade foi bem trabalhada pela direção de Heather Cappielo ao fazer algo simples, mas que há muito tempo também não via, que é uma luta mais alongada entre um humano desarmado (e não só um humano como uma menina de nove anos) e um adulto zumbificado.

Incomodou, porém, o grau de maturidade da menina. Tudo bem que ela foi criada sem os pais para ser uma “guerreira” de PADRE, mas creio que sua caracterização ultrapasse todos os limites do razoável, pois vamos combinar que ela ainda é uma criança pequena. O que ela faz, aqui, vai de desobedecer o pai para levar a mãe até o vagão, peitar seus colegas de ilha com argumentos lógicos e muita coragem, manipular aparelhos médicos apensa com June dizendo o que ela tinha que fazer via rádio e, ao final, salvar o pai ao liderar o grupo de jovens até o local dos contêineres. Tem muito adulto que passou 10 anos lutando nesse mundo devastado que não é capaz de um décimo do que a jovem fez só aqui neste episódio.

Também não faz sentido lógico algum Shrike simplesmente aceitar que a pequena Mo lidere seus colegas para se livrar dos milhares de zumbis, pois ela queria Morgan justamente porque ele era dispensável. E a burralda, pelo visto, não consegue perceber que está deixando uma líder nata (ainda que de nove anos) amealhar o seu próprio exército, o que certamente virará o jogo na segunda metade da temporada. Mas, claro, não podemos esperar muito de Shrike, não é mesmo? A suposta vilã até agora não mostrou a que veio nem em atitude, nem em capacidade de liderança e muito menos no uso da lógica.

E é por isso que More Time Than You Know, que tinha potencial para ser muito melhor em outras circunstâncias, acaba suportando o ônus do que veio antes na temporada (e na série, se quisermos ser chatos) e perdendo vários pontos no processo. Mesmo assim, ele se segura bem por ter o primeiro roteiro que não parece ter sido escrito no automático. Não que eu tenha esperanças de que esse seja o padrão daqui em diante, mas é bom às vezes se deparar com algo verdadeiramente promissor em um mar de mesmices.

Fear the Walking Dead – 8X05: More Time Than You Know (EUA, 11 de junho de 2023)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Heather Cappielo
Roteiro: David Johnson, Calaya Michelle Stallworth
Elenco: Lennie James, Karen David, Austin Amelio, Christine Evangelista, Zoey Merchant, Jenna Elfman, Rubén Blades, Maya Eshet, Jayla Walton, Gavin Warren
Duração: 47 min.

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