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Crítica | Filme Caseiro

A triste ruína de um recomeço.

por Felipe Oliveira
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Parte do que torna o subgênero do found footage um atrativo é por vender uma narrativa, aparentemente, que apresenta uma linha de acontecimentos crua por sua natureza, considerando o pressuposto de que são os últimos registros da história contada. Enquanto Cloverfield, o Monstro conseguiu trazer um frescor para o estilo fílmico em 2008, a estreia do ator e cineasta Christopher Denham como diretor e roteirista em Filme Caseiro se encaixava mais no efeito derivativo de A Bruxa de Blair, isto é, de longas fabricados sendo exibidos como peças únicas de eventos reais, mas que na ocasião aproveitava o estilo como abordagem para outra safra famosinha do cinema: a de crianças perversas.

Nesse molde, o filme não se afastava de trajetos repetidos para incrementar seu enredo; família que se muda, mas ao chegar ao novo lar se depara com algo estranho? Produções com pegadas sobrenaturais bem que conhecem esse mecanismo, mas para os Poe, se afastarem da cidade para uma casa isolada, visando desfrutar do ambiente no campo com os dois filhos, tinha tudo para dar certo, até se darem conta que os pequenos Emily e Jack exerciam um comportamento perigoso.

O ponto é que ter essa composição era mais pela falta de criatividade de Denham em propor elementos autorais a trama que tinha como tema o retrato de crianças com má índole. Posto isso, o que fazia de Filme Caseiro uma experiência perturbadora, era seu estilo de filmagem amadora, e ao menos Denham orquestrava um uso crível da abordagem na história, tendo por base a ideia de que o marido David (Adrian Pasdar) manipulava a câmera comprada para documentar o trabalho de psicologia da esposa Clare (Cady McClain) a fim de registrar os vários momentos da família para o futuro dos filhos.

Desviando de explicações e de uma estrutura convencional para expor a hostilidade das crianças, a direção criava uma atmosfera como se estivéssemos acompanhando os bastidores de uma convivência tóxica: sem uma configuração para justificar o porquê das crianças se portarem de tal modo, apenas testemunhamos o que havia de pior neles. Certo que utilizar o found footage era aplicado como aproximação de um registro o mais real possível, mas a intenção de Denham foi de criar um pseudo filme caseiro traçando ao longo de seis meses, o registro de festas, brincadeiras (marcados por feriados) formarem a prova de uma família disfuncional, moída aos poucos, enquanto o espectador assiste cada pedacinho angustiante desse relato.

O ápice eram os registros vistos ser só as filmagens que os pais fizeram, logo, os momentos que Emily e Jack premeditavam suas maldades ficaram em off aqui, tornando assim a surpresa dos pais ao fazer descobertas bizarras e revoltantes a mesma de quem assiste tudo do outro lado da tela. Em suma, a proposta de Denham era montar um experimento ao qual o objeto em análise se tratava da índole perversas dessas crianças, sendo as teses das possíveis discussões a perspectiva humana pelo viés da psicologia, profissão de Clare, a mãe e a perspectiva espiritual prisma impulsionado por David, o pai religioso. Contudo, enquanto conseguia justificar o uso da abordagem, não havia qualquer indício do que pretendia resumir ao colocar para reflexão os pensamentos divergentes de dois pais representando o conflito da ciência vs religião sobre seus filhos.

Faltou contextualizar uma inspiração para a escolha do tema, talvez de um caso famoso de dois pais que tentaram encontrar explicações para os comportamentos perversos e calculistas dos filhos, ou de simplesmente dois pais que relataram suas experiências e Home Movie foi a forma de Denham em propor uma perspectiva mesclando isso ao found footage. Mesmo sendo fraco em seu argumento, o longa, ao menos, foi um dos poucos que conseguiram usar o formato de maneira convincente dentro de sua narrativa perdida em várias intenções.

Filme Caseiro (Home Movie – EUA, 2008)
Direção: Christopher Denham
Roteiro: Christopher Denham
Elenco: Adrian Pasdar, Cady McClain, Amber Joy Williams, Justin Williams, Lucian Maisel
Duração: 77 minutos

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