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Crítica | Jovens, Malvados e Selvagens

Matando aula adoidado.

por Luiz Santiago
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A pré-produção de Jovens, Malvados e Selvagens (um horrendo título em português, por sinal) foi marcada por mudança de diretor e redirecionamento de alguns caminhos do texto original, co-escrito por ninguém menos que Mario Bava. Aliás, ele é quem deveria guiar a obra, tendo sido convidado pelo produtor Lawrence Woolner, que distribuiu dois bavianos bem diferentes nos Estados Unidos: Hércules no Centro da Terra (1961) e o giallo Seis Mulheres Para o Assassino (1964). Em seu livro Mario Bava – Todas as Cores da Escuridão, o biógrafo e crítico Tim Lucas comenta que “pouco tempo antes do início das filmagens, [Mario] teve uma discussão com os produtores, e acabou abandonando o filme“.

Por conta dessa briga, a direção acabou nas mãos de Antonio Margheriti, um diretor menor, mas capaz de algumas boas ideias, que estreara atrás das câmeras em 1958, e até aquele momento vinha se tornando notável em gêneros como a ficção científica (talvez o seu mais conhecido nesse campo seja Esse Bravo, Selvagem e Violento Mundo, de 1963) e o terror, dentre os quais se destacam A Mansão do Homem Sem Alma (1963, com Christopher Lee no elenco), Dança Macabra (1964, juntamente com Sergio Corbucci) e A Máscara do Demônio (1965). Nessa nova empreitada, Margheriti tinha que fazer um giallo ambientado em uma escola para garotas ricas, com um texto repleto de piadinhas questionáveis e um elenco esquecível.

O curioso é que Jovens, Malvados e Selvagens tem uma baita abertura divertida, começando pela canção-tema que acompanha os créditos. Nightmare, interpretada por Rose Brennan, é uma composição engraçada, porque o coro que canta a palavra “nightmare” parece que está dizendo “Batman“, na exata mesma cadência e com notas que lembram, em tudo, a abertura da série do Homem-Morcego, de 1966. Essa canção vem logo depois de uma sequência que entrega, com certa competência, alguns bons elementos do giallo, como o assassino com luvas pretas e a morte de alguém com algum requinte de detalhe ou crueldade. Mas já aqui o espectador está diante daquilo que seria um dos maiores problemas do filme, mesmo que ainda de maneira suportável: a forma estéril como o cineasta filma os assassinatos.

Por mais que tente, Margheriti não consegue criar um único grandioso momento visual de morte, considerando a sequência do início ao fim. Cenas como a própria abertura do filme ou a de estrangulamento de uma das estudantes num porão (com uma ambientação gótica que é a cara de Mario Bava, deva-se dizer) possuem absolutamente tudo para serem boas. A fotografia é acertada, o encadeamento narrativo é propício para o crime, o público está tenso e atento, mas a direção não faz nenhum uso disso em seu benefício. Confesso que nunca vi cenas tão ruins de estrangulamento como as que estão aqui. A única morte que possui algum impacto é a de La Foret (Luciano Pigozzi, figurinha carimbada em gialli e única atuação da qual alguém possa, talvez, lembrar-se), um pervertido que termina com uma pequena foice no coração.

Em seu desenvolvimento, a obra foca muito na preparação de coisas que não dão em nada, o que faz o final ser ainda mais medíocre. Em sua estrutura geral, a obra diverte, porque dá a entender que está indo para algum lugar. Temos um baú misterioso que poderia gerar uma das coisas mais legais da fita, mas que acaba sendo uma “Arma de Tchekhov” usada de maneira pífia, sendo o caminho para entregar ao público o assassino, alguém “escondido à frente de todo mundo“; mas que ao revelar-se, parece um personagem completamente estranho ao enredo. Nem preciso dizer o quão ruim isso é para o desfecho.

É com essa revelação absurda, impulsionada por um motivo mais absurdo ainda, que as coisas interessantes da obra derretem, estacionando em uma mediocridade alarmante. E de brinde, o diretor nos entrega um final que parece zombar de 007 e que, além de confuso, não faz nenhum sentido para o filme. Nas mãos de Antonio Margheriti, tornou-se um projeto que incita a curiosidade do espectador, desejando saber o que acontecerá com o corpo escondido no baú; mas termina com uma estudante e escritora amadora de romance policial (a piscadela metalinguística é, até certo ponto, divertida), pulando nos braços de um “daddy” — que não sabemos se é o seu pai mesmo — e piscando para o detetive décadas mais velho, que ela tinha acabado de cantar. Fica difícil digerir bem um final assim.

Jovens, Malvados e Selvagens (Nude… si muore / The Young, the Evil and the Savage / Naked… you die!) — Itália, França, 1968
Direção: Antonio Margheriti
Roteiro: Antonio Margheriti, Giovanni Simonelli, Franco Bottari, Mario Bava, Brian Degas, Tudor Gates
Elenco: Mark Damon, Eleonora Brown, Sally Smith, Patrizia Valturri, Michael Rennie, Ludmila Lvova, Luciano Pigozzi, Franco De Rosa, Vivian Stapleton, Ester Masing, Aldo De Carellis, Giovanni Di Benedetto, Valentino Macchi, Umberto Papiri, Caterina Trentini, Silvia Dionisio, Lorenza Guerrieri, Malisa Longo, Paola Natale, Nando Angelini
Duração: 98 min.

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