Nota da Temporada
Não acho que seja um exagero classificar a primeira temporada de The Last of Us como a melhor adaptação de games para o audiovisual. O jogos da franquia já têm uma qualidade cinemática que torna a transposição para as telinhas mais simples de ser realizada, principalmente em uma adaptação com tanta fidelidade, sendo que a história do jogo em torno do relacionamento de Joel e Ellie é de fácil envolvimento emocional. É um tipo de drama universal acessível para o público empatizar e simpatizar, algo comprovado pelo sucesso estrondoso que o ano de estreia tem recebido.
Isso não significa, porém, que a série é perfeita. O ritmo é problemático em muitos episódios, algo enfatizado pela falta de tensão ou senso de ameaça/urgência na forma que a trama foi produzida, principalmente quando nos tocamos da estranha ausência de infectados no percurso narrativo. Também penso que muitos núcleos foram mal explorados, seja pensando em mitologia, seja no desenvolvimento dramático da relação entre os protagonistas. É difícil tirar o sabor de que faltou algo especial na produção, que jogou seguro nos clichês de uma história bem estruturada, bem contada e bem conhecida em um contexto pós-apocalíptico.
Ainda assim, os deméritos partem mais de um campo sobre como a história pode ser comum e simples, do que necessariamente algum erro de criação e adaptação. É preciso ressaltar que o ordinário faz parte da força motriz de uma narrativa paciente e introspectiva, que prefere analisar os personagens, suas interações, o que eles perderam e o que ainda há de bonito no mundo, ao invés de terror e tripas a todo instante. É assim que conseguimos muitos momentos singelos num mundo destruído, apesar da série nunca cair numa cafonice que nega as catástrofes desse ambiente.
Na realidade, The Last of Us adora um soco no estômago e uma caminhada tênue entre moralidade e sobrevivência. Entre mortes, piadas, amor e traumas, tivemos uma temporada acima da média sobre o conto de Joel e Ellie. O seriado pode não ser perfeito ou tão diferente de outras obras do gênero, mas ele certamente tem uma qualidade de nos fazer importar por suas figuras e de nos fazer refletir a importância do que consideramos banalidades. Vejamos se a segunda temporada, assim como o segundo jogo, eleva a história para outro patamar.
Nessa lista, faço o meu ranking dos episódios, do pior para o melhor, todos com as devidas críticas indicadas para leitura mais expandida. Deixe você também nos comentários a sua lista e diga o que achou, em geral, desta temporada!
9º Lugar: Left Behind
1X07
Penso que é clichê e repetitivo dizer que falta “algo especial” numa obra artística, mas continuo me sentindo assim com a série. Muito do que vemos aqui é seguro e padrão, com o velho conto de perda num cenário de fim do mundo e também com a conhecida narrativa teen, mas tudo continua sendo muito bem produzido e bem conduzido. É difícil não se envolver emocionalmente com a história de Ellie e Riley. Como sempre, The Last of Us encontra um equilíbrio cruel entre ser bonito e melancólico, nos lembrando da importância de laços humanos ao mesmo tempo que não levanta ilusões sobre o cenário trágico que estamos acompanhando. Um flashback importante, Left Behind conta porque Ellie não pode deixar Joel para trás.
8º Lugar: Please Hold to my Hand
1X04
No cômputo geral, porém, Please Hold to My Hand é mais um episódio bem acima da média de uma série extremamente eficiente e bem produzida. Dar tempo para a conexão dos protagonistas era essencial, assim como preparar o terreno da segunda metade da temporada. Nesse sentido, o quarto episódio estabelece muita coisa, desde a dinâmica mais carinhosa dos protagonistas, seus passados misteriosos, temas sobre moralidade, um novo núcleo de personagens e, claro, um cliffhanger para nos deixar esperando o próximo capítulo.
7º Lugar: Kin
1X06
Com exceção do desfecho atabalhoado e irritantemente rápido, tivemos mais um episódio acima da média do seriado. Não assumam que estou reclamando de “falta de ação”, até porque aprecio Kin por ser efetivamente uma pausa narrativa depois de alguns obstáculos difíceis para nossos protagonistas, mas ficou faltando um toque de perigo na história e um roteiro com mais situações criativas para Joel e Ellie em sua road trip. Passando pelos problemas, há muito o que se apreciar em um episódio que desenvolve seus personagens com muita vulnerabilidade, atrito e afeição. No fim, Joel realmente é falho, como deveria ser.
6º Lugar: When You’re Lost in the Darkness
1X01
Já vi muita gente classificando o primeiro episódio de The Last of Us como obra-prima, mas discordo. Com todo respeito às opiniões, me parece uma comoção do tipo “melhor série de todos os tempos dos últimos cinco minutos” ou um carinho nostálgico de ver Joel e Ellie representados em tela. O que eu vi foi um início sólido, com boa apresentação de universo, de personagens e dramas empáticos, envoltos por uma direção eficiente, ótimas atuações e uma narrativa segura dentro de seu caráter introdutório. É um bom começo, sem dúvidas, mas veremos se alça mais do que isso.
5º Lugar: Long, Long Time
1X03
É uma história criada a custo de uma narrativa mais orgânica ou de mais tempo de desenvolvimento de Joel e Ellie? Com certeza. Chega a ser preocupante que Bill e Frank sejam mais carismáticos e curiosos do que Joel e Ellie neste ponto da série. Mas também demonstra que os criadores entendem o coração deste universo, em como a sobrevivência anda de mãos dadas com o vínculo entre pessoas e de como o final do mundo apenas joga luz no estado micro de laços humanos. No próximo episódio, porém, confesso que gostaria de ver mais da dupla principal.
4º Lugar: Look for the Light
1X09
Eu sei que reclamei muitas vezes da falta de tensão ou senso de ameaça da série, mas acredito que aqui funciona lindamente para representar as ações distorcidas e tênues de Joel. O segmento é corrido? De certa forma anticlimático? Sem dúvidas nenhuma. Poderíamos ter facilmente mais 15 ou 20 minutos de trama para explorar o núcleo, mas aprecio demais a abordagem da produção. É para isso que serve uma adaptação, não apenas mudando elementos de trama, mas também adicionando e alterando percepções de determinadas situações. O desfecho com a desconfiança de Ellie e as mentiras de Joel apenas consolidam o ato de um pai desesperado, que pode ter agido errado, mas nem sempre um ato de amor é heroísmo.
3º Lugar: When We Are in Need
1X08
No fim, entre algumas superficialidades, arquétipos e previsibilidades, tivemos um ótimo episódio sobre sobrevivência e sobre a ambiguidade nos atos dos personagens nesse tipo de cenário, assim como a demonstração dos monstros que florescem num mundo destruído. O trabalho dramático não passa de um ensaio sobre o estudo da natureza humana, mas há envolvimento emocional e tensão suficiente para entregar uma hora de grande entretenimento e evolução para a personagem de Ellie, dessa vez assumindo o papel de Joel – sempre ótimo em suas pequenas participações. The Last of Us já nos mostrou muitas vezes o que precisamos preservar quando nada mais importa, mas When We Are in Need é mais um dos socos no estômago da audiência de que ninguém saíra moralmente intacto. Ellie que o diga.
2º Lugar: Infected
1X02
No fim, acredito que tivemos um episódio mais conciso que o anterior, segurando uma qualidade de tensão e curiosidade no mundo aberto ao longo de toda a história. O grande mérito é realmente o foco nos infectados, na doença e na beleza aterrorizante desse mundo e seu antagonista perigoso. Não tenho comigo que a série fez o bastante para a despedida de Tess ser emocionalmente sentida pelo espectador, mas é um bom desfecho melancólico sobre sobrevivência e sobre a nova missão de um homem novamente quebrado pela morte.
1º Lugar: Endure and Survive
1X05
No fim, o núcleo que assistimos em Please Hold to My Hand e em Endure and Survive se torna uma trágica história com início, meio e fim, mas com um impacto dramático que será sentido por Joel e Ellie no restante das suas jornadas. Isto é tão interessante para mim, porque é uma das características que mais adoro neste material: tudo o que vimos se torna um “degrau” ou uma espécie de “parada” na trajetória dos protagonistas. Diferente de Bill e Frank, o conto de Henry e Sam não é sentido apenas pelo telespectador, mas por Ellie também. O relacionamento dos protagonistas é moldado pelos momentos banais que vimos no episódio anterior, mas também por esses traumas e aprendizados sobre resistir e sobreviver num mundo pós-apocalíptico. Afinal, o que chega mais perto de formar um relacionamento depois do amor senão a tragédia?