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Crítica | Citadel – 1ª Temporada

É para levar a sério?

por Ritter Fan
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Tenho sérios problemas com obras que artificialmente forçam suas assinaturas visuais antes mesmo de criar interesse genuíno por elas. Citadel tem, como marcas visuais, as cenas que começam de cabeça para baixo com a câmera então lentamente girando em seu eixo e fazendo travelling até restaurar a normalidade e o desfoque da moldura da tela. No lugar de estilo, tudo o que via quando isso acontecia era a tentativa patética de a produção dar um ar de sofisticação à série que acabou tendo, para mim, o efeito contrário, muito mais afeito a algo como esnobismo visual do que algo realmente cativante.

Mas, na medida em que a aposta de 300 milhões de dólares de produção executiva dos Irmãos Russo progredia, comecei a entender bobagens como as que descrevi acima como se Citadel fosse uma paródia de filmes de espionagem, notadamente os da franquia 007. Só que nem isso a série é. Ela está mais para uma versão live-action de Team America: Detonando o Mundo, só que sem o charme do uso das marionetes e sem o escracho total. Pior ainda: Citadel se leva a sério sem perceber o ridículo que é, especialmente se pensarmos que esse é, ao que tudo indica, o começo do autodenominado “Spyverse” dos Russos (algo indiscretamente inserido em letras garrafais quando a temporada inaugural acaba), com direito a spin-offs já programados que serão produzidos em diversos países diferentes, o primeiro deles sendo a Itália.

E é talvez por estar mais preocupada em construir o começo de um universo expansivo que o primeiro ano de Citadel tem sérios problemas, a começar de identidade, já que os seis razoavelmente curtos episódios que o forma parecem mais um apanhado de clichês de filmes e séries do gênero que são usados com tanta frequência e de maneira tão genérica, que eles atropelam o fiapo de roteiro e, principalmente, o desenvolvimento dos personagens. Fica ridiculamente evidente desde os segundos iniciais que a dupla principal de superespiões da agência do título, Mason Kane e Nadia Sinh, não passam de recortes em cartolina do que deveriam ser personagens por quem o espectador deveria torcer ou, pelo menos, preocupar-se. Mas não. O que a produção faz é transformar Priyanka Chopra Jonas em uma femme fatale e Richard Madden em um galã invencível, mas com coração, dois arquétipos básicos que em nenhum momento parecem naturais para os atores.

A premissa é simples: a agência Citadel é traída e seus agentes são assassinos por todo o mundo, com apenas Kane e Sinh aparentemente sobrevivendo, só que desmemoriados depois de uma sequência de ação em um trem na Itália. Oito anos se passam e, localizado pelo gênio tecnológico Bernard Orlick (Stanley Tucci sempre simpático, mas também sempre Stanley Tucci), Mason é “reativado” e, valendo-se apenas de seus super-reflexos que a memória apagada não eliminou, ele passa a ser o que era antes de imediato e sem titubear, deflagrando, então, uma sucessão de acontecimentos explosivos. Não é uma história particularmente original, mas ela tem seu valor, claro, ainda que não se ela existir – como é o caso aqui – somente para permitir uma sequência de revelações e reviravoltas no presente e em flashbacks que nos dizem que nada é o que parece ser (obviamente) e tentam responder a pergunta “quem é, afinal, o traidor?” (que o espectador adivinhará logo de cara).

Em outras palavras, Jonas e Madden não passam de atores-marionetes vivendo personagens rasos como o proverbial pires que, no agregado, passam menos emoção e credibilidade em tela do que as efetivas marionetes do citado longa de Trey Parker. Entre armas mortais com nomes “bacanudos”, gadgets variados que vão desde uma maleta capaz de achar todos os espiões sobreviventes da Citadel até botas que se transformam em esquis, vilões totalmente vilanescos e mocinhos de moral dúbia para manter o espectador no jogo de adivinhações e sequências de ação que esgarçam o conceito de inverossimilhança, Citadel é uma inadvertida comédia que até consegue divertir o espectador com nível de exigência lá no chão ou se ele estiver com humor perfeito para algo desse nível.

E não é que Citadel seja terrível, vejam bem. Mas, dentre as ofertas do gênero por aí, essa é uma das mais sem graça e menos especiais, mesmo que venha acompanhada de uma campanha de marketing que afirma e reafirma que estamos diante apenas da ponta do iceberg de um fascinante e mirabolante novo universo compartilhado. No mínimo dos mínimos, se conseguirmos passar por cima das bobajadas visuais esnobes com que abri a presente crítica, Citadel tem a vantagem preciosa de não exigir muito investimento de tempo do espectador. E nenhum de massa cinzenta, aliás…

Citadel – 1ª Temporada (EUA, de 28 de abril a 26 de maio de 2023)
Criação: Josh Appelbaum, Bryan Oh, David Weil
Direção: Newton Thomas Sigel, Jessica Yu
Roteiro: David Weil, Bryan Oh, Melissa Glenn, Josh Appelbaum
Elenco: Richard Madden, Priyanka Chopra Jonas, Ashleigh Cummings, Roland Møller, Osy Ikhile, Caoilinn Springall, Lesley Manville, Stanley Tucci, Moira Kelly, Timothy Busfield, Nikki Amuka-Bird
Duração: XXX min. (seis episódios)

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