Não chega ser um movimento empolgante como se pensa, mas diferente do cenário televisivo e nos cinemas quando Teen Wolf estreou na MTV, Jeff Davis embarcou na nostalgia precoce não apenas para lançar um enorme filme para continuar a história de Scott McCall, porém, também, emplacar uma nova série com tema semelhante a uma de suas criações mais longínqua: lobisomens. Se O Garoto do Futuro serviu de inspiração para o show estrelado por Tyler Posey, Davis agora se baseia no livro de Edo van Belkom, Wolf Pack, e apresenta a atração homônima que, sem muito apelo, se esconde na sombra de querer ser o novo guilty pleasure sobre lobos adolescentes para o público jovem.
Ao menos, pelo fato de conseguir juntar Sarah Michelle Gellar e Rodrigo Santoro na produção — o que foi o motivo mais chamativo — Davis teve um chamariz vantajoso para atrair audiência, uma vez que conta com um elenco desconhecido para dar vida ao quarteto de protagonistas que irá formar o bando do título, e bem, Tyler Lawrence Gray se mostra uma das escolhas mais interessantes enquanto Davis quer vender um mistério como plano de fundo maior do que o típico drama adolescente que se desenrola para os personagens principais.
A escolha de manter o foco maior no mistério sobre um incêndio florestal despertar a fúria de uma criatura que se escondia, é o que aponta para o possível potencial que Davis deseja explorar, sobretudo, quando esse é o artifício para se criar um interesse mínimo na elaboração do universo proposto. É evidente que o autor tenta dar forma a como o tom sobrenatural é abordado na série — bizarrice visual e alucinações que se sobrepõem à realidade — contudo, o maior desafio de Wolf Pack é convencer sobre suas ideias, e que há muito mais para ver do que um horror adolescente, com pitadas de romance adolescente, com adolescentes contemplados com habilidades sobrehumana…
Chega a parecer uma pretensão oca de Davis em tratar a premissa como se fosse uma Teen Wolf que se leva mais a sério antes de mostrar as verdadeiras garras, ao menos, o mistério em Beacon Hills tinha o carisma inconsciente do elenco enquanto também assumia ser uma releitura trash, mas aqui Gellar e Santoro detém o senso de seriedade que a série pede para vista como sua maior qualidade, ao tempo que seus personagens soam maiores do que Davis conseguiu integrá-los à trama. À medida que um incêndio consome as florestas da fictícia Grey Lakes, se torna uma ironia como nada nunca está queimando em Wolf Pack, além das próprias promessas que se perdem nas fumaças.
A premissa em Teen Wolf era de simplesmente transpor um coming of age com toques de terror do que a comédia no filme estrelado por Michael J. Fox, e a releitura foi progredindo até se encontrar na abordagem sobrenatural e mitologia, aqui, Davis quer alusões mais dramáticas ao cerne de “jovens lobos se acolhendo como um bando”, o que é entendido nas linhas dos dilemas superficiais dos personagens: Blake, a garota com espinhas e com a versão a internet e dispositivos tecnológicos; Everett, o garoto que sofre de ansiedade e constantemente explana um termo e técnicas diferentes ligadas à doença; Luna a garota que nunca teve um grupo de amigos, e Harlan, a exceção ao trio apático e que consegue ter um desenvolvimento longe da impressão de que o show “está refletindo sintomas comuns da adolescência”.
O personagem vivido por Lawrence Gray consegue impactar o grupo de maneira mais palpável e divertida, e são nesses momentos que Davis não deixa de fazer acenos a Teen Wolf no humor e até em como o sobrenatural é trabalhado, o que faz de Wolf Pack apenas uma promessa do que poderia ter sido: um thriller dramático sobre lobos adolescentes, mas Davis se prende em usar de um estilo passado e se esquece de explorar o que daria personalidade a série, enxergar que uma trama teen com lobos tem seu próprio código e não que é uma tentativa de emular um programa ruim que amadureceu, mas aqui conseguindo começar de uma maneira muito pior.
Quando Gellar e Santoro estão em cena parecem ser de um show totalmente a parte ao que a série tenta construir sem nunca definir uma identidade, preferindo forjar uma seriedade rasa nas proposições. Da mesma forma, quando o inevitável dilema da licantropia com a chegada da lua cheia serve para revelar o desejo retraído entre os adolescentes com um humor autocontido que poderia ser o tom fixo da série — e a absurda cena da piscina o momento mais genuíno — ou no que usa um artifício semelhante na manipulação das cenas, com a equipe criativa brincando com as impressões do telespectador com longas sequências de alucinações com imagens provocativas, que vão desde o terror sobrenatural ao gráfico numa montagem que sobrepõe os planos. São nuances que funcionam (principalmente nas aberturas dos episódios, com o uso do suspense) embora o ápice do mistério seja promissor e sem o clímax necessário, mas também são demonstrações de que Davis só queria qualquer desculpa para exercitar o estilo de Teen Wolf — com o mistério sendo algo semelhante a segunda temporada, e o episódio final um exemplo evidente desse exercício.
Não restam dúvidas que essa não é uma série derivada — o que se confirma com a presença de um velho membro interpretando um personagem novo — e que anseia criar seu próprio bando numa mitologia que se revela mais inteligente do que a trama autosabota, porém, Jeff Davis precisaria largar o osso e os maneirismos de que só sabe fazer Teen Wolf, se quiser emplacar Wolf Pack como algo além de uma série adolescente com Santoro e Gellar no elenco.
Wolf Pack – 1ª Temporada (EUA, 2023)
Criação: Jeff Davis
Roteiro: Jeff Davis, Emily Eslami, Carlos Foglia, Krystal Houghtom Ziv, Sean Crouch, Alessandra Jara Del Castillo
Direção: Joseph P. Genier, Christian Taylor, Jeff Davis, Katie Eastridge, Mike Elliott, Jason Ensler
Elenco: Armani Jackson, Bella Shepard, Chloe Rose Robertson, Tyler Lawrence Gray, Sarah Michelle Gellar, Rodrigo Santoro, Lanny Joon, Rio Mangini, Zack Nelson, Chase Liefeld
Duração: 430mim (8 episódios, de 53 min cada)