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Crítica | A História do Mundo – Parte II

Mais de 40 anos depois...

por Ritter Fan
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Adoro Mel Brooks, mas talvez eu esteja entre a minoria que considera seu A História do Mundo – Parte I, de 1981, um de seus filmes menos inspirados. Sim, há sequências memoráveis e que marcaram os anos 80, mas o longa, como um todo, é repetitivo e cansativo. Seja como for, eis que, mesmo considerando que o Parte I foi colocado no título original como uma mera brincadeira de Brooks, que nunca verdadeiramente teve intenção de fazer uma continuação, a Parte II foi mesmo produzida nada menos do que 42 anos depois, só que na forma de uma série de TV de oito curtos episódios.

Talvez o formato televisivo tenha sido um dos fatores que tornaram esta Parte II mais palatável, ou talvez tenha sido mesmo a qualidade superior dos roteiros ou, claro, uma combinação das duas coisas, mas o resultado final da série ficou muito acima do longa oitentista, ainda que não seja nenhum suprassumo do humor. Estruturalmente, cada episódios é uma sucessão de esquetes – várias delas em diversas partes espalhadas ao longo da temporada – que lida com um determinado evento histórico ou figura histórica sem que haja qualquer preocupação com cronologia ou algo nessa linha, como o longa tinha. Lembra muito, mal comparando, a sensacional Monty Python’s Flying Circus, só que sem o altíssimo nível do que os comediantes britânicos fizeram entre 1969 e 1974.

Em termos de elenco, além de Mel Brooks, que serve como narrador – ou “leitor” de títulos para ser mais exato – e que aparece rejuvenescido por CGI no começo do primeiro episódio e no final do último, a série conta com um pequeno grupo fixo composto por Wanda Sykes, Nick Kroll e Ike Barinholtz que vive diversos dos mais importantes personagens e um grupo de apoio vasto para popular os esquetes, além de participações especiais de nomes famosos como Jack Black, Danny DeVito, David Duchovny, Josh Gad, Johnny Knoxville, Seth Rogen, Sarah Silverman e Taika Waititi espalhados aqui e ali. Faz parte da brincadeira, portanto, apontar para a tela e dizer algo como “olha lá o Johnny Knoxville”, por exemplo, até porque outra parte da brincadeira é o uso de filmes/séries de TV como Jackass para servir de inspiração para as histórias que são contadas.

Apesar de em nenhum momento a série ser brilhante em suas sátiras, há momentos decididamente inspirados como, por exemplo, transformar a Princesa Anastasia, a mítica única sobrevivente da Dinastia dos Romanovs, em uma infuencer e Galileu Galilei em um TikToker; Vātsyāyana fazer o pitch do Kama Sutra como um livro de culinária; Alexander Graham Bell recebendo o primeiro telefônico; os acordos de paz de Oslo serem minados pela incapacidade dos presentes em decidir em que país o húmus foi inventado; e, talvez o mais engraçado, uma representação ácida, mas provavelmente muito verdadeira do Concílio de Niceia que “formatou” a religião Católica como a conhecemos hoje em dia, e assim por diante. Das histórias recorrentes principais, nenhuma delas funciona o tempo todo, com a mais fraca sendo a de Jesus Cristo e seus discípulos fazendo as vezes dos Beatles, com a que acompanhamos a história de Ulysses S. Grant durante a Guerra Civil vindo apenas um pouco na frente. A transformação da corrida presidencial de Shirley Chisholm em uma sitcom setentista – “produzida diante de uma plateia preta ao vivo!” – talvez seja a mais inspirada piada recorrente, por não só nos relembrar sobre a personagem histórica, como também por lidar jocosamente com o escândalo Watergate e os movimentos sociais da época sem nunca deixar de parecer realmente um sitcom.

Como toda sucessão de esquetes, claro, a qualidade dos roteiros é repleta de altos e baixos, com os esquetes “soltos” ou, pelo menos, com recorrência menor, sendo consistentemente melhores do que os que permanecem da série quase do começo até seu fim. Mesmo assim, a escolha de se produzir uma série de TV e não um segundo filme foi muito acertada, pois não só permite mais variedade, como também menos investimento de tempo por parte do espectador caso esse ou aquele esquete não funcione bem para ele ou ela. A História do Mundo – Parte II, assim, consegue suavizar certos problemas do longa original e atualizar de maneira eficiente as gags narrativas para o século XXI, mas sem perder completamente sua estrutura clássica.

A História do Mundo – Parte II (History of the World, Part II – EUA, 06 a 09 de março de 2023)
Direção: Alice Mathias, David Stassen, Nick Kroll, Lance Bangs
Roteiro: Ike Barinholtz, Emmy Blotnick, Guy Branum, Mel Brooks, Owen Burke, Adam Countee, Lance Crouther, Ana Fabrega, Fran Gillespie, Janelle James, Jennifer Kim, Nick Kroll, Sergio Serna, David Stassen, Wanda Sykes
Elenco: Mel Brooks, Wanda Sykes, Nick Kroll, Ike Barinholtz, Jack Black, Danny DeVito, Ronny Chieng, Rob Corddry, David Duchovny, Hannah Einbinder, Jay Ellis, Josh Gad, Mary Holland, Jake Johnson, Johnny Knoxville, Richard Kind, Seth Rogen, Sarah Silverman, Taika Waititi, George Wallace
Duração: 215 min. (VIII episódios)

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