Data Para um Assassinato (ou Omicidio per Appuntamento, no original) é um filme de espionagem, ação e intriga policial produzido pela Alemanha Ocidental e pela Itália, baseado no livro Tempo de Massacre, de Franco Enna. Na trama, dois amigos estadunidenses encontram-se por acaso, na zona rural italiana, e combinam de se ver em Roma, dias depois. Vince (George Ardisson) é um detetive particular/guarda-costas e Walter Dempsey (Hans von Borsody) é um químico. Essas informações nos são fornecidas nos primeiros minutos da fita, que já começa misturando o contexto pessoal dos personagens com suas funções, seus amores e o que eles devem ou não devem fazer na capital italiana mais adiante. Um ar de intriga e perigo se forma, e o público espera que o enredo desenvolva a contento essa situação, o que infelizmente não acontece. Pelo menos não de uma maneira que possamos chamar de “desenvolvimento“.
O que acontece, na verdade, é uma escalada caótica de eventos, que o roteiro de Fernando Di Leo, junto ao diretor Mino Guerrini (que trabalhou na escrita de A Garota Que Sabia Demais, em 1964; e em 1966 dirigira o giallo O Terceiro Olho) agrupa desordenadamente, dando a impressão de que a história central é a costura de pelo menos 10 curtas metragens editados de maneira aleatória. Há também um certo debate sobre a classificação da obra como um giallo, algo do qual discordo, em certa medida. É verdade que existe um flerte e uma inspiração clara do diretor com o gênero (o que não é de se espantar, uma vez que ele foi um dos roteiristas do primeiro giallo da História, e já tinha dirigido um!), mas Data Para um Assassinato é, no meu ponto de vista, muito mais um eurospy (ou spaghetti spy, como alguns críticos chamam) do que um giallo.
Aos trancos e barrancos, o diretor nos leva para Roma, onde vemos Vince perguntar pelo amigo em diversos lugares, sem conseguir encontrá-lo. Quando ele é atacado por alguns bandidos que tentam forjar sua morte, o público espera que o longa siga a pista de “um grande plot oculto“, onde coisas misteriosas envolvendo o velho amigo do detetive particular — que não é bem visto pela polícia italiana, representada pelo Comissário Silvio Giunta (Günther Stoll) — revelem-se compassadamente, garantindo alguns confrontos interessantes no meio do caminho. E para ser justo, encontramos alguns desses momentos junto a preciosismos visuais que podem gerar boas risadas, mas que são interessantes. A cena da melancia se espatifando no chão, para representar a queda de um homem do alto do prédio; ou um dos bandidos querendo atropelar Vince com a cadeira de rodas elétrica, são exemplos disso.
Mino Guerrini tenta executar o máximo dos absurdos estéticos que lhe vieram à mente. Existem cenas aqui que não fazem o menor sentido visual (a exemplo de um primeiro plano horrível nos pés de Vince, que está deitado, e a câmera mexendo para a direita e para a esquerda), mas o diretor insiste em colocá-las na tela. No meio de tanta inutilidade visual, ele captura bem a fuga de um suspeito pelos telhados, e acerta em pelo menos metade da sequência no matadouro (a única que eu realmente gosto, na obra), mas nada disso é colocado a favor da história a longo prazo, o que me faz voltar à aparência de vários curtas editados de maneira aleatória. Por incrível que pareça, ainda sobra uma história de amor que não chega a lugar nenhum, e o espectador não entende por que ela recebeu tanta atenção do diretor. Difícil sair dessa sessão com a cabeça no lugar. É tanta coisa sem sentido e é tudo tão atropelado, confuso, mal dirigido e editado, que nem sabemos direito em que lugar na nossa lista de “filmes ruins” a obra irá entrar.
Data Para um Assassinato (Omicidio per Appuntamento / Date For a Murder) — Itália, Alemanha Ocidental, 1967
Direção: Mino Guerrini
Roteiro: Fernando Di Leo, Mino Guerrini (baseado no livro de Franco Enna). Theo Maria Werner escreveu a versão alemã do roteiro, sob o pseudônimo de Werner Hauff.
Elenco: George Ardisson, Halina Zalewska, Günther Stoll, Hans von Borsody, Mario Brega, Cesarino Miceli Picardi, Luciano Rossi, Bettina Busch, Bodo Larsen, Peter Martell, Fanfulla, Bill Vanders, Aldo De Carellis, Rocco Lerro, Enrico Manera
Duração: 105 min.