A presente lista tem por objetivo classificar os 10 melhores gialli da década de 1960, que foi quando tudo começou. Claro que esta é SEMPRE uma tarefa ingrata e bastante pessoal, portanto, havendo discordâncias com as escolhas abaixo, basta usar a educação e fazer o seu próprio comentário, listando os longas que constam na sua lista.
Também é importante ressaltar que estamos falando de um gênero cuja definição, especialmente em seus primeiros anos, é bastante volátil e dúbia. Assim, muitos filmes que podem ser considerados gialli para alguns críticos e estudiosos, não são considerados gialli para outros, o que também é algo normal, acontece com praticamente todas as escolas estilísticas do cinema.
Caso você tenha dúvidas sobre quais os filmes que EU considero como gialli nesta década, basta clicar aqui. Na aba dedicada aos anos 60, você verá todos os longas que eu considero gialli no período entre 1963 (ano de origem do gênero) e 1969. Além de estarem todos listados neste especial, você encontrará críticas completas para todos eles. Basta clicar nos links para ter acesso. Boa leitura e bons filmes!
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10. A Garota Que Sabia Demais (Olhos Diabólicos)
La Ragazza Che Sapeva Troppo | Mario Bava | 1963
Entre o primeiro filme que Mario Bava assinou sozinho a direção (A Maldição do Demônio) e este A Garota Que Sabia Demais (1963), houveram dois outros longas-metragens solo em seu currículo: Hércules no Centro da Terra e A Vingança dos Vikings, ambos de 1961. Para seu projeto seguinte, o diretor investiu um bom tempo de pesquisa a fim de conseguir algo novo, tanto em forma quanto em conteúdo, o que acabou dando os frutos esperados, mesmo que muitos anos depois: A Garota Que Sabia Demais detém hoje o título bem pouco disputado de marco zero do giallo nos cinemas.
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9. O Terceiro Olho
Il Terzo occhio | Mino Guerrini | 1966
Embora haja uma famosa indicação de que este filme foi inspirado no serial killer Gilles de Rais (assassino francês que provavelmente inspirou Perrault a criar Barba Ruiva), isto não é verdade. Trata-se apenas de uma afirmação marqueteira. O roteiro de O Terceiro Olho foi escrito por Mino Guerrini (também diretor do filme) juntamente com Gilles De Reys, Piero Regnoli e Phil Young (pseudônimo do produtor Ermanno Donati), sendo um dos gialli da primeira fase do gênero a verdadeiramente caprichar na violência, mudando os estilos de crime — inclusive com uma cena inspirada em Psicose — e trabalhando o motivo através de uma linha psicológica.
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8. Seis Mulheres Para o Assassino
Sei Donne Per L’Assassino | Mario Bava | 1964
Muito antes de Jason afiar o seu facão nas numerosas incursões da franquia Sexta-Feira 13, o cineasta Mario Bava lançou o que alguns especialistas consideram como as bases do subgênero giallo: Seis Mulheres Para o Assassino, um frenético e deslumbrante horror com mortes sangrentas e bastante sensualidade. Com roteiro assinado por Mario Bava, Giuseppe Barilla e Marcelo Fondato, o filme nos mergulha no mistério acerca do assassinato da modelo Isabella (Francisca Ungaro). Antes de encontrar violentamente a morte, a moça trabalhava no ateliê da condessa Cristina (Eva Bartok) e Max Marian (Cameron Mitchell).
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7. Libido
Libido | Ernesto Gastaldi e Vittorio Salerno | 1965
Filme da fase inicial dos gialli na Itália, Libido (1965) é uma mistura de ideias psicanalíticas não muito bem aproveitadas pelo roteiro, com ganchos dramáticos inspirados em As Diabólicas (1955) e O Poço e o Pêndulo (1961). Dirigido por Ernesto Gastaldi e Vittorio Salerno, o filme, que foi rodado em 18 dias, conta a história de Christian (Giancarlo Giannini), que retorna à casa onde viveu sua infância e onde sofreu o trauma que o marcou pela vida toda: o flagra do pai que acabara de matar uma de suas amantes em um quarto cercado por espelhos.
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6. O Telefone (As Três Máscaras do Terror)
Black Sabbath – I Tre Volti Della Paura | Mario Bava | 1963
A unidade, aqui, vem inicialmente por um grande cuidado da direção de fotografia, que é assinada por Ubaldo Terzano (que trabalharia com o diretor outras três vezes: em O Chicote e o Corpo, em Seis Mulheres Para o Assassino e em A Estrada Para o Forte Álamo), mas Bava, que já vinha em uma longa caminhada nessa função, também foi responsável pela iluminação de inúmeras sequências da obra, o que ajuda a explicar o belíssimo e gótico exagero de cores que ele imprime aos curtas, especialmente no segundo e no terceiro, que são os mais bem polidos da trilogia. No caso do primeiro, O Telefone, temos o único giallo do grupo, com direito a reviravolta no final e uma paleta de cores em tons térreos que é muito bem trabalhada, e que serviu perfeitamente ao ambiente sufocante de uma mulher ameaçada de morte por um ex-parceiro recém fugido da prisão. O final não é exatamente aplaudível, porque falta fôlego dramático (sem trocadilhos), mas certamente deixa impressa a sua marca como um exemplar do giallo.
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5. O Louco Desejo
Orgasmo | Paranoia | Umberto Lenzi | 1969
Em O Louco Desejo (originalmente intitulado Orgasmo, mas para confundir a vida do espectador, o longa recebeu o título de Paranoia, nos Estados Unidos) temos a primeira parceria cinematográfica entre o diretor italiano Umberto Lenzi e a atriz estadunidense Carroll Baker. Juntamente com os títulos Tão Doce Quanto Perversa (1969) e Os Ambiciosos Insaciáveis (Paranoia, no original — e aqui já se percebe a confusão normalmente feita entre esses filmes do diretor) o presente projeto forma uma espécie de trilogia informal, unida pelo gênero, o giallo, e por uma maneira particularmente cruel de o diretor tratar sua personagem principal. Em O Louco Desejo existe uma mistura de conflito ideológico de gerações, sadismo, libido exacerbada, golpe jurídico e assassinato, onde alguém faz de tudo para tomar posse da fortuna deixada por outrem.
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4. A Mulher do Lago
La Donna del Lago | Luigi Bazzoni e Franco Rossellini | 1965
Primeiro longa-metragem de Luigi Bazzoni e único filme dirigido por Franco Rossellini, A Mulher do Lago é uma adaptação da obra de Giovanni Comisso, livro originalmente publicado em 1962. Aqui, acompanhamos o escritor Bernard (Peter Baldwin) chegar a uma cidade com o objetivo de escrever o seu próximo romance. Sua estadia no local é parte de um processo recorrente de escrita, de modo que ele sempre fica no mesmo hotel e conhece relativamente bem o proprietário e as camareiras do local. Ocorre que, desta vez, sua estadia não será igual às outras e Bernard terá muito mais para se preocupar do que com a escrita de seu novo livro.
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3. Uma Sobre a Outra
Una Sull’altra | Lucio Fulci | 1969
Levemente inspirado em Um Corpo que Cai, de Hitchcock, Uma Sobre a Outra marcou um importante momento de virada na carreira do diretor Lucio Fulci. À parte o drama Gli Imbroglioni (1963) e o western spaghetti Tempo de Massacre (1966), o cineasta construiu sua carreira assinando comédias, de modo que é bastante impressionante a sua passagem de gênero tecnicamente tão apurada como a que vemos neste giallo de 1969, obra que segue excelente do seu início até sua meia hora final, momento em que vemos uma escalada impressionante dos pontos negativos da fita e consequentemente, sua progressiva queda de qualidade.
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2. Uma Hiena no Cofre
Una Jena in Cassaforte | Cesare Canevari | 1968
Filmes sobre criminosos possuem um charme canalha que encanta a maioria dos espectadores. Quando realizadas por diretores competentes, essas obras erguem um suspense que se fortalece muito no desenvolvimento, e mostram as várias brigas internas do grupo de criminosos em questão. Isso abre portas para um momento dramático que, a princípio, não necessariamente tem a ver com o roteiro, mas que aparece como um elemento bem-vindo na história: o crime entre criminosos. No caso de Uma Hiena no Cofre, lançado em 1968, essas contendas se inserem em um giallo grandiosamente estiloso, assinado por Cesare Canevari, garantindo-nos diversão do começo ao fim.
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1. Um Lugar Tranquilo no Campo
Un Tranquillo Posto di Campagna | Elio Petri | 1968
Existe um fascínio indescritível em relação à figura de um artista atormentado por alguma coisa. Obras dessa categoria costumam mesclar com intensa dose de confusão (e isso não necessariamente quer dizer algo negativo) o olhar do indivíduo atormentado com a realidade que cobra dele alguma coisa. Esse tratamento pode ser dado de forma secular, com um tormento ligado à dubiedade perceptiva — pessoal e social — e flertando com o suspense, como Antonioni fez em Blow-Up; ou de forma mais “espiritual”, com um tormento ligado à condução do indivíduo para um mundo cada vez mais sombrio, que o afeta e tende a destruí-lo impiedosamente. Este último caso nós vemos de maneira primorosa em A Hora do Lobo, de Bergman, e aqui neste giallo de Elio Petri intitulado Um Lugar Tranquilo no Campo (1968).