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Crítica | Os Garotos do Massacre (Violência Nua)

Criminosos menores de idade.

por Luiz Santiago
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Os Garotos do Massacre foi o primeiro mistério dirigido pelo cineasta Fernando Di Leo, que futuramente se tornaria uma referência no gênero de longas policiais e investigativos italianos, o poliziotteschi. Lançado em 30 de dezembro de 1969, o longa acompanha um grupo de jovens delinquentes em idade escolar, que cometem um crime violento (estupram e matam uma professora, em plena sala de aula) e passam a ser investigados pela polícia. De maneira crua e direta, o diretor trabalha com a conhecida tese social da “escola do crime“, enxergando em certos grupos sociais uma conjunção de oportunidades (e também a falta delas, noutros espaços) que levam tais indivíduos, com idade cada vez menor, ao tráfico e a outras modalidades de delinquência. Ainda no contexto dessa abordagem, temos a prevalência de uma lealdade e um silêncio amedrontado por parte dos suspeitos, que temem muito mais os chefões fora da cadeia do que a polícia e a própria lei.   

Uma geração perdida, sem valores ou propósito e que tem a violência, os vícios e a prostituição como formas recorrentes de expressão, acaba sendo a linha discursiva que perpassa o filme, à medida que vemos a polícia tentar chegar a uma resposta definitiva e levar à justiça o estuprador e assassino da professora. Fernando Di Leo traz à discussão uma problemática que também ganha voz em nossos dias, questionando o sistema legislativo e judiciário do país por dar maiores liberdades a menores infratores, permitindo com que sejam usados por bandidos experientes — afinal, “menores de idade não podem ficar presos por muito tempo e não podem ser maltratados“. Não existe, contudo, um juízo de valor por parte da direção. O cineasta apenas reforça esse discurso porque o roteiro constrói o personagem de Pier Paolo Capponi (o policial protagonista) desta forma, mas não há um clamor violentamente punitivo, e a todo custo, estampado no filme.

O uso da trilha sonora e dos cortes secos entre cenas para mostrar o rosto dos adolescentes é imensamente poderoso, dando o impacto dramático necessário para que a desconfiança e a indicação de perigo sejam imediatamente intuídas pelo espectador. Como estamos diante de um filme de investigação policial (com algumas pitadinhas de giallo), há uma dose constante de suspense diluído em cenas com interrogatórios, perseguição e, no final da obra, com a tentativa de convencer o jovem Carolino Marassi (Marzio Margine) a entregar o autor do crime. Tanto o trabalho de engrandecimento da trilha sonora, como a edição inteligente assinada por Amedeo Giomini, conseguem um resultado elogiável, criando um padrão que amadurece no desenvolvimento da fita e serve de aviso para que se saiba qual encadeamento a obra terá a partir de determinada cena.

A decepção com o compasso do filme aparece no desfecho, quando a explicação da motivação e a própria revelação do assassino ocorrem. Este é o tipo de obra que se beneficia muito mais do mistério e do desenvolvimento, do que da revelação daquilo que estava oculto. Mesmo não sendo uma revelação ruim, ela carece de pelo menos uma cena de ligação no flashback, onde se explica o momento de interação dos estudantes (e cúmplices) com o real assassino, e de uma construção dramática mais criteriosa nas últimas falas. Há uma toada moral e mais uma crítica direta aos rumos da justiça (que julgaria o assassino como um desequilibrado mental e emocional, mantendo-o preso por um tempo, mas depois o soltando-o) e um lamento amargurado do protagonista que, mesmo “vencendo” a guerra, tem a noção de que neste caso, todos saíram perdendo.        

Os Garotos do Massacre (I ragazzi del massacro / Naked Violence) – Itália, 1969
Direção: Fernando Di Leo
Roteiro: Fernando Di Leo, Nino Latino, Andrea Maggiore (baseado na obra de Giorgio Scerbanenco)
Elenco: Pier Paolo Capponi, Nieves Navarro, Marzio Margine, Renato Lupi, Enzo Liberti, Giuliano Manetti, Danika La Loggia, Anna Maria La Rovere, Flora Carosello, Jean Rougeul, Ettore Geri, Ada Pometti, Federico Mecca, Gabriella D’Olive
Duração: 92 min.

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